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Aplausos, choro, chapéus e ídolos: o dia de sonhos da Chape no Camp Nou

Astros do Barcelona e sobreviventes da Chape - Reprodução / Twitter Chapecoense - Reprodução / Twitter Chapecoense
Imagem: Reprodução / Twitter Chapecoense

Thiago Arantes

Colaboração para o UOL, em Barcelona

08/08/2017 04h00

O placar no final do jogo mostrava 5 a 0 para o Barcelona. Mas a edição deste ano do Troféu Joan Gamper, amistoso que encerra tradicionalmente a pré-temporada do clube catalão não será lembrado pela goleada. A segunda-feira, 7 de agosto de 2017, ficará marcada na história de um dos maiores clubes do mundo por ser um dia único.

O dia em que a torcida culé – foram 64.705 presentes – aplaudiu mais o adversário que o próprio time. Em que uma substituição aos 35 minutos do primeiro tempo foi mais celebrada que um gol de Messi: Alan Ruschel, lateral que sobreviveu à tragédia de novembro passado, foi ovacionado, de pé, em um dos grandes momentos de um amistoso histórico. Foram muitos.

Logo depois de apresentar seu elenco para a temporada 2017-18, uma tradição do Gamper, o Barcelona fez uma bonita homenagem ao time catarinense. Uma festa que ficou mais emocionante quando os três sobreviventes pisaram no gramado do Camp Nou. Ruschel tinha a braçadeira de capitão; Neto levava as duas mãos ao rosto, em um vão esforço para conter as lágrimas que emocionavam também os presentes ao estádio; Jackson Follmann, com uma prótese na perna esquerda, voltava a sentir-se como um jogador.

“Foi a primeira vez que vesti a roupa de goleiro desde o acidente. Sabia que seria difícil me conter, foi uma emoção muito grande”, disse. Além de ter colocado as luvas pela primeira vez, ele foi o responsável pelo pontapé inicial do confronto.

Neto, Follmann e Ruschel -  -

Em campo, a Chapecoense não teve muitas escolhas. “Vamos jogar para aproveitar o momento e tentar aprender um pouco”, disse o atacante Wellington Paulista, que já havia marcado um gol no estádio, pelo Alavés, na temporada 2006-07. O time aproveitou, aprendeu... E passou boa parte do jogo defendendo-se para evitar uma goleada de grandes proporções. 

Um dos responsáveis pelo 5 a 0 – poderia ter sido bem pior – foi o goleiro Elias. Terceira opção do elenco, ele foi escalado como titular e fez pelo menos cinco defesas complicadas, duas em chutes de Messi, três em conclusões de Suárez. “É um jogo que vai ficar sempre na memória de todos, especialmente na minha, pela atuação que tive”, disse, em entrevista ao “SporTV”. 

Arthur, goleiro que entrou no segundo tempo, também teve seu momento de glória. Aos 44 minutos do segundo tempo, o ex-goleiro de Benfica e Roma defende um pênalti cobrado por Paco Alcácer. Fato inédito, a torcida no Camp Nou comemorou e gritou o nome do time visitante.

Outro que brilhou foi o lateral-direito Apodi. Com dois chapéus em Jordi Alba, o carismático potiguar foi “adotado” pelo Camp Nou e – exceção feita Alan Ruschel – foi o mais aplaudido pelo estádio. Na saída de campo, derreteu-se em elogios ao rival. “Eles são demais, a qualidade é muito acima, tanto na tática como no individual. Tivemos o privilégio de ver isso de perto”.

Deulofeu comemora gol - Josep Lago/AFP - Josep Lago/AFP
Imagem: Josep Lago/AFP

A história da Chapecoense, seja pela superação dos sobreviventes ou pela disposição dos novos jogadores a ajudarem a reconstrução do time, emocionou também as estrelas do Barcelona. “Os jogadores da Chapecoense são heróis e mereciam jogar no Camp Nou. Foi muito emocionante tudo o que vivemos hoje”, disser Gerard Deulofeu, atacante que jogou na posição de Neymar e marcou o primeiro gol do duelo.

O goleiro Ter Stegen, que durante a tarde já havia feito homenagens em suas redes sociais e pediu para encontrar com Follmann antes do jogo, também se emocionou. “Foi um jogo especial. É um prazer poder participar de algo assim e poder ajudar a Chapecoense. Eles podem contar com a nossa ajuda”.

Duas maiores estrelas do Barcelona, Lionel Messi e Luis Suárez também fizeram parte do dia mágico da Chapecoense no Camp Nou. Antes da partida, ambos encontraram-se com os três sobreviventes do desastre aéreo para conhecê-los e conversar um pouco.

O argentino trocou a camisa com Alan Ruschel no final do primeiro tempo, realizando o sonho do brasileiro, e além disso autografou uma camisa da Chapecoense do lateral. “Foi muito bom poder conversar com o Messi e o Suárez, eles são muito humildes e merecem tudo o que ganharam na vida.”

Depois de viver um dos dias mais emocionantes de sua história, a Chapecoense viaja para a França na terça-feira, para um jogo-treino com o Lyon. Na quarta, o time embarca para o Japão, onde enfrenta o Urawa Red Diamonds, no dia 15, pela Copa Suruga. No dia 1º de setembro – depois dos confrontos com Palmeiras, Corinthians e Avaí pelo Brasileiro –, a delegação volta à Europa para um amistoso com a Roma.