Fanático, ele noivou no meio de um jogo. Uma tragédia impediu o casamento
Desde que se entendeu por gente, a maior paixão de Guilherme foi o São José Esporte Clube. Por causa dele, escolheu a profissão: jornalista esportivo. O rapaz de 28 anos sequer torcia para outro time que não fosse o de São José dos Campos (SP). A outra devoção da vida era Karine. Como os amores não eram concorrentes, foi no estádio que ele chamava de "segunda casa" que a namorada virou noiva. A história foi interrompida na madrugada da última quinta-feira. Ele morreu atropelado enquanto ajudava um estranho.
A pergunta que uniu Guilherme e Karine foi há dois meses. O jornalista pediu a namorada em casamento no intervalo de um jogo no dia 9 de julho. Karine falou que estava “nervosa e emocionada” quando disse sim. Guilherme comemorava porque “tinha de ser especial”.
Não deu tempo do casal trocar alianças. Antes do branco das núpcias, surgiu o preto do luto. Guilherme Augusto Oliveira morreu num acidente de trânsito na madrugada de quinta-feira. Parou para ajudar um motociclista envolvido numa batida e foi atropelado. Os dois amores dele acabaram no asfalto.
São José dos Campos acordou numa mistura de raiva e comoção com o que aconteceu às 2h30. Clodoaldo Braz, chefe de Guilherme na Rádio Alternativa, conta que ele e outras pessoas auxiliavam o motociclista que havia sido atingido por um motorista num semáforo. A vítima foi encontrada sozinha, deitada sobre a faixa de pedestres, porque o motorista fugiu.
Juntou gente, mas ninguém mexia na vítima para evitar possíveis danos à coluna. Então houve pânico. Começou quando o grupo percebeu a aproximação de uma caminhonete Fiat Toro em alta velocidade. Quem estava no meio da rodinha, além do próprio motociclista, não teve tempo de correr - quatro pessoas morreram. Karine Camargo não vai ter o casamento que nasceu no campo do São José.
Clube presta homenagem
A paixão de Guilherme pelo São José foi reconhecida pelo clube. A página da equipe no Facebook tem uma mensagem lamentando o atropelamento. Clodoaldo Braz diz que a relação com o time era tão forte que na última semana o funcionário pediu para não trabalhar. Tinha jogo decisivo e a derrota colocaria fim ao sonho de subir de divisão do Campeonato Paulista.
Guilherme quis ver a partida das arquibancadas. Ex-chefe da torcida organizada do time, viu do concreto, e não das tribunas de imprensa, a eliminação do São José. O patrão sabe que ele ficou muito bravo, lembra que era do tipo de torcedor que xinga e esbraveja.
Clodoaldo fala que Guilherme se enquadrava perfeitamente no perfil do torcedor fanático. Tinha tatuagem do São José, copos, camisas, bandeiras, quadros e muitas fotos no Estádio Martins Pereira. O clube era um estilo de vida. Trabalhar nos bastidores do time, conta o ex-chefe, enchia o jornalista de orgulho e satisfação.
Fabio Moraes é o homem que deu o primeiro emprego na imprensa. Sabia que estava contratando um apaixonado pelo São José porque quando Guilherme era criança já frequentava o estádio. Ele entende o amor. O clube é, segundo ele, a maior manifestação esportiva da cidade natal do funcionário.
Os companheiros de profissão contam que Guilherme estava numa fase muito feliz. Tinha noivado e começou a participar das mesas redondas da Rádio Alternativa. A vida, que dava certo no campo pessoal e profissional, acabou ao ajudar um desconhecido. É verdade que as coisas mudam, mas essa mudança em particular Clodoaldo não consegue entender.
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