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O enigma Xavi: Barcelona pode superar R$ 1 bilhão tentando substituir meia

Ricardo Nogueira/Folhapress
Imagem: Ricardo Nogueira/Folhapress

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

15/06/2017 04h00

Os dois principais alvos do Barcelona no mercado de transferências para a próxima temporada são o brasileiro Philippe Coutinho, do Liverpool, e o italiano Marco Verratti, do PSG. Em comum, os dois são meio-campistas e fazem parte de um projeto do Barcelona que começou em 12 anos, pode superar R$ 1 bilhão em gastos e ainda não deu frutos.

O projeto em questão é encontrar um substituto para Xavi Hernandez, se não o melhor jogador da história do clube (posto que pertence a Messi), mas o mais importante para a criação de um estilo de jogo que fez o Barça entrar para os livros de história. Até agora, o clube já contratou cinco jogadores para o meio-campo, gastou 124,5 milhões de euros (R$ 460 milhões na cotação atual) e ainda sente falta do meia que saiu do clube em 2015.

Fábregas e os primeiros 34 milhões
Fàbregas - GLYN KIRK/AFP - GLYN KIRK/AFP
Imagem: GLYN KIRK/AFP

A gastança começou antes mesmo da despedida. O primeiro a chegar foi Césc Fábregas. Em 2011, o Barça pagou 34 milhões de euros para o Arsenal para repatriar o atleta, formado em suas categorias de base. Ele já era uma estrela no futebol inglês, mas chegou em um time bem montado.

Ele teria de ser coadjuvante não só de Xavi e Messi, mas de Iniesta e Sérgio Busquets. E Xavi ainda estava em alta: em 2012, por exemplo, foi um dos responsáveis pelo segundo título da Espanha na Eurocopa. Fábregas e o Barcelona decidiram se separar em 2014 – quando o Chelsea pagou 33 milhões de euros pelo jogador.

Rakitic e a mudança de estilo
Rakitic comemora virada do Barcelona sobre o Real Madrid - Reuters / Susana Vera - Reuters / Susana Vera
Imagem: Reuters / Susana Vera

Sem Fábregas, chegou Rakitic. O clube desembolsou 18 milhões de euros para o Sevilla pelo croata. Ele conviveu uma temporada com Xavi e, assim que o espanhol saiu, assumiu a posição de titular. Teve sucesso? Teve, mas para isso, o Barça mudou seu estilo, deixando o toque de bola obsessivo de lado e sendo muito mais objetivo na transição para o ataque.

Essa mudança de estilo nunca foi bem digerida – e os resultados da equipe de Luis Enrique nunca foram os mesmos desde a saída de Xavi. Nessa época, uma opção caseira foi testada: o brasileiro Rafinha, filho do tetracampeão Mazinho. O DNA era o certo. Criado em La Masia, ele sempre atuou no tiki-taka nas categorias de base. Mas é um jogador muito mais atacante, que nunca funcionou em funções mais defensivas necessárias para função.

Turan e as apostas frustradas
Arda Turan - David Ramos/Getty Images - David Ramos/Getty Images
Imagem: David Ramos/Getty Images

Por isso, mais jogadores vieram de fora para a função. O turco Arda Turan, por exemplo, veio do Atlético de Madri por 34 milhões de euros. Muito mais ofensivo, menos técnico e sem o estilo do Barcelona, nunca se firmou no Camp Nou.

Na temporada passada, mais gastanças para o meio-campo. O português André Gomes chegou do Valencia por 35 milhões (e os jornais espanhóis falam que o valor ainda pode chegar a 50 mi, com incentivos) mas decepcionou. Não funcionou como segundo homem do meio-campo, na vaga de Rakitic/Xavi, nem como primeiro homem, no lugar de Busquets (que viveu uma queda técnica.

O outro nome foi também cria de La Masia. Denis Suarez foi vendido para o Sevilla, fez sucesso e acabou recomprado por 3,5 milhões de euros. Teve ainda menos chance: foram só três jogos completos na Liga dos Campeões e no Campeonato Espanhol. Na Copa do Rei, em que Luis Enrique apostou muito mais em seus reservas, fez mais quatro jogos completos.

Verratti e Coutinho podem ser a solução?
Coutinho - Reuters / Carl Recine - Reuters / Carl Recine
Imagem: Reuters / Carl Recine

Para a próxima temporada, a aposta é em Verratti. O italiano mostrou, na maior derrota do Barça na temporada (os 4 a 0 para o PSG), que pode jogar no mesmo estilo de Xavi – com uma presença sólida defensiva, mas, principalmente, velocidade na troca de passes e deixando seus companheiros brilharem. A negociação com o PSG, porém, é complicada. Os dirigentes franceses não querem vender e a oferta mais recente dos espanhóis, de 10 milhões de euros, não foi bem aceita.

Coutinho seria uma alternativa muito mais ofensiva. Na seleção brasileira, por exemplo, ele está jogando como atacante. Na partida contra a Austrália, no entanto, ele foi meio-campista clássico e terminou elogiado pela maneira como conduziu a equipe verde-amarela na goleada por 4 a 0 – justamente o efeito que Xavi atingia quando jogava com a camisa catalã. Como Verratti, porém, a negociação seria complicada, com o Liverpool rejeitando ofertas – a mais recente fala em 90 milhões mais jogadores (um deles seria Rafinha).

O mais irônico é o jogador que mais se aproximava do estilo de Messi já estava no clube. Thiago Alcântara, o irmão mais velho de Rafinha, fez muito sucesso nas categorias de base da seleção da Espanha emulando o estilo de Xavi – venceu dois europeus sub-21 marcando quatro gols nas finais. O problema é que o clube o deixou sair em 2013 por apenas 25 milhões.

Mas porque Xavi é um jogador tão difícil de substituir?
Xavi olha  - Best Photo Agency & C / Pier Gia - Best Photo Agency & C / Pier Gia
Imagem: Best Photo Agency & C / Pier Gia

A resposta é complexa. Primeiro, porque ele mudou paradigmas do futebol moderno para fazer sucesso. Com 1,70m, era um baixo, estava longe de ser forte fisicamente e não era particularmente veloz. Para os padrões daquela época, ninguém apostaria em um volante assim.

Só que Xavi nunca ligou para padrões. Em campo, pensava muito mais do que seus companheiros. Com seus passes, fazia todos os jogadores renderem mais. E ganhou muitos títulos. Foi a cara da revolução do futebol espanhol e personalizou a Era do Tiki-Taka.

Desde que se tornou titular da equipe de Pep Guardiola, em 2008, foram cinco títulos Espanhóis, três Ligas dos Campeões, três Copas do Rei, cinco Supercopas da Espanha, três mundiais de clubes e duas Supercopas Europeias – além das duas Euros e da Copa do Mundo de 2010 pela seleção da Espanha.

Como ele fez isso? A revista World Soccer fez uma longa reportagem sobre porque Xavi era o maior jogador espanhol da história. Nós selecionamos declarações de algumas personalidades que resumem o assunto:

Xavi matou o mito de que o mais necessário em um jogador eram suas características físicas”.

Julen Lopetegui, atual técnico da seleção da Espanha

Alguns jogadores podem ditar o ritmo de todo um time. Mas só Xavi conseguia fazer isso com todos os 22 jogadores em campo”.

Joseba Exteberria, ex-jogador da Espanha.

Ele joga no futuro”.

Daniel Alves, lateral do Barça ao lado de Xavi e hoje jogador da Juventus.