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Guto Ferreira vê Inter com nível de Série A: "Não estaríamos fazendo feio"

Guto Ferreira acredita que o Inter estaria entre os 10 primeiros colocados da Série A - Ricardo Duarte/Inter
Guto Ferreira acredita que o Inter estaria entre os 10 primeiros colocados da Série A Imagem: Ricardo Duarte/Inter

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

14/09/2017 04h00

E se o Inter disputasse a Série A? Essa é a pergunta que muitos colorados se fazem ao ver a equipe, após oscilação, conseguir se firmar na Série B. Com time qualificado, há quem diga que o Colorado brigaria pelas primeiras posições. Os mais céticos lembram que o time vermelho sequer lidera a segunda, logo seria impossível crer em algo melhor na primeira.

Mas e o técnico Guto Ferreira, o que acha disso? Perguntamos. O comandante do Internacional concedeu exclusiva ao UOL Esporte depois do treinamento de quarta-feira (13) e foi sincero ao afirmar que sua equipe estaria 'na primeira página da classificação'. Para ele, o Inter ficaria entre os dez primeiros colocados.

"Não estaríamos fazendo feio, não, mas é difícil quantificar o parâmetro, essas suposições acabam agindo de forma negativa... Eu prefiro a prática efetiva", ponderou.

O treinador lembrou os 13 anos de trabalho no clube, seja como técnico (base e principal) ou coordenador da base, os laços afetivos firmados neste tempo, os filhos colorados mesmo morando no interior paulista, os projetos para 2017 e 2018 e o desejo evidente de recolocar o time vermelho onde ele merece.

A entrevista está dividida em duas. Na primeira parte, abaixo, Guto Ferreira fala de do Inter. Na segunda, a ser publicada na próxima sexta, ele fala sobre a carreira, de modo geral. Confira: 

UOL: Pelo que você viveu no Inter (Guto foi técnico da base, coordenador e técnico do principal em 13 anos de Inter), quando estava fora pensava em voltar? Era objetivo de carreira treinar o Colorado?
Guto Ferreira: Sempre passa por este objetivo. Um local que você vivenciou tudo que vivenciou, no tempo que vivenciou e foi feliz. Sempre tem uma ideia de regressar e seguir dentro do projeto destinado a alcançar algo. Tenho uma identificação muito grande. Isso não me faz dar mais, porque sou profissional. É conseguir realizar um trabalho porque se tem uma identificação muito forte com o clube. Meus dois filhos são torcedores do Inter, nasceram dentro do clube. Os dois únicos torcedores do Inter da escola deles em Piracicaba-SP (Pedro tem 18 anos e João 15). E não é por trocar de Estado que trocaram de clube. Torcem pro Inter. É uma série de situações. Amanhã ou depois eu saio para outro clube, sempre mergulho de cabeça no projeto e me entrego 100%, mas o Inter tem uma identificação diferente. 
 
UOL: Você já projeta o Inter para o ano que vem? A arrancada do time com seis vitórias interrompidas no último fim de semana, a briga pela liderança da Série B... o time chegou ao melhor que pode dar e a situação está bem mais tranquila? 
Guto: Desde a minha chegada, existem pessoas capacitadas e responsáveis por pensar os mais variados setores do clube, mas a gente dialoga a respeito das ideias que já temos. A nossa equipe em campo pode melhorar a imagem ainda, sim. Mas ela não pode se acomodar. Se acomodar, gera imagem de queda. Isso é normal. A medida que você é vidraça, todos se entregam mais contra você. O Inter por si só já era vidraça. Antes as pessoas relaxaram um pouco porque o Inter não atingia o nível esperado. Eles cresciam não sei se a ponto de não respeitar o Inter como deviam respeitar. A medida que o Inter cresceu, o respeito aumentou. E aí, com tempo eles se preparam muito mais. As estratégias já são muito mais defensivas que ofensivas. Enfim, há uma série de variações que tem que criar mecanismos para sair delas. E temos que ter muito respeito por cada adversário para não escorregar nestas dificuldades. 
 
