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Detran fará projeto de biometria para estádios do RJ; clubes foram contra

Graves incidentes em São Januário, no clássico Vasco x Fla, aceleraram medidas - Premiere/Reprodução
Graves incidentes em São Januário, no clássico Vasco x Fla, aceleraram medidas Imagem: Premiere/Reprodução

Bruno Braz e Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

26/07/2017 04h00

Os episódios de violência e selvageria no clássico entre Vasco e Flamengo, no último dia 8, em São Januário, seguem movimentando as autoridades no sentido de dar mais segurança aos estádios de futebol. Após reunião na semana passada com o Ministério Público-RJ e o Tribunal de Justiça-RJ, o Detran-RJ ficou responsável pela elaboração de um projeto que visa implementar um sistema de biometria para a identificação de torcedores em jogos no Rio de Janeiro com base no banco de dados do órgão.

A verificação de torcedores por impressões digitais é, na opinião de especialistas no assunto, a principal arma no combate à violência no futebol. Com a biometria, diz o Ministério Público, a Polícia Militar seria capaz de identificar torcedores com antecedentes na entrada dos estádios, o que poderia evitar cenas como a do último clássico entre Vasco e Flamengo, que terminou com a morte de um torcedor. 

Como contou a coluna de De Primeira, o MP tinha decisão favorável à implantação da biometria no Estado e viu a medida cair por força de liminar expedida pela 15ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça. Os quatro principais clubes do Rio de Janeiro, a CBF e a Ferj pediram a suspensão da instalação do sistema e foram atendidos, o que atrasou o processo.

No último dia 12, depois da barbárie em São Januário, o Ministério Público requereu a reconsideração da decisão, pedindo mais uma vez a implantação da biometria nos estádios. Agora, com a entrada do Detran no cenário, a situação pode ter um outro desfecho. No encontro entre as autoridades, ficou estabelecido um prazo de 30 dias para a entrega do projeto pelo órgão de trânsito. Após a aprovação, ele será levado ao conhecimento dos quatro clubes grandes, mas convencê-los não será uma tarefa fácil.

Num primeiro momento, o quarteto, além da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj), têm ressalvas por acreditarem na dificuldade de uma execução ágil do sistema nos dias de jogos, além de apontarem um alto custo na instalação da tecnologia.

Atlético-PR já utiliza sistema de biometria em seu estádio - Marco Oliveira / Site oficial do Atlético-PR - Marco Oliveira / Site oficial do Atlético-PR
Atlético-PR já utiliza sistema de biometria em seu estádio
Imagem: Marco Oliveira / Site oficial do Atlético-PR

Os órgãos, por sua vez, enxergam que, com a biometria, os clubes serão beneficiados e sofrerão menos sanções oriundas de baderneiros, pois ficará mais fácil a fiscalização e identificação dos torcedores impedidos pela Justiça de frequentarem os estádios.

No Paraná, por exemplo, a medida está avançada e o Atlético-PR já utiliza o sistema em seu estádio, a Arena da Baixada. O clube já tem todos os membros de organizadas cadastrados e agora tem ampliado o sistema para os demais torcedores.

O UOL Esporte entrou em contato com Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco e Ferj e ouviu de cada um suas respectivas opiniões sobre a biometria. A CBF não se posicionou sobre o assunto. Confira abaixo:

BOTAFOGO

“O preço de como isto seria implantado é um ponto. Além disso, como se faria na realização do jogo? Se fosse realmente implantado o torcedor teria que chegar 18h para um jogo das 22h. Isso tudo impossibilita. É algo surreal. Ainda não chegou o pedido de reconsideração do Ministério Público, mas se chegar, faremos a mesma coisa (tentar uma liminar)”.

Domingos Fleury, Vice-presidente jurídico do Botafogo de Futebol e Regatas

FLAMENGO

“Avaliamos que a implementação de um sistema de biometria na Ilha do Urubu é uma medida bastante complexa. Entre as dificuldades, está o fato de ser necessário haver no estádio algum sistema ‘backup’ de acesso de público. O que fazer caso o sistema de biometria sofra uma pane? É preciso pensar nisso”.

Assessoria de imprensa do Clube de Regatas do Flamengo

FLUMINENSE

“A segurança nos estádios é de extrema importância para o Fluminense Football Club. No entanto, o fundo do problema é de segurança pública, o que acarreta que os investimentos das medidas necessárias são do Poder Público. Em especial, os custos da biometria são bem altos e de difícil operacionalização. Mas o Fluminense se disponibiliza a dar qualquer tipo de suporte, desde que seja dentro das condições atuais do clube, visando garantir a maior segurança para o torcedor carioca”.

Assessoria de imprensa do Fluminense Football Club

VASCO

“Todas as medidas que visam o bem do futebol são úteis. Agora, tem que saber se elas podem ser aplicadas. Como se aplica esse sistema? Só nos estádios do Rio ou de todo o Brasil? Eu assisto um jogo fora do Rio, lá eu serei identificado? Na prática, acho muito bom. Quero ver se funciona. Não sou contra a biometria, aliás, não sou contra a nada que venha a beneficiar. Mas tem determinadas medidas que só vêm cada vez mais dificultar que o torcedor venha ao estádio”.

Eurico Miranda, presidente do Club de Regatas Vasco da Gama

FERJ

“A Ferj não se opõe a nenhuma medida que possa contribuir para a solução da violência. Entretanto entende que essas medidas devem ser fundamentadas e originadas, de estudos e debates, em conjunto, entre Clubes, Federação, Confederação, Segurança Pública, Poder Judiciário, Ministério Público e Justiça Desportiva, para que tenham eficácia. Somos a favor de minimizar os problemas, aumentar os mecanismos de prevenção e punir rigorosamente todo aquele que for autor de atos de hostilidade, selvageria e vandalismo.

Repito: não somos contrários à instalação da biometria. Apenas há o entendimento que, de forma isolada, genérica e não criteriosa, além de onerosa trará pouca contribuição. Cremos que a prioridade deveria contemplar o rigoroso controle no cumprimento das decisões proibitivas a que determinados indivíduos frequentem as praças desportivas e fiquem sob a cautela policial, nos horários determinados judicialmente, sob pena de agravamento da sanção no caso de desobediência. Isso, o que se sabe, não está sendo colocado em prática e relegada à menor importância. Defendemos uma força-tarefa para que cada segmento, com sua expertise, forme um conjunto sólido e homogêneo. A FERJ abomina a violência e apoia o real combate, na proporção que se coloca à disposição para debater, estudar e encontrar soluções”.

Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj)