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No aniversário de Mario Sergio, viúva relembra despedida e luta por justiça

Facebook/Reprodução
Imagem: Facebook/Reprodução

Lara Mota

Colaboração para o UOL

07/09/2017 04h00

Nove meses se passaram desde a tragédia envolvendo o avião da Chapecoense mas, para as famílias das vítimas, a lembrança e a saudade continuam muito presentes. Para os filhos e a viúva do comentarista Mario Sergio Pontes de Paiva, o dia 7 de setembro é ainda mais marcante. Nesse feriado, o ex-jogador da seleção brasileira completaria 67 anos. 

Carioca, Mario começou a carreira no Flamengo e depois defendeu Fluminense, Vitória, Botafogo, Internacional, São Paulo, Grêmio (onde foi campeão do mundo) e Palmeiras. Chegou à seleção em 1981 e vestiu a camisa do Brasil até 1985. Depois veio a carreira de treinador, polêmica mas, acima de tudo, com passagens importantes em vários grandes clubes do país, como Corinthians e São Paulo, por exemplo. Quando estreou como comentarista esportivo, veio outra grande mudança: conheceu a segunda esposa, Mara.

Executiva, bem-sucedida, 16 anos mais jovem. Um casal que parecia improvável, mas que ficou junto por 26 anos. Os dois têm um filho, Felipe, hoje com 20 anos, e tinham uma relação de cumplicidade e parceria. Mas tudo mudou na madrugada daquele 29 de novembro de 2016. Foi Mara quem levou Mario ao aeroporto. Ela ainda se emociona ao lembrar.

"Nós chegamos e nos comunicaram que a ANAC não tinha aprovado a saída do voo da Lamia e que eles teriam que aguardar uma solução. Eu perguntei: você quer que eu fique com você? Ele disse que não era preciso porque já estava com outros colegas de trabalho. Eu ainda olhei para um deles e disse: 'cuida bem do meu amor!'", disse Mara Paiva.

Sofrimento no início e luta pelas famílias das vítimas

Mara Paiva e Fabiene Belle - Nacho Doce/Reuters - Nacho Doce/Reuters
Ao lado de Fabiene Belle, Mara Paiva montou associação para família das vítimas
Imagem: Nacho Doce/Reuters

Depois da tragédia, Mara reuniu forças para criar em parceria com Fabienne Belle (viúva do fisiologista Cezinha) a AFAV-C, Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo da Chapecoense. Os últimos meses foram de muito trabalho.

"Legalmente a associação existe há um mês e meio, mas a ideia foi gestada por pelo menos três meses", afirmou. "Nos dois primeiros meses nós ainda não tínhamos noção da brecha que tinha sido aberta nas nossas vidas por causa do acidente. A minha maior indignação era não perceber que o valor pessoal e profissional do meu marido tinha sido reconhecido. E eu comecei a projetar isso para as outras famílias".

Hoje a AFAV-C tem quase 60 membros associados e Mara, muitas vezes, enxuga o choro para consolar outras vítimas que a procuram por causa da associação. "Na medida que você acolhe o outro, você também é acolhido. Principalmente em um momento de dor", diz.

Ao longo de toda essa luta, a figura de Mario Sergio sempre esteve muito presente. Até hoje a viúva recebe muito carinho de amigos e fãs do ex-jogador.

Mais do que isso, o temperamento forte de Mario muitas vezes se mescla ao de Mara, que busca forças nas memórias do marido para encarar as adversidades. "Muitas vezes eu percebo que esse processo, embora dolorido e muito penoso, fez com que eu amadurecesse. Hoje eu tenho outro crivo. E acho que hoje ele - o Mario - é mais ainda uma referência para mim. Já era, agora é ainda mais".

Último recado de amor

No ano passado, poucas semanas antes do trágico acidente, Mario deu a última entrevista da vida dele ao UOL Esporte e nela fez uma declaração de amor à Mara. "Foi o último recado que ele deixou para mim. Parecia que ele estava prevendo", diz ela.

"Éramos uma dupla. Parceria total. As pessoas não conseguiam me ver sem ele e nem a ele sem mim. Ainda estou tendo que aprender a lidar".

Mario Sergio, entrevista para o UOL - TV UOL - TV UOL
Mario Sergio fez declaração de amor em última entrevista
Imagem: TV UOL

A presença de Mario é tão forte que a família resolveu se reunir neste feriado para lembrá-lo e de certa forma homenageá-lo. Aliás, o apoio dos filhos do ex-jogador tem sido fundamental. "É o primeiro aniversário nesses 26 anos que não passaremos juntos".

O fim do luto depende de uma série de questões, entre elas as respostas com relação ao que aconteceu naquele dia e a responsabilização dos culpados pela tragédia. A batalha não tem data para terminar.

Recentemente Mara fez uma tatuagem em homenagem ao marido, unindo o nome dos dois. E deixou também um recado em resposta à declaração de amor feita por Mario ao UOL Esporte.

"Que ele saiba que tudo aquilo que ele me ensinou em todos esses anos vai ser a base, o alicerce para eu continuar tocando minha vida. Ele era um exemplo. A dignidade, força e determinação dele viverão em mim para sempre. Até a hora de nos reencontramos. Se Deus quiser".