Neymar seria mais um troféu para proprietários qataris do PSG
A iminente transferência recorde de Neymar para o time de futebol francês Paris Saint-Germain é um marco para um clube determinado a conquistar os principais troféus da Europa. Ela também é vista como uma declaração política de seu rico proprietário: o Qatar.
O dono do PSG é Nasser Ghanim Al-Khelaifi, que é frequentador assíduo em partidas do PSG e possuiu uma quantia financeira astronômica. Pela sonhada Liga dos Campeões, Nasser está perto de desembolsar 222 milhões de euros (cerca de R$ 815 milhões) para recrutar Neymar nas próximas horas.
Nasser Ghanim Al-Khelaifi é próximo do emir do Qatar. O dinheiro da transação tem como berço o fundo de investimentos Qatar Sports, que pertence ao mandatário do PSG.
Se concretizada, a transferência seria apenas o último de uma série de acordos de grande destaque do Qatar desde junho, quando uma aliança liderada pelos sauditas cortou laços com o país do Golfo depois de acusá-lo de patrocinar o terrorismo. Desde então, o maior exportador mundial de gás natural liquefeito fechou acordo para a compra de caças F-15 dos EUA e de sete navios de guerra da Itália e flertou com a ideia de adquirir uma participação American Airlines. Mesmo que os preparativos para esses negócios sejam anteriores ao impasse, os analistas afirmam que o Qatar está determinado a mostrar que não foi afetado pela crise.
"O Qatar não se rendeu, está partindo para o contra-ataque -- e a contratação de Neymar é parte disso", disse Simon Chadwick, professor de negócios esportivos da Universidade de Salford, no Reino Unido. "É uma ofensiva de charme uma postura indireta de poder -- há algo de diplomacia internacional em tudo isso. A última coisa que a Arábia Saudita quer é que pessoas de todo o mundo falem sobre o Qatar", sobre seus investimentos nos esportes e sobre Neymar, disse ele.
Duas décadas
A Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein e o Egito cortaram ligações diplomáticas e de transporte com o Qatar em 5 de junho, acusando o país de apoiar grupos extremistas em todo o Oriente Médio e de se aliar ao rival regional da Arábia Saudita, o Irã. O Qatar negou diversas vezes as acusações.
No cerne da disputa está o esforço de duas décadas do Qatar para desenvolver uma política externa em certos momentos divergente da de seus vizinhos. O país apoiou a Irmandade Muçulmana no Egito, o Hamas na Faixa de Gaza e facções armadas adversárias dos Emirados Árabes Unidos ou da Arábia Saudita na Líbia e na Síria. Em diversas ocasiões, sua emissora de televisão, a Al Jazeera, incomodou ou irritou a maioria dos governos do Oriente Médio.
O Qatar também é conhecido por torrar dinheiro em ativos-troféu, por exemplo na forma de participações em empresas internacionais como Glencore e Rosneft Oil e na aquisição de propriedades famosas de Londres, como o Shard. País desértico com poucas conquistas esportivas internacionais, o Qatar surpreendeu ao conquistar o direito de organizar a Copa do Mundo de 2022.
"O Qatar não usa ferramentas econômicas para prejudicar seus parceiros comerciais", disse o ministro das Finanças do Qatar, Ali Shareef Al Emadi, em editorial publicado pela Bloomberg na semana passada. "Também não utilizamos acordos comerciais para obter ganho político”.
A contratação de Neymar pode ser um tiro pela culatra para o Qatar, especialmente se os torcedores das outras equipes a considerarem prejudicial aos seus interesses -- seja aumentando os preços dos ingressos, seja diminuindo a competitividade de suas ligas, disse Marc Ganis, presidente da empresa de marketing Sportscorp. Mesmo do ponto de vista comercial, a operação foi exagerada, disse ele.
"A quantia a ser paga por Neymar é impressionante sob qualquer aspecto", disse Ganis por e-mail. "Qualquer aumento que possa ser gerado com a chegada de Neymar ao clube seria uma gota no oceano em relação ao valor que eles pagariam por este único jogador”.
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