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SP mantém aposta em contratos curtos, mas se protege e tenta mudar perfil

Hernanes foi recebido pela torcida no Aeroporto de Guarulhos - Marcelo D. Sants/Framephoto/Estadão Conteúdo
Hernanes foi recebido pela torcida no Aeroporto de Guarulhos Imagem: Marcelo D. Sants/Framephoto/Estadão Conteúdo

Bruno Grossi

Do UOL, em São Paulo (SP)

22/07/2017 04h00

Desde 2005, com o sucesso relâmpago de Luizão e Amoroso, o torcedor do São Paulo acostumou-se a ver jogadores de peso chegarem para resolver, mas logo saírem, sem chance de uma permanência maior no clube. Passagens marcantes e contratos curtos que marcaram atletas como Adriano, Ricardo Oliveira, Kaká e Calleri. Um padrão que tornou-se característica do Tricolor e que volta à tona com a chegada do ídolo Hernanes.

O meio-campista, que desembarcou no Brasil na tarde da última sexta-feira, assinou por uma temporada, emprestado pelo Hebei China Fortune. Um período breve, que pode criar um sentimento de frustração na torcida pela rapidez e obrigar novos movimentos no mercado para reestruturar o elenco. Na visão do São Paulo, porém, o modelo era o único possível e traz somente cargas positivas. A prática de empréstimos curtos varia com a situação financeira do clube, o lugar em que o alvo ocupa no mercado e as necessidades pontuais do elenco. 

Sabe-se que não é o ideal ter Hernanes por apenas um ano, mas acredita-se que seria pior não ter nem sequer a oportunidade de trazê-lo de volta. E a única forma de tornar isso viável era propondo um empréstimo aos chineses a ainda contar com o poder de convencimento do jogador. Na realidade do futebol brasileiro e do Tricolor, igualar salários ou pagar a multa para um time da China é algo inatingível.

Hernanes, por exemplo, saiu da Juventus para o Hebei por cerca de 15 milhões de euros (R$ 54,7 milhões). Agora, na volta ao Morumbi, receberá R$ 500 mil do São Paulo e terá outra parte do salário bancada pelos chineses. Contratá-lo em definitivo seria impossível, como era com Jucilei em fevereiro. A solução também foi um empréstimo de uma temporada, liberado pelo Shandong Luneng. Agora, com caixa reforçado pela venda de atletas, comprar o volante passou ser uma possibilidade real e a diretoria já iniciou as negociações.

No atual elenco, os contratos mais curtos em vigência são os de Hernanes, Jucilei e Wellington Nem, todos com um ano de duração. Todos considerados jogadores de peso, com preço de mercado elevado, e que não estariam no grupo se não fosse o modelo de empréstimo. Conforme a recuperação financeira prosperar, a ideia é diminuir a quantidade de reforços emprestados, aumentar o período de cessão dos casos em que a compra ainda for inviável e deixar fixado um valor de compra.

Neste ano, o São Paulo já conseguiu diminuir a dependência dos empréstimos para ter grandes jogadores, como aconteceu em 2016 com Maicon e Calleri. Pratto e Petros, por exemplo, foram alvo de grandes investimentos e custaram juntos mais de 10 milhões de euros para serem referências no time. Rodrigo Caio e Cueva, outros destaques, tiveram contratos renovados até 2021. Ainda assim há diferenças: Pratto estava no futebol brasileiro, com salários mais próximos à realidade tricolor, e Petros defendia equipe do segundo escalão na Espanha, tornando um retorno ao Brasil favorável em termos de visibilidade.

Outro exemplo dessa mudança no perfil das contratações do Tricolor está nos recentes empréstimos de Aderllan e Marcos Guilherme. Em ambos os casos, os dirigentes lutaram para que a cessão fosse mais longa, de 18 meses, aumentando a margem para a adaptação dos reforços, para análise do desempenho e, se for o desejado, para levantar fundos para uma compra. É onde entra a importância do preço fixado no momento em que o empréstimo é fechado.

Quando o Porto aceitou emprestar Maicon, o São Paulo não tinha tempo para negociar e assumiu o risco de não fixar um valor. Assim, os lusitanos viram o zagueiro se valorizar nos seis meses de empréstimo e puderam ser irredutíveis ao pedir 12 milhões de euros. O Tricolor pagou metade e ainda repassou 50% dos direitos econômicos de dois garotos da base: Inácio e Luizão.

Há ainda casos como o de Calleri. A única forma do atacante argentino defender o São Paulo era por seis meses. O grupo de investidores que o comprou do Boca Juniors nem sequer pretendia a passagem pelo Brasil, que só aconteceu por demora para que o passaporte europeu do centroavante fosse tirado. O Tricolor, na época a pedido de Edgardo Bauza, entendeu que necessitava de mais um atacante, que Calleri poderia desequilibrar e apostou. Houve retorno em campo, com 16 gols em 31 jogos, mas ficou a sensação na torcida de "quero mais", o que custaria, ao menos, mais do que os R$ 42 milhões pagos pelo grupo ao Boca no fim de 2015.

Com proporções menores, também têm contratos curtos os atacantes Marcinho, Morato e Denilson, todos até o fim deste ano. São atletas jovens, pinçados em clubes periféricos e que chegaram com preço fixado para a compra, com prioridade para o São Paulo.