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Presidente de comissão do Inter: "não vamos varrer para debaixo do tapete"

José Amarante é presidente da Comissão Especial no caso de crise financeira - Reprodução/Twitter
José Amarante é presidente da Comissão Especial no caso de crise financeira Imagem: Reprodução/Twitter

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

06/09/2017 10h00

José Amarante, presidente da Comissão Especial criada pelo Conselho Deliberativo do Inter para fazer uma sindicância sobre o apresentado no diagnóstico da empresa Ernst & Young, garantiu, ao deixar a reunião de terça-feira, que nada será varrido para debaixo do tapete. O conselheiro quer ouvir justificativas sobre o caso e em 30 dias entregará aos colegas de casa um retrato do que de fato aconteceu.

"A responsabilidade é muito grande. É uma situação que nenhum colorado gostaria de participar. Chamado, convidado, nenhum conselheiro pode fugir do convite. O prazo é 30 dias e pode ser prorrogado desde que justifique-se o motivo. A minha ideia é concluir isso. Vou começar amanhã, chamando a comissão. E a partir de amanhã vamos estabelecer os pontos. Nesta noite se apresentou uma síntese, que dá indícios de irregularidades, mas só indícios. Temos que ver o que são esses indícios para ver se não são até falhas de trabalho. O Inter passa por uma remodelação. Temos que ver se as rotinas não foram feitas erradas por correção de rumos, se algo não foi feito de forma errada", afirmou.

A ideia é que em 30 dias possam ser ouvidos os responsáveis pela gestão 2015/2016 do clube, presidida por Vitório Píffero, que sequer esteve presente na reunião. Além de Amarante, a comissão é formada por Vitor Hugo Zaideli, Emílio Papaléo, Paulo Roberto Carvalho, Luiz Antonio Lopes e Evandro Rodrigo.

"Hoje é a última vez que falo com a imprensa até daqui a 30 dias. Enquanto não concluir o trabalho, não vou falar com a imprensa. É uma responsabilidade muito grande. Há nomes de pessoas envolvidos. Pessoas que já prestaram serviços enormes ao Inter. E não vou fazer um trabalho leviano. Todos terão direito ao contraditório. Não haverá mácula alguma em relação ao nome de pessoas. Ninguém da comissão estará autorizado a falar sobre este assunto e eu pedirei que nenhum membro participe de nenhum programa até a conclusão dos trabalhos. Para mostrarmos para o conselho que o trabalho é sério e o que queremos fazer. É uma mudança de paradigmas na administração de clubes brasileiros. O Inter não vai varrer para debaixo do tapete nenhuma sujeira, mas também não jogará na lama o nome de qualquer pessoa", acrescentou Amarante.

O relatório especializado mostrou uma série de irregularidades. Uma empresa com quatro endereços iguais recebeu R$ 9 milhões sem qualquer comprovação. Foram adiantados R$ 5,5 milhões em dinheiro. Perto de R$ 18 milhões aplicados sem a devida procedência.

Além disso, recibos sem nota fiscal. Notas seriadas, sem comprovação de serviços ou obras. E, por fim, foi atestado um "alto risco contábil" e "risco alto de fraude".

Segundo apurou o UOL Esporte, o montante de dinheiro sem justificativa regular beira os R$ 40 milhões.

"Assustado não estou, porque se vê cada coisa no Brasil que não podemos mais nos assustar. Mas são situações graves. Se aquilo for verdade, é grave. Até dizer que houve erro, fraude, algo do ponto de vista criminoso ou reparação cível, seria leviano falar. Vamos concluir os trabalhos e depois de concluído divulgaremos ao Conselho e a imprensa saberá. Nossa função não é condenar. É apurar e apresentar para o Conselho tomar a decisão", completou.

A ideia é ser justo e firme, mesmo que toda cautela seja adotada para não manchar a história de algumas pessoas no clube.

"Se eu aliviar para qualquer pessoa, qualquer procedimento, eu deixo de ser um colorado. Nosso procedimento será com base técnica, sem revanchismo. Temos que separar a situação de estarmos na Série B, da gestão anterior ter nos colocado lá. Isso é irrelevante. O que vamos ver é o momento das contas, nada diferente disso. Não levaremos em conta nada estranho ao que for documento", acrescentou.

MP pode intervir

O Ministério Público pode se tornar também participante deste processo. A entidade, a partir dos relatos da imprensa, pode intervir para pedir esclarecimentos sobre os procedimentos que geraram o 'risco de fraude' apontado pela Ernst & Young em relatório. Não é necessário esperar a sindicância interna do clube ou mesmo a denúncia partir de terceiros. Basta que a entidade sinta-se interessada no processo.