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Como é ser artilheiro em um país com a metade da população da zona leste?

João Moreli 2 - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

22/07/2017 04h00

A Estônia está longe de ser um país grande. Com 1,3 milhões de habitantes, tem menos da metade da população, por exemplo, da zona leste da cidade de São Paulo. Tallin, a capital, é a cidade mais populosa. Mas, com 440 mil habitantes, está longe de ser uma metrópole.

Mesmo assim, é o maior lugar em que o atacante João Morelli, com passagem por um time da elite do futebol paulista e da Inglaterra, já jogou. Aos 21 anos, ele saiu cedo de Itu, cidade do interior de São Paulo com 150 mil habitantes, para jogar em Middlesbrough, na Inglaterra, outra cidade pequena, de 139 mil.

João Moreli 1 - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
“Eu sei que Tallin não é a maior capital da Europa, mas é uma experiência bem diferente do que eu já vivi em Itu e na Inglaterra. É a primeira vez, por exemplo, que moro em um lugar que atrai muitos turistas. Em Middlesbrough eram só os locais. Em Itu, você até via alguns turistas, mas só estavam lá para ver as coisas grandes. E a maioria eram de São Paulo mesmo. Aqui, em Tallin, estou vivendo pela primeira vez em uma cidade cosmopolita”, diz o jogador.

Essa diferença de vida significa que, pela primeira vez, Morelli vive em uma cidade em que a oferta de restaurantes é farta, com uma vida noturna agitada e muitos lugares turísticos para visitar. “Eu não saio muito, mas aqui, pelo menos, é possível sair um pouco, sempre que tem folga. E o número de restaurantes é grande também. E eu já fiz muitos programas de turista, como conhecer a cidade velha, que é a parte do castelo medieval. Tallin nasceu nos arredores desse castelo”, conta.

As novas vivências podem parecer pouco importantes para quem acabou na Estônia quase por acaso no começo do ano. Mas não é. Morelli começou a carreira no Ituano e, em 2015, foi ao lado de quatro companheiros para o Middlesbrough, da Inglaterra, para um período de treinamentos. Era o primeiro intercâmbio que a parceria entre os ingleses e o Ituano promovia, fruto do trabalho de Juninho Paulista – um dos estrangeiros de maior sucesso da história do Boro e presidente do Ituano.

Foi o primeiro e único. “Pouco depois, a parceria acabou. Eu acabei sendo o único jogador que ficou por lá”, lembra. Os ingleses gostaram do estilo do atacante de 1,80m que gosta do drible, mas é rápido na conclusão. Ele foi contratado para o time sub-18 e, quando estourou a idade, defendeu a equipe no sub-21. Chegou a jogar ao lado do lateral Fábio, que defendia o time principal, em algumas partidas do time de base. No mesmo torneio, encarou o veterano Wes Brown, ex-Manchester United e com passagens pela seleção inglesa, e as revelações Adrian Januzaj e Andreas Pereira, do Manchester United.

Quando fez 21 anos, porém, os ingleses ainda não viam em Morelli a maturidade necessária para compor o elenco do time principal – que, naquela época, disputava a Premier League, a primeira divisão inglesa. Então, em janeiro de 2017, ele e seus empresários passaram a buscar um clube onde pudesse jogar e crescer. Não foi fácil.

“Para ser sincero, o plano nunca foi jogar na Estônia. Mas era janeiro, a proposta chegou e era atrativa. E como não tínhamos muitas perspectivas em centros maiores, eu resolvi aceitar. No Middlesbrough eu não teria espaço, já que é o costume inglês emprestar jogadores mais jovens para ganhar experiência e eles queriam fazer isso comigo, também. Para mim, acabou sendo muito positivo”.

Quem está comemorando é a torcida do Levadia, atual vice-líder do Campeonato Estoniano. Em 12 partidas, ele já marcou oito vezes. É o vice-artilheiro de seu time – o maior goleador é o estoniano Rimo Hunt, com 12. “Eu não esperava uma adaptação tão rápida. Mas estou muito feliz com o meu rendimento até agora”.

A boa fase inclui até mesmo gols em clássicos, como na última sexta-feira, em que marcou nos 3 a 3 contra o líder Flora. E com torcida: “A estrutura aqui é parecida com a do Brasil. Alguns clubes tem estádios bons e grandes, outros nem tanto. E a torcida, em clássicos, costumam aparecer. É a primeira vez, também, que estou lidando com isso. A pressão por ser brasileiro, por ter vindo de um time da Premier League. É tudo novo”.

Esse aprendizado termina no fim do ano. Morelli deve voltar para o Middlesbrough, que caiu para a segunda divisão inglesa. Se não tiver espaço no elenco, sonha com o futebol espanhol. “Eu quero jogar no Campeonato Espanhol. Mas não descarto outras ligas. Até mesmo voltar ao Brasil. Pode acontecer”.

Enquanto isso não acontece, ele já se prepara para o frio da Estônia. “Agora estamos no verão, mas quando cheguei joguei com muita neve. E era complicado. Como os jogadores, acho, já estavam acostumados, ninguém me avisou sobre o que esperar. No começo foi difícil encarar a falta de visibilidade, o campo molhado, a bola congelada. Vamos ver se no final do ano será tão difícil assim”.