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A história por trás do beijo na boca entre jogadores que virou bandeira gay

A famosa foto do beijo de Alan Birch (esq.) e Tony Currie (dir.) - Reprodução
A famosa foto do beijo de Alan Birch (esq.) e Tony Currie (dir.) Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

05/09/2017 04h00

“O beijo”. Assim, de forma direta e clara, ficou conhecida uma das imagens mais famosas do futebol inglês nos anos 1970. E ela resume precisamente o que Tony Currie, então no Sheffield United, e Alan Birchenall, do Leicester City, fizeram em campo. Um gesto de carinho e diversão entre amigos, durante um jogo do Inglês de 1975, marcou para sempre a trajetória dos jogadores e virou até símbolo gay.

O beijo na boca de Currie e Birch foi resultado de uma brincadeira entre amigos. Currie, atacante do Sheffield, estava ajudando seu time na defesa e disputou uma bola com Birch. Eles se enrolaram e caíram no gramado. Quando perceberam, estavam sentados, lado a lado.

Conhecido por seu estilo irreverente, Birch olhou para seu amigo e reagiu sem pensar: “Me dá um beijo”. Currie entrou na diversão e eles deram um beijo rápido, um “selinho”. Levantaram-se e o jogo continuou.

Reprodução de reportagem sobre o beijo de Tony Currie e Alan Birch - Reprodução - Reprodução
Sequência mostra como foi o beijo dos dois amigos em jogo do Inglês
Imagem: Reprodução

No dia seguinte, no entanto, o “Sunday Mirror” não destacava a vitória por 4 a 0 do Sheffield, mas, sim, o beijo dos dois jogadores. Um fotógrafo do jornal havia captado a sequência de imagens.

Os dois jogadores eram parecidos: estilosos, loiros, de cabelo comprido e personalidade forte. Birch, o que pediu o beijo, era conhecido também por sua amizade com George Best, seu companheiro de bebidas.

“Quando acordei no dia seguinte, minha mulher entrou irritada no quarto e jogou o jornal na minha cara”, recordou Birch em livro sobre a carreira de Currie. “Pelas fotos e pela reação dela, parecia que nós tínhamos feito muito mais coisas”, emendou, bem humorado.

A foto ganhou a Inglaterra e se espalhou pela Europa. Na Alemanha, os dois jogadores descobriram que haviam se tornado símbolo da comunidade gay. Foram capa de uma publicação que lutava pelos direitos dos homossexuais. Birch recebeu o convite para escrever uma coluna semanal para outra publicação voltada para o público gay.

“Na hora do beijo não havia passado pela minha cabeça se poderia ser algo gay. Foi algo instintivo. Naquela época, isso era um tabu. Todo dia sou lembrado por isso. E nem eu nem o Tony nos arrependemos. Foi um momento de diversão entre dois amigos. Tenho muito orgulho do que fizemos”, acrescentou Birch.

Os dois jogadores são amigos até hoje e se encontram com frequência. Também é comum que reproduzam aquela cena, às vezes na frente da imagem gigante do beijo que fica no estádio do Leicester. “Todos os anos repetimos aquele beijo, mas o Tony está mais feio a cada ano”, diverte-se Birch.