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MPF denuncia ex-ministro e cita propina a ABC e América-RN; clubes negam

Henrique Eduardo Alves foi presidente da Câmara e ministro dos governos Dilma e Temer - Alan Marques/ Folhapress
Henrique Eduardo Alves foi presidente da Câmara e ministro dos governos Dilma e Temer Imagem: Alan Marques/ Folhapress

Marcelo De Vico

Do UOL, em Santos (SP)

21/06/2017 14h54

O Ministério Público Federal (MPF) no Rio Grande do Norte denunciou nesta terça-feira (21) o ex-ministro do Turismo e ex-presidente da Câmara dos Deputados Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Um dos pontos da denúncia diz respeito ao pagamento de R$ 2 milhões em propina ao ABC e América-RN.

"O ex-parlamentar obteve vantagens indevidas da OAS no contrato de utilização da Arena das Dunas, para as equipes do ABC Futebol Clube e do América de Natal, que receberam, somente a título de 'luvas', o valor de R$ 2 milhões da empreiteira, cada uma", diz o texto publicado pelo Ministério Público Federal.

"Ele [Henrique Alves], no mínimo, omitiu-se de seu dever funcional, como parlamentar federal, de fiscalizar a regular aplicação de recursos do BNDES, para, em vez disso, favorecer interesses particulares de empreiteira", reforça o MPF.

O UOL Esporte entrou em contato com Stênio Dantas, diretor de marketing do ABC na época em que foi firmado o contrato entre os clubes potiguares e a OAS. De acordo com ele, tudo foi feito de forma legal e o ex-ministro apenas serviu de "apoio" para a negociação do contrato por se tratar de um político influente e apaixonado por futebol.

"Nós tínhamos o conhecimento que o deputado Henrique, que é americano [torcedor do América-RN], ajudava muito o América-RN e que ele tinha amizade e influência com o pessoal da Arena das Dunas, no caso da OAS. Nós o procuramos e mostramos o nosso interesse em querer jogar também na Arena das Dunas. Nós entramos no processo e a negociação passou a ser feita entre América-RN, ABC e Arena das Dunas", afirmou Dantas.

"O contrato previa luvas de R$ 2 milhões para cada clube. Esse dinheiro veio da conta da Arena das Dunas para a conta do clube, diretamente. Esse contrato foi amplamente divulgado na imprensa, foi aprovado nos conselhos deliberativos dos clubes, consta em ata, então não existe nada de anormal, nada de escondido ou nada de ilegal. Foi feito de forma republicana, clara, divulgada, todo mundo sabia os termos desse contrato. Inclusive a gente até reclamava muito que os clubes que fechavam com as Arenas fechavam por R$ 20 milhões, e a gente só tinha conseguido dois para cada clube, até pelo tamanho do nosso Estado, do nosso futebol", acrescentou o ex-dirigente do ABC.

Já o América-RN, através de uma nota assinada pelo diretor jurídico Diogo Pignataro, limitou-se a dizer que o clube não tem envolvimento com a denúncia e que tudo já foi esclarecido à Justiça pelos dirigentes responsáveis.

"Não temos nenhum envolvimento com essa denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal. A gente não tem envolvimento de dirigente, nem tampouco do clube de maneira direta. Foi citado, pelo que parece, na notícia de alguma forma, mas todas as declarações e informações que nós poderíamos prestar foram devidamente prestadas por mim e pelo presidente à época do América (Beto Santos) junto ao Ministério Público Federal no momento da investigação dessa situação que findou por terminar nessa denúncia. Não existe qualquer envolvimento do clube", afirmou Pignataro.

Alex Padang, presidente do América-RN na época do contrato, disse ainda não ter conhecimento sobre a denúncia e preferiu não comentar. A OAS, por sua vez, disse que não irá se manifestar sobre o caso.

Acordo foi firmado em 2013

O acordo entre ABC e América-RN e a OAS, através do consórcio Arena das Dunas, foi firmado em setembro de 2013, e o montante de R$ 2 milhões foi repassado no mesmo ano. O estádio foi inaugurado em janeiro de 2014, e o ABC manteve a parceria até 2015. Já o América-RN continua mandando jogos na Arena das Dunas.

Operação Manus

O MPF (Ministério Público Federal) denunciou os ex-presidentes da Câmara dos Deputados Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por envolvimento no esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa investigada na Operação Manus, deflagrada no último dia 6 de junho e que deriva da Operação Lava Jato.

Os ex-parlamentares são acusados de receber pelo menos R$ 11,5 milhões em propinas de empreiteiras. Cunha está preso em Curitiba, em função de uma condenação na Lava Jato. E Alves, preso preventivamente, encontra-se atualmente custodiado na Academia de Polícia Militar do Rio Grande do Norte.