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Ex-Flamengo, Vinícius Paquetá se inspira em corintiano para ressurgir

Vinícius Paquetá (centro) durante treinamento no Moto Club - Moto Club/Divulgação
Vinícius Paquetá (centro) durante treinamento no Moto Club Imagem: Moto Club/Divulgação

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo (SP)

22/07/2017 04h00

Vinícius Paquetá era considerado um talento prestes a explodir no Flamengo. Produto da base rubro-negra, passara pelas categorias sub-13, sub-15, sub-17 e sub-20 entre 2003 e 2010, chegando às semifinais da Taça Belo Horizonte de 2009. Tudo indicava que em pouco tempo estaria no elenco do time principal, que vinha justamente do título do Campeonato Brasileiro naquele mesmo ano.

A oportunidade, porém, não veio. E Vinícius Paquetá ainda ficaria conhecido naquele ano de 2010, graças a um episódio que marcaria sua carreira.

Em 2 de julho, Uruguai e Gana se enfrentavam pelas quartas de final da Copa do Mundo na África do Sul. Na concentração do time sub-20, perdeu uma aposta referente à partida e teve que ficar nu. A história acabou chegando aos ouvidos de Zico, então diretor-executivo do clube, e o ambiente acabou ficando ruim para o jogador. Pouco tempo depois, o atacante estava nas categorias de base do Vasco da Gama.

Hoje, aos 27 anos, o jogador defende o Moto Club na Série C do Campeonato Brasileiro. E diz que o polêmico incidente "não foi nada tão grave como a mídia jogou".

"Quando aconteceu aquilo, faltava menos de seis meses para o meu contrato com o Flamengo acabar. Era meu último ano lá. Aí, quando você está em um clube, seis meses antes (do fim do contrato), se o clube não te chamar para renovar, é porque não vai se prolongar, né? Ou seja, eu não ia renovar com o Flamengo", contou, em contato com o UOL Esporte.

Diante da repercussão do caso, o técnico do time sub-20 do Vasco, Gaúcho, chamou Vinícius Paquetá para o time. O jogador topou e rescindiu - em especial porque, para ele, faltava uma oportunidade para defender o time principal do Flamengo.

“Acho que faltou mesmo a oportunidade. Hoje está tendo para caramba, hoje tem muita oportunidade. Até brinco com os meus colegas da época que hoje tem muito mais oportunidade do que na época. Na época, acho que faltou mais oportunidades mesmo", diz.

Seriam poucos meses na base do Vasco, no fim de 2010, sem uma chance de atuar no elenco principal. A profissionalização só viria em 2011, no Mogi Mirim, dando início a uma peregrinação por clubes de menor expressão. As portas de equipes maiores poderiam até se abrir, mas o próprio Vinícius Paquetá desconfia que o incidente na base do Flamengo pode ter fechado algumas portas.

"Essa história que aconteceu, em algum momento, poderia ter me atrapalhado, mas não chegou até a mim. Talvez algum clube poderia ter dado para trás devido ao acontecimento", avalia. "Mas desde aquele momento para cá, nunca apareceu nada. Nunca houve história minha. Isso só mostra que aquilo foi uma coisa que aconteceu, que não souberam contornar."

"IRMÃOZÃO" NO CORINTHIANS

Entre Flamengo e Vasco, não foram poucos os jogadores dos tempos de Vinícius Paquetá que ganharam projeção no futebol profissional. Nomes como Douglas (zagueiro do São Paulo), Marlone, Rafael Galhardo, Frauches, Nixon, Diego Maurício e Negueba foram todos contemporâneos do atacante durante o processo de formação.

O jogador, porém, guarda carinho especial por um ex-colega: Camacho. Hoje volante do Corinthians, o camisa 29 do time de Fábio Carille foi companheiro de Vinícius Paquetá nas categoria de base do Flamengo entre 2000 e e 2007. Os dois trocam mensagens com regularidade, e o atacante não mede elogios ao amigo, de quem se declara "fã".

"Camacho é meu irmãozão, falo com ele todo dia", conta. "É o cara com quem eu mais tenho afinidade, um cara com quem eu tenho uma aproximação com a família dele. Falo com a mãe dele praticamente toda semana. Sem dúvida, ele é um jogador que, tanto fora de campo quanto dentro de campo, é excepcional. É uma pessoa maravilhosa", completa.

Houve apenas um incidente recente que os dois ainda tentam resolver.

"Ele está chateado comigo até hoje porque eu não fui ao casamento dele (em 2015). Eu estava no Rio, mas estava em uma situação financeira não muito boa, não muito confortável. Aí não deu para eu ir e ele ficou superchateado", conta. "Mas ele é muito meu irmão. Já foi pra minha casa, ficou o final de semana lá em Paquetá, passeando. É muito meu amigo."

