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Suspenso, Modesto Roma participa de evento do Santos e se recusa a falar

O presidente do Santos Modesto Roma foi suspenso por 120 dias no STJD - Luiz Fernando Menezes/Folhapress
O presidente do Santos Modesto Roma foi suspenso por 120 dias no STJD Imagem: Luiz Fernando Menezes/Folhapress

Samir Carvalho

Do UOL, em Santos (SP)

10/08/2017 14h20

Um dia após ser suspenso pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) por 120 dias por acusar sem provas interferência externa em um pênalti anulado contra o Flamengo, o presidente Modesto Roma participou de um evento do Santos na Vila Belmiro.

O mandatário santista participou da inauguração de novas bilheterias da Vila Belmiro nesta quinta-feira. Ele ficou no evento por cerca de 30 minutos. Modesto cortou a fita de inauguração da bilheteria, tirou fotos com os torcedores, mas se recusou a falar com a imprensa.

Segundo assessoria de imprensa do Santos, Modesto Roma foi orientado a não conceder entrevistas. Eles ainda alegaram que o dirigente esteve presente por não se tratar de um evento esportivo. Para o clube paulista, o lançamento de uma nova bilheteria se trata de um evento social. Vale ressaltar que a punição só entra em vigor 24 horas após o julgamento. O presidente santista teve a suspensão decretada pelo STJD após às 18h (de Brasília) desta quarta-feira.

Santos deve entrar com efeito suspensivo

Modesto Roma recebeu pena de 120 dias e multa de R$ 100 mil em sessão marcada por clima tenso e decisão dividida. O presidente da comissão chegou a reclamar que o jurídico dos paulistas estava desrespeitando o órgão. Com a suspensão, Modesto, que não esteve no julgamento, não poderá assinar qualquer documento, frequentar vestiário ou áreas reservadas a dirigentes, dar entrevistas ou representar o Santos em eventos oficiais. O julgamento foi realizado na terceira comissão disciplinar do STJD - o que admite recurso, portanto. O tribunal, em contrapartida, ainda avalia abrir novo processo para apurar depoimento apresentado pelo clube - não houve confirmação sequer de que o torcedor citado estava no estádio.

O Santos estuda a possibilidade de um efeito suspenso para Modesto Roma. "Vamos entrar amanhã [quinta-feira] com um pedido de efeito suspensivo e vamos recorrer ao pleno", disse Márcio Andraus, advogado do Santos na sessão do STJD. "Já há um procedimento aberto em relação a esse fato e tem tudo para acontecer alguma coisa em relação à saída do advogado de defesa, que afirmou que não houve interferência", respondeu o subprocurador Glauber Navega.

Eric Faria também não compareceu - alegou compromissos profissionais -, mas mandou um e-mail com relato sobre o episódio: "Venho ratificar, novamente, o que aconteceu naquele dia: cumpri todo o protocolo – rígido – da CBF e não mantive nenhum tipo de contato citado com o quarto árbitro".

A procuradoria do STJD começou o julgamento cobrando provas das acusações que Modesto havia feito a Eric Faria. O advogado do Santos, em contrapartida, respondeu que o presidente do Santos não estava no Brasil quando o clube endereçou um ofício à CBF (Confederação Brasileira de Futebol) - chefiava a delegação da seleção brasileira feminina em amistoso nos Estados Unidos. Na tréplica, os acusadores citaram entrevista do dirigente ao canal fechado "ESPN Brasil".

Flávio Rodrigues, quarto árbitro da partida em questão, também foi ouvido. "O único diálogo meu com árbitro foi para dar minha opinião do lance, solicitada por ele. 'Estou longe, mas daqui parece ter pego apenas na bola'. Mas não tive nenhuma conversa com Eric ou outro profissional de imprensa", disse ele.

O Santos reconheceu que não houve interferência externa. No julgamento, o departamento jurídico do clube trabalhou mais para reduzir a pena de Modesto do que para contestar as acusações.

Modesto havia sido denunciado nos artigos 1, 191 e 258 do CBDJ (Código Brasileiro de Justiça Desportiva) após celeuma em partida válida pela Copa do Brasil deste ano. Na ocasião, acusou Eric Faria, repórter da TV Globo, de ter incitado os profissionais de arbitragem a anular a marcação de um pênalti favorável ao Santos.

Na visão do tribunal, Modesto infringiu a imagem e a credibilidade do torneio ao fazer uma acusação sem provas. O árbitro Leandro Vuaden chegou a anotar a penalidade no lance em questão, mas mudou de ideia posteriormente. Segundo o presidente do Santos, isso teria acontecido por influência direta de Eric Faria, amparado por imagem da TV – a ação de um elemento externo ao campo de jogo é proibida pela Fifa.

O Santos fez um pedido formal à CBF para que o jogo contra o Flamengo fosse anulado por causa do episódio. Também enviou ao STJD uma lista de elementos que, na visão do clube, corroborariam a tese de que Eric Faria interferiu. Segundo o UOL Esporte apurou, o compilado pelo departamento jurídico alvinegro incluiu até um depoimento de um torcedor que estava em um camarote próximo do posicionamento do repórter.

O dossiê elaborado pelo Santos, contudo, não tem nenhuma prova indiscutível da ação de Eric Faria. Não há vídeo ou áudio que mostre que o repórter efetivamente avisou que o lance havia sido irregular.

Segundo a procuradoria do STJD, essa sequência de fatos e as entrevistas que Modesto deu a canais de televisão configuram acusação sem provas. Portanto, o órgão rejeitou a denúncia do Santos e montou uma acusação contra o mandatário. Ele poderia ter recebido pena de até seis meses de suspensão, além de multa entre R$ 100 e R$ 100 mil.

Eric Faria e Globo já haviam se manifestado sobre o caso

A fragilidade da argumentação do Santos já havia sido criticada por TV Globo e pelo próprio Eric Faria. O repórter, em depoimento publicado na rede social Twitter, chamou as acusações de “levianas”O canal emitiu nota oficial sobre o caso e afirmou repudiar a postura do time paulista.