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Conselheira que propôs cota de gênero no Bahia: "futebol é reduto machista"

Rebeca Bandeira (esq.) e Andreia Cerqueira lideraram inclusão de cota de gênero - Divulgação pessoal
Rebeca Bandeira (esq.) e Andreia Cerqueira lideraram inclusão de cota de gênero Imagem: Divulgação pessoal

Roberto Oliveira

Colaboração para o UOL, de Recife

14/06/2017 04h00

O Conselho Deliberativo do Bahia aprovou, no fim de semana passado, uma medida inédita. A partir das próximas eleições, as chapas concorrentes no pleito terão de inscrever pelo menos 20% de sócias mulheres como candidatas.

Em entrevista ao UOL Esporte, uma das duas conselheiras que propuseram o critério de cota de gênero, Andreia Cerqueira, 46, comemorou a aprovação inconteste da medida no Bahia. Para ela, o futebol ainda é um “reduto machista” e a novidade incitará a participação das mulheres no esporte mais popular do país.

“A repercussão foi muito boa. Não esperava que tivesse uma aceitação tão boa, tanto que me preparei para fazer uma defesa mais aguerrida, achei que fosse ter alguns questionamentos em relação ao percentual, então estou avaliando isso como muito positivo”, contou Andreia, sobre a reunião do Conselho que aprovou a reforma no estatuto.

“Pensamos nisso não só para o Conselho, mas também para o quadro de sócias, porque para se candidatar tem de ser sócia regular por pelo menos dois anos. Então, se cada chapa tem de ter pelo menos 20 % de mulheres, significa que a gente vai ter um quadro de sócias muito maior. Vai influenciar a participar mais ativamente da vida do clube, e isso traz um ganho de participação das mulheres em meio a esse meio machista que é o futebol”, explicou Andreia - falando na primeira pessoa do plural em referência a Rebeca Bandeira, a outra conselheira que encabeçou o projeto.

Teriam, então, matado dois coelhos numa cajadada só?

“A gente acabou matando três. A chapa, o quadro social e uma repercussão muito positiva. Como se fosse uma vanguarda, uma medida inédita, e isso é muito bom para as mulheres e para o clube, que é nossa paixão.”

‘Gostaríamos de não precisar das cotas’

A conselheira do Bahia, cuja gestão atual tem oito mulheres entre cem membros do Conselho Deliberativo, vê as cotas de gênero como uma medida paliativa.

“A gente gostaria de viver numa sociedade madura suficiente para não precisar de cota, obrigatoriedade. Mas não é isso que acontece, então decidimos lançar mão [do critério] para garantir o mínimo de democracia.”

Andreia conta que a porcentagem atual de representantes femininas, 8%, já chamou atenção na eleição da chapa, em 2014. Mas que quando surgiu a possibilidade de reformar o estatuto, ela e Rebeca Bandeira pensaram: “Agora é a hora de conseguir algo mais concreto”.

‘Precisamos quebrar as barreiras do machismo’

Perguntada pela reportagem se acredita que a medida influencie conselheiras de outros clubes a caminharem no mesmo sentido, ela disse que espera trazer mais mulheres para o futebol.

“Eu espero que se reflita em outros clubes. Quando fiz a defesa, eu coloquei exatamente essa questão, que esperava trazer as mulheres que gostam de futebol, que têm um clube de coração, a se sentirem mais ativas, à vontade para participar de forma efetiva da vida dos seus clubes”, destacou.

“Conheço mulheres que gostam de futebol, entendem, frequentam estádio, mas é esquisito você fazer um comentário de alguma questão tática, de uma substituição, e um homem olhar para trás e dizer: ‘e você entende disso?’. É muito comum. Eu gosto e acompanho tudo, quando estou em casa vejo jogo de qualquer time”, relatou Andreia, que é assistente social e funcionária pública.

“Então queremos ganhar espaço, reafirmar a posição da mulher, que pode estar em qualquer espaço. E o futebol ainda é uma seara muito machista, você ainda vê alguns nichos que são redutos masculinos, então precisamos quebrar essas barreiras. Espero que isso acabe sendo um exemplo pros outros clubes, a mulher só vai ter a acrescentar e a contribuir.”