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Membro de organizada, vascaíno foi morto pela PM segundo testemunhas

David Rocha Lopes - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Adriano Wilkson e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro

10/07/2017 04h00

Torcedores do Vasco que estavam ao lado de Davi Rocha Lopes, 27 anos, após o clássico contra o Flamengo, no sábado (8), dizem que ele morreu depois de levar um tiro disparado por um policial militar. Segundo seus amigos, Davi não conseguiu entrar em São Januário, mas assistiu à partida do lado de fora.

Ele trabalhava em uma lanchonete, morava em uma comunidade e gostava de dançar “passinho”. Conhecido como “Jacaré”, ele não enxergava de um olho.

Davi Vasco - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Os detalhes sobre o momento de sua morte foram contados por um de seus amigos, e mais tarde confirmados com outras fontes. As pessoas consultadas preferiram não ter a identidade revelada.

Depois que o Vasco perdeu a partida, torcedores organizados inconformados tentaram invadir o estádio, mas foram contidos pela Polícia Militar. Davi estava entre eles. Apesar de alguns de seus amigos dizerem que ele não era membro de nenhuma torcida organizada, o UOL Esporte apurou que o torcedor fazia parte da Força Jovem, era membro da 9ª Família (Zona Oeste) e próximo do grupo da situação que protagoniza uma disputa de poder dentro da organização..

A Força Jovem, que atualmente está proibida de frequentar estádios, tem duas alas que se opõe: a situação apoia a gestão do presidente Eurico Miranda no clube, enquanto a oposição é contra o cartola. Muitos dos focos de tensão nas arquibancadas de São Januário nos últimos meses têm surgido por causa dessa disputa.

Quando um carro da polícia foi quebrado perto do portão 9 do estádio, os policiais começaram a disparar com balas reais em direção à torcida, dizem as testemunhas.

“A polícia estava jogando bomba, estava tendo muita briga de polícia com torcedor”, disse um dos amigos de Davi. “Um polícia puxou a arma e acertou na barriga dele. Ele era cego de um olho e não viu essa aproximação. Na hora não saiu muito sangue. Nós socorremos e ficamos uns 20 minutos carregando ele até que algum carro parasse para levar pro hospital. Enquanto isso, a polícia jogava bomba e dava tiro.”

Davi - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Outro amigo disse que estava a “uns três metros” de Davi no momento do disparo. “Tinha mulher e criança ali. A torcida estava querendo invadir e a polícia agiu. O policial puxou a arma de fogo e fez o disparo em direção da gente. Infelizmente pegou na barriga dele. Eu vi ele caindo, mas fui socorrer outro colega que tinha pegado bala de borracha no olho.”

Além de Davi, outros três vascaínos ficaram feridos na confusão.

Em nota, a PM disse que está investigando a situação. “Em relação ao tumulto generalizado iniciado na Rua do Bonfim, que acarretou na morte de um torcedor e o ferimento de mais três, a Corporação aguarda perícia e apuração por parte da Polícia Civil. Paralelamente a isso, o Comando da Corporação, através do 4º BPM instaurou procedimento para apurar as condutas dos policiais.”

A assessoria de imprensa da Polícia Civil não estava disponível para comentar esta reportagem.

Davi gostava de dançar passinho e era brincalhão

Duas vascaínas que encontraram Davi antes do jogo disseram que ele era uma pessoa muito querida e adorava dançar.

“Ele vivia rindo, nunca vi ele triste por nada, era 'superengraçado', não tinha ninguém que não gostava dele”, disse uma delas. “Quando tinha festa ou antes dos jogos, tinha uns carros de som, aí ele ficava fazendo o ‘passinho’ que nem um maluco.”

“Perdemos um amigo muito querido entre a gente”, disse um companheiro. “Tudo que a gente fazia, festa, encontro, ele que animava todo mundo, dançava. Estava sempre alegre, não tinha nenhum aspecto de violento, era um cara muito tranquilo mesmo.”

Um amigo de infância disse que na comunidade onde eles cresceram era comum a presença de traficantes de drogas, mas que Davi nunca “se meteu com coisa errada”. “Eu cresci com ele, crescemos no mesmo bairro desde criança. Era um moleque muito tranquilo. A gente sempre viu o tráfico de perto, mas ele nunca se envolveu com nada.”

A briga do lado de fora de São Januário aconteceu depois que torcedores do lado de dentro, inconformados com a derrota para o Flamengo (1 a 0), atiraram bombas e outros objetos para dentro do gramado e tentaram invadi-lo. O Ministério Público do Rio já anunciou que pedirá a interdição do estádio. O Vasco, através de seu presidente Eurico Miranda, pediu desculpas pelos incidentes.