UOL: Pelo que está rendendo hoje, e ainda com a possibilidade de evolução que você falou, você acha que se o Inter estivesse disputando a Série A, não estaria fazendo feio?
Guto: Se a gente tivesse conseguindo desenvolver, independentemente do adversário, a qualidade que temos feito, eu não sei exatamente em que lugar estaríamos, mas eu acho que não estaríamos na segunda página da tabela, não. Estaria na primeira página. Em qual posição não sei te dizer, é muito difícil. Mas o Inter é um time qualificado. Não estaríamos fazendo feio, não. Mas é difícil quantificar o parâmetro, essas suposições acabam agindo de forma negativa... Eu prefiro a prática efetiva. 

Guto Ferreira comanda treinamento do Internacional no CT do clube - Ricardo Duarte/Inter - Ricardo Duarte/Inter
Imagem: Ricardo Duarte/Inter

UOL: Quando você chegou ao Inter havia uma tensão muito grande entre time e torcida. A cada jogo, pressão, vaias, vandalismo... Estava atrapalhando muito? 
Que estava atrapalhando é uma certeza. Os motivos não cabe a mim analisar. Eu tenho um pensamento que este tipo de protesto e violência não contribui em nada. Ele tem de ser analisado... Qual o estágio que os caras estão? O protesto é positivo quando tem algum tipo de corpo mole, algum tipo de postura não profissional. E não era o caso do Inter. Quando o cara não tem uma conduta séria no clube, ok. O protesto é sempre contra condutas. Agora, quando o problema não está na conduta, é complicado. Se a conduta está sendo profissional, dentro do possível, o protesto não pode ser contra ele. É muito mais fácil dar a volta por cima quando se é apoiado do que quando é pressionado. Existe uma pressão interna também. Se você não colhe o que busca, também se cobra e se pressiona muito. Daí tem dificuldades de confiança e autoestima. Neste momento, a mão que surge você pega como uma âncora positiva e ali começa a reagir. 
 
UOL: Foi o que aconteceu?
E tem muito a ver com isso, sim. Tivemos processos que se solidificaram, algumas situações logicamente do time. Mas a efetivação do apoio do torcedor foi muito importante. Entendendo o momento. Houve até algumas situações da torcida vindo aqui e dando apoio aos jogadores. Isso gera tranquilidade.
 
UOL: Subir com o Inter seria...
Muito importante. Um resultado de uma importância gigantesca. Quando se consegue traçar um projeto e atingir o objetivo, todo profissional fica marcado por isso. O profissional que consegue isso passa a ter um conceito positivo no mercado. E é isso que eu busco. Ser respeitado como treinador, que consegue traçar, planejar e atingir os objetivos.
 
UOL: Você fica no ano que vem e vê no Inter a chance de crescimento pelo qual passam muitos grandes que caem e voltam mais fortes? 
Meu contrato direciona para ficar. Agora, amanhã ou depois se não acontecer, eu respeito. Somos avaliados diariamente pelo que fizemos e o resultado que atingimos. Volto a falar sempre: você faz suas escolhas e elas fazem você Então, amanhã ou depois atingindo o acesso, automaticamente meu contrato se estende. Mas existem cláusulas de rescisão. Mas o normal é a continuidade... A questão do crescimento eu acho que, sim, é possível. Mas não só no futebol. O clube vem se estruturando em vários setores, crescendo, buscando um trabalho contínuo e com qualidade. E isso tende a crescer. O resultado é positivo. A busca é por isso. Minha vinda para o Inter tem o objetivo de atingir o acesso. Ter o espaço, então, para estar em um grande clube da Série A brigando por grandes resultados. Foi um dos meus objetivos na vinda para o Inter, além do lado afetivo que já citei.