Além do corintiano, Vinícius Paquetá também é só elogios para outros ex-companheiros, como o goleiro Marcelo Carné (presente na seleção brasileira sub-17 em 2007, atualmente no Audax Rio), o lateral Michel (hoje no Las Palmas) e o atacante Bruno Paulo (emprestado pelo Corinthians ao Santa Cruz). " O Bruno Paulo recentemente mandou uma chuteira para mim", conta.

O ANO DA VIRADA

Depois da profissionalização em 2011 pelo Mogi Mirim, Vinícius Paquetá virou um andarilho do futebol. Em quatro anos, vestiu as camisas de Corinthians-AL, Portimonense (Portugal), Marília, Joseense, Goytacaz, América-RJ, Sampaio Corrêa-RJ e Icasa. Ao longo deste período, as experiências nem sempre foram boas - pelo contrário.

"Teve clube em que eu já cheguei querendo sair no primeiro dia… No Icasa mesmo (em 2015): fui para lá, joguei e não recebi nada", contou. "Lá no Flamengo, tinha psicólogo, nutricionista, fisiologista, tinha tudo que você imagina. No Vasco também tinha. Desde que saí de lá, o impacto foi bem grande", acrescentou.

A situação, porém, mudou em 2016 - e justamente ao se acertar com um clube de pouca projeção. Reforço do Campos para a disputa da Série B do Campeonato Carioca daquele ano, Vinícius Paquetá, ajudou o time a conquistar o segundo turno da competição - na fase final, o Campos foi vice-campeão. De quebra, Vinícius Paquetá ainda terminou a disputa como artilheiro, com 15 gols - quatro a mais que o experiente Schwenk, então no Nova Iguaçu.

"Sem dúvida, o ano de 2016 foi o melhor ano da minha vida profissional", contou o atacante, eleito pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) o craque daquela competição.

De quebra, em agosto de 2016, Vinícius Paquetá ainda ganhou sua primeira filha: nascia a menina Noemi, que mudaria também a vida do jogador fora dos campos.

“Eu fui criado sem pai. Isso sempre me incomodou, desde criança. A partir do momento que minha filha nasceu, vinha aquela lembrança de não ter um pai. Eu, por não ter tido um pai presente, isso me motivo muito mais a correr, a treinar, a jogar. Tudo que você imagina, eu penso na minha filha. Eu não encontro nem palavras. Ela é o maior estímulo para que eu possa conseguir chegar aos objetivos maiores da minha vida. Foi a melhor coisa que me aconteceu”, conta o jogador, criado pela mãe, Maria Luiza.

Em 2017, as coisas pareciam não caminhar tão bem. Titular do Campos nos cinco jogos do Grupo A do Campeonato Carioca, passou em branco em todos. Pior: o time acabou rebaixado novamente para a segunda divisão estadual - agora chamada de Série B1.

Ainda assim, o bom desempenho em 2016 abriu a Vinícius Paquetá as portas no Moto Club, no qual chegou em fevereiro. Com o apoio do técnico Ruy Scarpino, ganhou espaço no time titular - chegou inclusive a enfrentar o São Paulo pela Copa do Brasil. No entanto, com a chegada de Leston Júnior para a disputa da Série C, acabou indo para o banco de reservas.

Paquetá só foi ter chance como titular na oitava rodada, na derrota fora de casa para o Cuiabá. Com a demissão do treinador, o auxiliar Marcinho foi efetivado, e optou por manter o atacante no time titular. Nos dois jogos seguintes, duas vitórias por 1 a 0, contra Fortaleza e Sampaio Corrêa. Diante dos cearenses, coube ao próprio Vinícius Paquetá marcar o gol.

 Titular diante do Fortaleza, Vinícius Paquetá marcou o gol da vitória por 1 a 0 - Honório Moreira/Moto Club - Honório Moreira/Moto Club
Titular diante do Fortaleza, Vinícius Paquetá marcou o gol da vitória por 1 a 0
Imagem: Honório Moreira/Moto Club

"A gente deu uma alavancada na Série C. Sem dúvida, é um momento que eu já vinha esperando. Eu estava no banco, vinha treinando forte. É um momento que eu posso aproveitar, até para que minha carreira possa se projetar para algo maior", disse o jogador, que, aos 27 anos, ainda espera a chance de disputar competições de mais projeção.

"Tenho a meta aqui de poder subir a equipe do Moto. A minha maior meta hoje aqui, na minha vida profissional, é subir a equipe do Moto, para que clubes de maior expressão venham me enxergar aqui, venham ver meu futebol, para que portas venham a ser abertas. Para que eu possa chegar como o Camacho, como os meus amigos hoje estão, para que eu também consiga chegar. Neste ano, a meta, o foco que eu tenho na minha vida é este."