Topo

Campeão em RO, goleiro homenageia Danilo e recebe visita de Dona Ilaídes

Dida usou camisas em homenagem a Danilo durante campanha do título em Rondônia - Josiel Silva/Divulgação
Dida usou camisas em homenagem a Danilo durante campanha do título em Rondônia Imagem: Josiel Silva/Divulgação

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

11/07/2017 07h26

Aos 29 anos, Alex Sandro Cardoso da Silva teve participação fundamental na campanha que levou o Real Ariquemes à conquista do Campeonato Rondoniense de 2017. Dida, como é conhecido, é goleiro e capitão do clube, que foi fundado em abril de 2011 e jamais havia conquistado um título.

Mas Dida também é fã. E graças à campanha que culminou no título inédito, teve a chance de conhecer os pais de seu ídolo.

Desde o começo da temporada 2017, o goleiro do Real Ariquemes vinha utilizando camisas com imagens para homenagear Danilo, goleiro da Chapecoense vítima do desastre aéreo com a delegação do clube catarinense em novembro de 2016, na Colômbia. Na ocasião, 71 pessoas morreram.

Por conta da tragédia, Dida decidiu então mostrar sua admiração. Ao longo de todo o campeonato, o goleiro usou uma camiseta com fotos do ex-goleiro para fazer seu aquecimento. Durante os jogos, usava a peça por baixo do uniforme – e voltava a exibi-la tão logo os jogos se encerravam.

A homenagem, ele diz, não foi “por status ou por mídia”. “Foi uma homenagem a um cara que eu já acompanhava, era fã, que eu tinha como ídolo, como exemplo de goleiro – e tenho até hoje, apesar do que aconteceu. Eu ainda sigo o exemplo dele. Para mim, se não tivesse ocorrido essa tragédia que aconteceu, com certeza o Tite teria chamado ele para a seleção brasileira”, contou Dida em contato telefônico com o UOL Esporte.

O goleiro-fã, porém, logo ganhou espaço na mídia local. Mas Dida não imaginava que sua admiração chegasse ao casal Eunício e Ilaídes Padilha – justamente os pais do ex-goleiro da Chapecoense. Com familiares em Rondônia, os dois acabaram avisados pelos parentes das homenagens feitas por Dida.

“Não imaginava que, na cidade de Ariquemes, tinha família por parte do pai dele”, contou Dida. “Aí, o primo dele (de Danilo, Renan), que mora em Porto Velho, viu e foi repassando as informações para o pai dele. Chegou um momento em que ela (Ilaídes) falou: ‘avisa que, se eles passarem para a final do campeonato, eu acho vou querer ir lá’.”

Para chegar às finais do Rondoniense, porém, o Real Ariquemes teria que passar pelo Genus nas semifinais. No jogo de ida, empate em 2 a 2. No jogo de volta, empate em 0 a 0. A vaga foi decidida nos pênaltis – e Dida defendeu três cobranças para assegurar a vitória por 3 a 1.

Com a vitória, o time de Ariquemes decidiria o título com o Barcelona, da cidade de Vilhena. E Dida teria a oportunidade de conhecer os pais de Danilo.

Encontro, choro e título

Eunício e Ilaídes viajaram a convite do clube, que pagou as passagens aéreas de ida e volta. O encontro aconteceu no dia 30 de junho, no fim da manhã, após o treino do elenco. E Dida finalmente teve a chance de mostrar as camisas que fez para lembrar Danilo.

Ilaídes e Dida, do Real Ariquemes - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Ilaídes (foto) e Eunício visitaram Dida após classificação do Real Ariquemes para as finais do Rondoniense
Imagem: Acervo pessoal
“O encontro foi muito marcante. Enquanto eu viver, eu nunca vou esquecer. Foi um momento muito feliz”, diz o goleiro, que chorou com a visita. “A emoção foi tão grande que o choro veio naturalmente, por poder abraçar aquela pessoa que, sete meses antes, estava em uma situação em que o mundo parou, o mundo chorou. Eu abracei como se estivesse abraçando a minha mãe mesmo. Foi maravilhoso. Não tem dinheiro que pague”, acrescentou.

O próprio encontro, aliás, ajudou a redefinir a camisa de Dida para as finais do Rondoniense. Com um empate por 0 a 0 em casa - jogo que teve os pais de Danilo na torcida - e uma vitória por 1 a 0 fora, o time faturou o título. E o goleiro levantou a taça com uma camisa especial, trazendo quatro imagens: uma foto de Danilo, uma foto do encontro com dona Ilaíde, uma foto de sua própria mãe e uma foto de seu filho ao lado de dona Ilaíde. Nas costas, uma imagem de Danilo com Ilaíde.

“Não só eu joguei com a foto dele no peito, como a equipe toda jogou com a foto dele na manga da camisa”, contou Dida, que atuou com a nova camisa por baixo do uniforme. No fim, com o título, pôde mais uma vez mostrar o uniforme especial.

“A gente só queria passar esse gesto de amor, confraternização, fazer essa homenagem a um filho que ela tinha. Para ela, era o porto seguro dela, assim como eu me vejo com a minha mãe. Eu sou filho único. Ele tinha uma irmã (Daniele), mas o Danilo para ela era praticamente tudo. É complicado a perda de um filho. É uma ferida que cicatriza, mas vira e mexe abre de novo com as lembranças que vêm.”

Com a conquista, Dida – que passou pela base do Fortaleza em 2007 e defendeu clubes como Remo (2013) e Tuna Luso (2014) – ofereceu algumas das camisas aos pais de Danilo. Mas, para ele, as maiores conquistas já foram asseguradas: o título e a possibilidade de encontrar Eunício e Ilaídes.

“Para mim, se não tivesse vindo o título, acho que ia ser a maior conquista. Foi a oportunidade que Deus me deu de conhecer os pais do cara que eu tinha como ídolo. Foi emocionante, uma coisa maravilhosa que aconteceu na minha vida”, contou o goleiro, campeão estadual também pelo Genus (2015) e pelo Rondoniense SC (2016).

Dida e troféu do Rondoniense - Josiel Silva/Divulgação - Josiel Silva/Divulgação
Com fotos em camisa, Dida comemorou o segundo título seguido em Rondônia
Imagem: Josiel Silva/Divulgação