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Lembra dele? Ex-colorado Claiton larga visual Predador e vira técnico

Aos 39 anos e com novo visual, Claiton dá primeiros passos na carreira de treinador - @cruzeirorsreal/Twitter
Aos 39 anos e com novo visual, Claiton dá primeiros passos na carreira de treinador Imagem: @cruzeirorsreal/Twitter

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

09/07/2017 04h00

Ao longo de quase duas décadas de carreira como jogador, Claiton se acostumou a exibir mais do que seu futebol em campo. As tranças que compunham seu visual valeram ao volante o apelido de Predador, em referência à franquia cinematográfica criada pelos irmãos Jim e John Thomans no final da década de 1980.

O visual, no entanto, ficou no passado. Aposentado dos gramados desde 2013, Claiton hoje atende por Claiton dos Santos, treinador do Cruzeiro (RS). E diz que a mudança de visual – com direito a óculos e cabelos curtos – faz parte do protocolo planejado para a nova função.

Claiton no Atlético-PR - Divulgação/Atlético-PR - Divulgação/Atlético-PR
Tranças eram marca registrada de Claiton durante carreira no futebol; como jogador, atuou por clubes como Inter, Santos, Flamengo e Atlético-PR
Imagem: Divulgação/Atlético-PR
“Eu sempre falei que, quando eu deixasse de jogar futebol, a primeira coisa que eu ia fazer era cortar as tranças. Aquilo ali foi uma imagem minha, até um personagem. Tinha aquela imagem das tranças, do Claiton de cabelo comprido. Daí para a frente, eu teria uma outra carreira. Eu acho que não seria legal ficar com umas tranças na beirada do campo. Também não acho errado, no meu modo de pensar. Mas assim eu acho que eu transmito uma seriedade maior, e isso é importante”, contou Claiton, aos 39 anos, em entrevista ao UOL Esporte.

Claiton foi anunciado pelo Cruzeiro em 30 de junho. Antes, em seu primeiro trabalho como treinador, comandando o Aimoré na Supercopa Gaúcha 2016 (levou o time às semifinais de seu grupo) e na Divisão de Acesso do Campeonato Gaúcho (caiu nas quartas de final para o São Luiz de Ijuí, que seria campeão). A partir daí, recebeu o convite do clube de Cachoeirinha.

“Fiquei 11 meses no Aimoré. Montei o grupo e fizemos um trabalho muito bom. No ano passado, o Cruzeiro não disputou a Copinha (Supercopa Gaúcha), então emprestou sete jogadores. O Glênio (Cordeiro, diretor de futebol do Cruzeiro) acompanhou o meu trabalho de perto, acho que gostou. Começamos a conversar sobre as possibilidades, e ele adiantou que o Cruzeiro queria acompanhar o meu trabalho, disse que todo mundo vinha falando bem. Chegamos a um acordo”, explicou.

O início da carreira como técnico

Os planos de trabalhar como treinador, ele conta, surgiram antes do convite do Aimoré em 2016. A partir de 2009, em meio a lesões, o então volante do Atlético-PR passou a se interessar pelo trabalho da comissão técnica. Então, durante um período sem clube entre abril de 2011 e fevereiro de 2012, aproveitou para se aprofundar no assunto.

“Sempre fui muito ligado à parte tática, sempre fui muito curioso. Quando me lesionei em 2009, fiz cirurgia de tendão de Aquiles no Atlético-PR, comecei a participar mais dessa parte tática, ficar junto da comissão (técnica)”, explica. “Em 2011, dei um tempo no futebol e comecei a procurar algumas coisas e a conversar com amigos. Em 2012, resolvi voltar a jogar futebol, mas sentia muitas dores e parei de vez em 2013, não tinha condições.”

Foi aí que a carreira de treinador começou a se desenhar. Em 2013, passou dois meses no Internacional fazendo estágio com o técnico Dunga. Naquele mesmo ano, passou no vestibular de educação física.

”Comecei a me empolgar nisso”, conta Claiton, que fez cursos na CBT para obter as Licenças C e B de treinador de futebol. Entre 2015 e 2016, fez ainda mais estágios – desta vez, com Roger Machado (então no Grêmio) e Paulo Autuori (então no Atlético-PR).

Hoje, os dois estão entre as principais influências de Claiton – mas não são as únicas.

”Eu trabalhei com grandes treinadores. Com o Luxemburgo no Santos (2004), com o Paulo Autuori no Inter (1999) e com o Muricy Ramalho (no Inter em 2003), que é um cara que eu admiro muito. Eu sempre falo que são os três treinadores que me chamam a atenção, que eu tento ser meio que a mescla deles. Eu sempre admirei a leitura tática do Luxemburgo, a energia do Muricy - o dia a dia dele, muito forte - e o Autuori com um discernimento especial, com a maneira de lidar com o ser humano. São treinadores que me chamam a atenção. Acho que a junção deles é o ideal”, diz.

Roger Machado, amigo e exemplo

O modelo a seguir, no entanto, é o do amigo Roger Machado, hoje no Atlético-MG.

“Eu fiz estágio com ele ano passado no Grêmio. A gente conversa muito, troca muita ideia. Quando tenho uma dúvida, eu sou muito curioso. As pessoas me falam uma coisa e eu quero saber o porquê. Eu vou buscando. Muitas vezes ele consegue me esclarecer, e muitas vezes a gente busca junto. Gosto muito de estar conversando com pessoas no meio do futebol. Às vezes, um bate-papo com treinador ou com ex-jogador vai te ajudar muito. Te faz pensar, te faz reinventar”, explica.

E é seguindo estes passos que Claiton começa sua trajetória como treinador. Diante de um grupo jovem no Cruzeiro, tenta passar sua experiência – como ex-jogador e como o que aprendeu de outros técnicos.

“No Aimoré, eu trabalhei com um grupo até mais velho, que acompanhou mais a minha carreira. Hoje, no Cruzeiro, é uma gurizada que eu vejo que eu sou muito mais um ídolo, que o pessoal admira e tem meio receio de chegar. E eu sou um cara que, na minha maneira de ser, dou muita liberdade. Cobro quando tem que cobrar. Eu sinto isso, que eles acreditam muito em mim, e isso é muito importante”, explica.

O trabalho no novo clube começou na última segunda-feira (3). Em seus primeiros dias, orientou treinos e passou palestras. Contanto com o auxílio de um analista de desempenho, repassou aos atletas o que foi feito durante a semana.

Claiton comanda treino do Cruzeiro RS - @cruzeirorsreal/Twitter - @cruzeirorsreal/Twitter
'Minha metodologia de trabalho é muito moderna', diz Claiton, treinador do Cruzeiro (RS)
Imagem: @cruzeirorsreal/Twitter

“Eles estão acostumados com outro tipo de treinador, outra metodologia de trabalho. A minha metodologia de trabalho é muito moderna, um método sistêmico, voltado ao modo de jogo o tempo todo – chuteira, campo, jogo. É diferente, e está sendo legal”, explicou Claiton, que tem a meta de colocar o time na Série D do Campeonato Brasileiro de 2018 através da Supercopa Gaúcha 2017.

”Eu indiquei cinco jogadores que o Cruzeiro já contratou. Tem que ver também que o segundo semestre é financeiramente muito difícil nos clubes menores. A gente tem ciência disso. E o Cruzeiro está buscando parcerias, buscando investidores”, explicou. “O próprio Glênio (Cordeiro) falou que vai conseguir me ajudar com três ou quatro jogadores, para a gente ter um grupo forte, para disputar com força e, quem sabe, chegar ao título e levar o Cruzeiro a um Campeonato Brasileiro da Série D.”