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Mulher e Dante podem fazer alemão que jogou no Schalke vir parar no Brasil

Alexander Baumjohann em ação pelo Hertha Berlim, em jogo da Bundesliga - Arquivo pessoal
Alexander Baumjohann em ação pelo Hertha Berlim, em jogo da Bundesliga Imagem: Arquivo pessoal

Victor Martins

Do UOL, em Belo Horizonte

22/06/2017 04h00

Em dezembro de 2014, o zagueiro Dante retornou a Belo Horizonte cinco meses após o 7 a 1. De novo, o futebol explicava a presença do defensor na capital de Minas Gerais, só que dessa vez ele não estava na cidade para jogar, e sim para acompanhar a cerimônia de casamento de um amigo. O zagueiro, titular na tragédia do Mineirão, esteve em BH em 27 de dezembro para celebrar a união do alemão Alexander Baumjohann com a brasileira Tatiane Baumjohann.

Padrinho do casamento, zagueiro brasileiro deu um conselho ao amigo. “O Dante sempre falou que o Brasil seria muito legal para eu jogar”, revelou Alex Baumjohann, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. E Dante não foi o único. Diversos outros jogadores brasileiros que atuaram com o meia alemão também conversaram sobre a possibilidade de Alex defender alguma equipe do país ao qual ele está ligado há mais de dez anos, tempo de relacionamento com a esposa Tatiane,  

“Sempre joguei com muitos brasileiros, como o Rafinha, o Dante e outros vários. E sempre falaram comigo para ir jogar no Brasil, que o jogo seria perfeito para mim. Mas eu ainda não me imaginava jogando no Brasil”, disse Baumjohann, que começou no Schalke e teve uma breve passagem pelo Bayern de Munique antes de chegar ao Hertha, onde está atualmente. 

Perto de ficar sem contrato com o time de Berlim, clube que defende desde 2013 (o vínculo vai até o próximo dia 30), Alex finalmente resolveu seguir o conselho dos amigos brasileiros. O que era algo fora de cogitação se torna bem possível de acontecer nas próximas semanas. “Hoje tenho experiência suficiente para saber que me encaixaria muito bem aí. E por isso eu acho que agora é um momento bom para jogar no Brasil”, disse o jogador, que já recebeu sondagens de algumas equipes, mas prefere não entrar em detalhes neste momento.

A decisão de jogar no Brasil amadureceu após muito tempo pensando sobre o assunto. Aos 30 anos, jogar no futebol brasileiro é uma opção mais atraente para Alex, mesmo com boas ofertas do futebol asiático e de outras equipes da Alemanha. Nesta altura da carreira, mais do que o lado financeiro, Alexander Baumjohann revela que está em busca de novos desafios.

“Eu sempre gostei muito do futebol brasileiro. Já conheço minha esposa há mais de dez anos e temos casa em Belo Horizonte. E também sempre que estou lá, vou aos jogos. Gosto muito da torcida, do jeito que é o futebol brasileiro. É muito interessante. Mas nunca me imaginei jogando no Brasil. Agora mudou um pouco a minha cabeça e acho que podia acontecer mesmo, pois quero fazer alguma coisa nova”.

Fazer história também dentro de campo

Baumjohann numa das visitas a Belo Horizonte. Ao fundo, o estádio Independência - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Baumjohann numa das visitas a Belo Horizonte. Ao fundo, o estádio Independência
Imagem: Arquivo pessoal

Alexander Baumjohann chegou a ser convocado para defender a seleção alemã de base. Despertou o interesse do gigante Bayern de Munique e foi para clube bávaro. Alex também jogou por Schalke 04, Borussia Mönchengladbach, Kaiserslautern e, por último, o Hertha Berlim. 

O simples fato de Alex Baumjohann atuar no futebol brasileiro já seria algo histórico. Não é comum um jogador europeu atuar na América do Sul. Caso as conversas que estão em andamento se concretizem, Alex quer fazer história também dentro de campo.

“Tenho algumas ofertas aqui da Alemanha, de outros países também. Mas eu coloquei na minha cabeça que só troco a Europa pelo Brasil. Como há muito tem não tem um alemão jogando no Brasil, seria um bom momento fazer história. Se eu for jogar no Brasil é para fazer história mesmo, não quero ser apenas mais um”, conta Baumjohann, que sabe que uma transferência para o Brasil também despertaria bastante interesse entre os alemães.

“Até aqui, para a imprensa da Alemanha, vai ser uma coisa nova. Normalmente os brasileiros que jogam aqui, mas eu posso fazer o caminho diferente”.

