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Atletas vivem constrangimento após vídeo íntimo e dizem: 'Foi brincadeira'

Fachada do SC Gaúcho, clube da terceira divisão do Rio Grande do Sul - Divulgação
Fachada do SC Gaúcho, clube da terceira divisão do Rio Grande do Sul Imagem: Divulgação

Adriano Wilkson e Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

06/07/2017 04h00

O vídeo íntimo que circulou no Whatsapp acabou mudando a vida de três jogadores do Sport Clube Gaúcho. Demitidos do clube, eles vivem um momento difícil em suas vidas por causa do episódio que prejudicou suas carreiras, expôs suas vidas na web e até gerou crise em relacionamento amoroso. Hoje, se arrependem da gravação e admitem que foi um erro, mas também se defendem: "Foi apenas uma brincadeira".

As imagens vazadas no aplicativo de conversas foram gravadas no fim da última semana e mostram um dos jogadores aparentemente masturbando dois de seus companheiros. O Gaúcho, que disputa a terceira divisão do Rio Grande do Sul, virou alvo de críticas e piadas, especialmente com cunho homofóbico. Os três jogadores afastados eram titulares. Ao menos uma parte do elenco defendeu sua permanência, mas o presidente do time foi irredutível.

Um dos atletas envolvidos, o volante Guto nega que o gesto tenha sido um ato sexual. Ele afirma ainda que os jogadores não são homossexuais. “Foi uma brincadeira. Até no próprio vídeo a gente aparece dando risada. Quem olha, sabe que não tem maldade, vai perceber que foi brincadeira. As pessoas têm preconceito, mas nenhum dos três é homossexual, gay. Os três são casados ou têm namorada. O vestiário estava cheio, foi uma brincadeira, demos risada. Não sabíamos que daria essa repercussão. Não foi nada para magoar alguém”, disse ao UOL Esporte.

O volante Caio, que está agachado no vídeo manipulando o órgão sexual dos companheiros, tem o mesmo discurso do amigo e diz que eles foram mal interpretados. “Fomos fazer uma brincadeira, sem maldade. Claro que quem está olhando, a maioria das pessoas, vai reagir negativamente. Até eu se olhasse aquilo ia me assustar, mas foi uma brincadeira dentro do vestiário. Aconteceu na quarta, e na quinta essa bomba estourou, passaram de grupo em grupo no Whatsapp e deu essa bomba”. O terceiro jogador que está no vídeo preferiu não dar entrevista.

Vestiário do SC Gaúcho, clube da terceira divisão do Rio Grande do Sul - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Depois do vazamento do vídeo, os três conversaram com o presidente do clube Gilmar Rosso e acabaram demitidos. Caio e Guto se arrependeram e reconheceram que foi um erro. Ainda compreendem a posição do clube que teve a sua imagem arranhada por causa do episódio.

“A gente errou em fazer essa brincadeira, a gente tem noção disso. Passou do limite da brincadeira por estar pelado, por envolver sensualidade, essas coisas. A gente se arrependeu, estamos envergonhados”, afirmou Guto. “Eu entendia a posição dele pela repercussão muito grande. Envolve torcida, patrocínio, dinheiro, foi melhor assim”, completou.

Ainda assim, o presidente não foi poupado de reclamações. Caio faz críticas ao mandatário pela condução do episódio e por ter mudado a sua postura. Segundo o atleta, no primeiro momento o presidente disse que não ia demiti-los e depois mudou o discurso por causa da repercussão. 

“O presidente disse que não ia nos desligar, mas sofremos essa punição, imaginei que isso ia acontecer. Vazou no Brasil inteiro o vídeo. Acho que quando o Gilmar viu o vídeo, tratou de boa, tranquilo. Acabamos não indo no jogo de domingo e na segunda fomos treinar normalmente. E aí ele disse que ia acertar com a gente. Mas ele não quis dar o que tínhamos de receber. Tivemos que pelejar muito para ter o acerto. Ele queria que saíssemos com uma mão na frente e uma atrás e isso não era certo. Os maiores prejudicados fomos nós, fizemos aquilo, mas não tinha o símbolo do clube”, afirmou.

Em entrevista ao UOL Esporte na terça-feira, o presidente Gilmar Rosso afirmou que a permanência dos atletas ficou inviável após o vazamento do vídeo e que não poderia aceitar uma gravação sem a anuência do clube. "Não sou guardião da moral e dos bons costumes, não me interessa o que eles fazem ou deixam de fazer. A única coisa que eu fiquei bravo, a única coisa que eu proíbo aqui dentro é foto e filmagem, nada sem nossa autorização".

Camisas do SC Gaúcho, clube da terceira divisão do Rio Grande do Sul - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Vestiário estava cheio na hora da gravação do vídeo

Caio e Guto explicaram o que aconteceu no momento da gravação do vídeo. Os jogadores tinham acabado de tomar banho e, no meio do vestiário ainda cheio, fizeram a brincadeira que, segundo eles, nunca tinha acontecido antes. Outro jogador gravou e postou o vídeo no grupo de Whatsapp do elenco. Mas eles não esperavam que as imagens seriam vazadas, já que mantêm o grupo há anos e sempre confiaram nos integrantes dele.

A partir dali, vários problemas surgiram. Os perfis nas redes sociais dos atletas foram inundadas por críticas, ofensas e xingamentos, a maioria deles com palavras homofóbicas. Por isso, eles têm evitado mexer nos perfis.

Agora, eles preferem ficar reclusos até a poeira abaixar. Os jogadores deixaram Passo Fundo e foram para as suas cidades buscar apoio na família. Além dos parentes e amigos, os próprios colegas de time ficaram a favor deles e contra a demissão. 

“Você imagina como está nossa vida", disse Caio a caminho de sua cidade. "Infelizmente nossa vida mudou, mas vamos ter que bater no peito contra isso. Quando vimos que o vídeo estava rodando, tínhamos certeza que ia dar m.... Avisamos nossos familiares. Minha namorada me conhece e reagiu bem. Quem é próximo de nós, sabe como somos. Respeito quem é gay, mas eu gosto de mulher.”

Guto ainda precisou administrar uma crise, agora já superada, com a namorada. Ela também foi desrespeitada nas redes sociais. “Eu tenho namorada. Ela ficou bem chateada porque envolveram ela junto. Ficaram tirando sarro dela. Mas ela me conhece e sabe que foi só brincadeira. Até rede social eu estou evitando de mexer muito para não ficar remoendo. Vou esperar passar um pouco”, disse. 

Os dois têm noção do quanto suas carreiras foram prejudicadas, mas esperam que as pessoas esqueçam o episódio para que possam voltar a atuar. “Eu não vou desistir do meu sonho e da minha profissão. Eu sei que isso vai fechar portas para mim e sei que Deus vai abrir outras portas tanto para mim quanto para os meninos”, disse Caio, hoje com 22 anos. Ele começou a carreira profissional em times das divisões inferiores do Rio Grande do Sul e ainda jogou no Novo Hamburgo (RS) e no Marau antes de chegar no Gaúcho. 

Guto, aos 23 anos, também não vai desistir. "Vou dar um tempo, esperar a poeira abaixar, tenho bastante amigo treinador. Vou buscar o recomeço, vou começar de novo, tentar superar e procurar um time de médio porte para tentar coisa melhor. Acho que tudo que vem de ruim, espero que venha algo de bom também. Vou treinar e ver se eu consigo algo no segundo semestre".