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Primo e "espelho": As lições de Caio Júnior para Preto Casagrande

Preto Casagrande abraça os primos Caio Júnior (dir.) e Duca (esq.), ambos vítimas  - ArquivoPessoal/Reprodução
Preto Casagrande abraça os primos Caio Júnior (dir.) e Duca (esq.), ambos vítimas Imagem: ArquivoPessoal/Reprodução

Roberto Oliveira

Colaboração para o UOL, em Recife

02/09/2017 04h00

Recém-efetivado no Bahia, Preto Casagrande encara seu primeiro desafio como técnico. Após período de cinco jogos como interino à frente da equipe, ele assumiu de vez a missão de evitar o rebaixamento do tricolor baiano. Para isso, conta com as lições de futebol e o exemplo de vida deixados pelo primo Caio Júnior, treinador que morreu na queda do avião da Chapecoense.

“O Caio sempre foi referência para toda família e para mim”, diz ele em entrevista ao UOL Esporte sobre o primo de primeiro grau – a mãe de Caio é irmã do pai de Preto . “Saiu de Cascavel [município no interior do Paraná] cedo para ser jogador, para ir pro Grêmio. Sempre foi visto como exemplo de caráter, índole, um bom pai, irmão, filho, isso serviu como espelho para mim.”

Dez anos mais novo, Preto perdeu um pouco de contato com Caio na infância e na adolescência, devido à carreira do primo como jogador. Profissão que ele mesmo decidiu seguir anos depois. Durante um bom tempo, o principal contato entre eles acontecia anualmente, “no futebolzinho de fim de ano com a família”. O que o futebol ajudou a distanciar, porém, o futebol ajudou a reunir.

“Quando ele trabalhou no Vitória, e eu estava no Bahia, a gente se reaproximou. Tivemos contato direto, troca de informações, de ideias sobre futebol, sempre o ouvi com atenção e carinho”, conta Preto, que foi volante de destaque, vencedor da Bola de Prata do Brasileirão 2001.

“Aí, depois que surgiu para mim a possibilidade de trabalhar com futebol novamente, e as ideias, a maneira como ele encarava cada jogo, me serviram. Sem dúvida ele influenciou minha forma de entender futebol”, acrescenta.

Quais seriam, então, as lições que o iniciante Preto Casagrande aprendeu com o primo e já técnico profissional Caio Júnior?

“A questão da disciplina tática, estudar o adversário, estar atento aos mínimos detalhes, ser perfeccionista... Tudo isso o Caio sempre me passou. A maneira de ser, a concentração no jogo, o respeito, principalmente o respeito dos atletas um com o outro e perante a comissão técnica, essa conduta sempre foi um espelho”, destaca.

“E com relação à parte tática, a importância da disciplina, ele jogou muito tempo em Portugal e a disciplina lá é maior, é mais natural, ele sempre batia nessa tecla. Ser organizado em campo, disciplinado taticamente, e cobrar isso diariamente dos jogadores.”

O pedido não recebido

O Brasil viveu um dos dias mais tristes e dramáticos de sua história no dia 29 de novembro de 2016. O avião que levava a delegação da Chapecoense para Medellín, na Colômbia, onde o time de Chapecó enfrentaria o Atlético Nacional na primeira partida da final da Copa Sul-Americana, caiu.

Morreram 71 pessoas – entre as vítimas, além de Caio Jr., estava seu auxiliar técnico, Eduardo de Castro Filho, conhecido como “Duca”. Foram duas perdas doídas para Preto.

“O Duca faleceu junto com ele na tragédia. Era meu primo-irmão. Cresceu junto comigo. Era sobrinho dele e meu primo de segundo grau”, revela o técnico do Bahia, sobre o amigo e parente que costumava dividir com ele as “peladas” de fim de ano de Caio Jr.

Preto sabia da importância daquela final para os primos. À época já membro da comissão técnica permanente do Bahia, ele planejou viajar à Chapecó para assistir à partida de volta contra o Atlético Nacional na Arena Condá. Já havia até mesmo organizado o traslado até Santa Catarina, quando mandou mensagem a Caio Jr. e Duca com um pedido.

“Eu comprei as passagens para o jogo de volta, mandei um ‘zap’ para os dois, para reservaram dois ingressos. Sabia da importância daquele momento na carreira deles, eu fazia questão de ir naquela final, eu e meu filho. Mandei à noite, eles já estavam no avião, meu pai me ligou 5 da manhã, aqui em Salvador, e começou a chorar. A gente ficou até umas 14h com esperança. Eles não chegaram nem a ler a mensagem...”