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Time surgiu com anarquistas e sobrevive com 38 sócios e campo emprestado

Time do Alto Perú joga na terceira divisão uruguaia - Reprodução/Twitter
Time do Alto Perú joga na terceira divisão uruguaia Imagem: Reprodução/Twitter

Do UOL, em São Paulo

31/07/2017 04h00

O time tem apenas 38 sócios, não possui um campo próprio e só pode treinar 1h30 por dia. Embora não faltem obstáculos, o Club Atlético Alto Perú se mantém vivo desde 1940. Talvez sua origem no anarquismo o inspire, mas até a ideologia já se perdeu pelo caminho dessa equipe que disputa a terceira divisão do Uruguai.

A maior dificuldade atual é a falta de um lugar próprio para treinar. O Alto Perú depende do favor de um colégio de Montevidéu para poder se preparar. Como a equipe é amadora, todos os jogadores têm outros empregos. Assim, só consegue iniciar os treinos às 16h30. Às 18h, no entanto, acaba a luz natural, e o campo não tem iluminação artificial.

“Quando os dias tiverem mais horas de sol teremos mais tempo para treinar e vamos seguir melhorando”, projeta o técnico José De La Quintana, à frente do time desde 1996, em entrevista ao “La Diária”.

O campo emprestado também rendeu alguns jogadores ao Alto Perú. Isso porque a equipe não disputou a Segunda Divisão Nacional B (a terceira divisão) em 2016 e começou a atual temporada com apenas seis jogadores. Quando eles passaram a treinar no colégio, outros interessados do bairro se juntaram à equipe e completaram o elenco.

O Alto Perú não tem “casa própria” desde 1982. “O terreno era municipal. Em 1978, os militares nos deram dois anos para pagar por ele e depois prorrogaram o prazo por mais dois anos. Mas era muito caro. E nunca mais nos ofereceram um terreno”, relembra Antonio De La Quintana, 80 anos, pai do treinador e dirigente do time há 32 anos. Ele diz não saber se o fato de o time ter surgido pelas mãos de anarquistas influenciou na postura dos militares.

Em 1969, o Alto Perú quase conseguiu comprar o terreno. Contava com a renda de uma partida contra o tradicional Nacional por um novo torneio nacional. “Mas naquele dia caiu um dilúvio, ninguém foi ver o jogo e ainda perdemos por 5 a 0”, diz Carlos Acosta, de 89 anos, presidente do clube.

Dos 38 sócios atuais, inclusive, alguns já têm mais de 100 anos. O anarquismo que fez o clube nascer em 1940 não existe mais. “Não sobrou nada daquele espírito. Só ficaram as cores (preto e branco), mas a ideologia não existe mais”, emenda Quintana.

Do seu jeito, o Alto Perú sobrevive. O presidente conta que empresários já tentaram comprar o clube, mas eles recusaram deixar a administração na mão de “pessoas que deixam dívidas e vão embora”.

O time já disputou algumas temporadas na segunda divisão e chegou perto da elite uruguaia, com campanhas em terceiro e quarto lugar. Também houve um título do Apertura da terceira divisão em 2006. Agora, resta muita história e esperança.