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Vitinho muda hábitos, deslancha no CSKA e "desiste" de futebol brasileiro

Vitinho fez seis gols e deu seis assistências em 13 jogos do CSKA em 2017 - Divulgação / CSKA
Vitinho fez seis gols e deu seis assistências em 13 jogos do CSKA em 2017 Imagem: Divulgação / CSKA

Bernardo Gentile e Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo

17/07/2017 11h00

Vitinho é um bom exemplo de como as coisas mudam depressa no futebol. No início de 2017, amparado pelo bom Campeonato Brasileiro que tinha feito com a camisa do Internacional, o atacante de 23 anos era o nome mais recorrente em listas de reforços de algumas das principais equipes do futebol nacional. Meses depois, não pensa mais em voltar tão cedo ao país natal. Após mudar significativamente a vida fora de campo, o jogador percebeu que é possível ser feliz na Rússia e migrar de lá para um mercado maior.

Revelado pelo Botafogo, Vitinho consolidou-se precocemente na equipe carioca. Aos 19 anos, já era titular e destaque a ponto de chamar atenção do CSKA Moscou. Em 2013, o time russo desembolsou os 10 milhões de euros (R$ 36,5 milhões) da multa rescisória e contratou o promissor atacante.

Nas primeiras temporadas, contudo, Vitinho não enxergou na Rússia um passo adiante. Ao contrário: sofreu com a distância da família e dos amigos, teve dificuldade para se adaptar a um novo idioma e não se deu bem com as baixas temperaturas do país europeu. Disputou 24 partidas pelo CSKA e balançou as redes apenas uma vez.

O desempenho aquém da expectativa serviu como facilitador para uma negociação. Em 2015, o estafe de Vitinho conseguiu convencer o CSKA a emprestar o jogador ao Internacional, e esse negócio acabou mudando a carreira do atacante. A despeito do rebaixamento à segunda divisão do Campeonato Brasileiro, ele foi um dos destaques individuais da equipe colorada na temporada. Mesmo sem ter a finalização como principal característica, anotou oito gols no certame nacional.

O Internacional chegou a tentar manter Vitinho, mas esbarrou no alto valor – o contrato de empréstimo tinha uma cláusula de 8 milhões de euros (R$ 29,2 milhões) para o jogador ficar definitivamente em Porto Alegre. O Flamengo ficou próximo de um acordo com o estafe do atacante, mas também não logrou êxito nas conversas com o CSKA. Outros times, como Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo, fizeram sondagens no início do ano.

No fim do ano passado, a ideia de Vitinho não era voltar para a Rússia. O jogador pretendia continuar no Brasil, sobretudo porque gostou do impacto que a boa temporada em solo nacional produziu. No entanto, como nenhum clube local acertou com o CSKA, o atacante percebeu que não haveria outro caminho possível além do retorno.

Quando essa passou a ser a única alternativa, Vitinho decidiu mudar o jeito de encarar a Rússia. Contratou uma cozinheira brasileira, montou uma academia em casa e conseguiu levar para o país europeu a mulher e as duas filhas. O empresário dele também passou a morar em Moscou em tempo integral – anteriormente, amigos e parentes se revezavam.

O CSKA percebeu logo a mudança de postura e passou a montar séries específicas para Vitinho fazer em casa. O resultado: o brasileiro disputou 13 partidas na temporada 2016/2017 do Campeonato Russo, com seis gols e seis assistências. Em maio, balançou as redes duas vezes no jogo que classificou o time de Moscou para a fase preliminar da Liga dos Campeões da Uefa.

O primeiro efeito do bom momento foi o arrependimento: segundo pessoas do estafe do jogador, Vitinho hoje reconhece que deveria ter encarado de forma diferente os primeiros anos na Rússia.

As mudanças do jogador também causaram impacto no status. Vitinho hoje é um dos principais referenciais técnicos do CSKA e passou a ser tratado de forma diferente na Rússia.

Tudo isso abriu novas perspectivas ao jogador. Pela primeira vez na carreira, Vitinho treinou durante as férias. Também deixou de sonhar com um retorno imediato ao futebol brasileiro: segundo apurou o UOL Esporte, o atacante hoje enxerga o país como opção apenas para a reta final da carreira.

Vitinho hoje pensa em um salto do CSKA para um time de maior projeção no futebol europeu. Também voltou a sonhar com convocações para a seleção brasileira. A Copa do Mundo de 2018 vai ser disputada na Rússia, e o atacante enxerga diferenciais competitivos na luta por um espaço no grupo do técnico Tite: conhece o país e oferecerá um impacto anímico à equipe nacional, que será apoiada pelos torcedores da equipe de Moscou.

Ainda que reconheça que o bom desempenho chegou tarde para brigar por um lugar na Copa, Vitinho hoje tem isso como plano. Os últimos meses mostraram como as coisas podem mudar bem depressa para ele.