Atlético-MG procurou no começo de 2016

Esposa e filhas de Alexander Baumjohann em um shopping de Belo Horizonte - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Esposa e filhas de Alexander Baumjohann em um shopping de Belo Horizonte
Imagem: Arquivo pessoal

Embora não seja brasileiro, Alex Baumjohann tem alguma afinidade com o Atlético-MG. E o motivo está dentro de casa. Tatiane, esposa do alemão, é mineira e torcedora do clube alvinegro, relação que aproximou o jogador europeu do clube. Em algumas oportunidades, durante as férias no Brasil, Alex e a esposa já foram à Cidade do Galo e em jogos da equipe atleticana.

Essa proximidade resultou em uma consulta, no ano passado. O Atlético tentou contratar Alex Baumjohann no começo de 2016, mas como o meia havia renovado contrato com o Hertha Berlim e a procura aconteceu com a temporada alemã em andamento, o interesse atleticano não foi além das conversas por telefone, como revelou Alex ao UOL Esporte.

“Não foi uma coisa frustrada. No ano passado o Daniel (Nepomuceno, presidente do Atlético) acabou me ligando, no começo do ano. Mas tinha acabado de renovar meu contrato aqui e o Hertha não ia me liberar naquela época”, explicou o jogador.

Neste momento, atuar em Belo Horizonte seria ainda melhor por se tratar de uma cidade que Alex já conhece bem. Ele tem casa na capital mineira e já esteve mais de uma dezena de vezes em BH. A paixão da esposa, porém, não vai ser determinante na escolha do ainda jogador do Hertha Berlim.

“Ela é torcedora do Atlético, mas sabe que sou profissional do futebol e que posso estar em qualquer clube a qualquer momento. Mas com certeza seria especial para ela voltar à cidade em que cresceu e viver próximo da família ou no país dela. Com certeza seria um ponto positivo para a gente. Mas ela está comigo, vai para qualquer lugar que for”.

Um alemão na terra do 7 a 1

Alexander Baumjohann jogou pela seleção alemã na base - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Alexander Baumjohann jogou pela seleção alemã na base
Imagem: Arquivo pessoal

O dia 8 de julho de 2014 entrou para a história do futebol mundial. Foi o dia que a seleção mais vezes campeão do mundo levou uma surra inimaginável dentro de casa, numa semifinal de Copa do Mundo. Implacável, a Alemanha aplicou 7 a 1 no Brasil. Desde então, o bordão “7 a 1 foi pouco” se tornou popular no país.

Três anos depois da goleada que não sai da cabeça dos brasileiros, ter um alemão atuando profissionalmente no país seria algo que traria à tona todas as lembranças daquela tarde inverno em Belo Horizonte. Piadas, brincadeiras e muita conversa sobre uma das partidas mais marcantes da história do futebol estarão de volta.

“Depois daquele jogo, também estive no Brasil e todo mundo sempre vai lembrar disso”.

E para Alex, entender as brincadeiras e falar sobre aquele fatídico dia não seria problema nenhum. O meia alemão fala português fluentemente, conhece os costumes brasileiros e sabe como é o clima por aqui.

“A adaptação não seria muito difícil, por causa da língua. Também já conheço o país. Já fui no Brasil mais de 20 vezes. Isso que facilita muito, se comparar com outros lugares. Em janeiro tive algumas propostas da Ásia, mas complica. A condição financeira é muito grande, mas a felicidade e para viver, eu prefiro mil vezes o Brasil. Ainda sou novo, fiz 30 anos agora, então não sou tão velho. Então, agora é a hora certa de fazer alguma coisa nova”, disse Alex, pai de duas meninas, Melissa Maria, de 8 anos, e Milena Emilia, de 4 anos, que têm nomes brasileiros e carregam o sobrenome Baumjohann.

Outro ponto que Alexander conhece muito bem do Brasil é o calendário. Enquanto os gigantes europeus não disputam pouco mais de 60 partidas por temporada, os grandes clubes brasileiros podem fazer até mais de 80 partidas em menos de 12 meses. Na contramão do discurso de treinadores e atletas que já estão por aqui, a quantidade de jogos parece não ser problema para Alex Baumjohann.

“É bem diferente, eu sei disso. Mas tudo é adaptação. No começo pode ser meio difícil. Mas aqui no Hertha, nos últimos anos, nós jogamos a Europa League e, assim como nos últimos clubes que joguei, foram partidas aos sábados e quartas. Mas eu seu também que aí no Brasil com o Campeonato Estadual fica com muitos jogos. Mas entre jogar e treinar, eu prefiro jogar”.