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Ascensão relâmpago e mentor com vídeos. Como Arthur chegou à seleção

Grêmio/Divulgação
Imagem: Grêmio/Divulgação

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

16/09/2017 04h00

A convocação de Arthur para os jogos da seleção brasileira contra Bolívia e Chile completa uma ascensão relâmpago. Em menos de nove meses, o volante saiu do time de transição do Grêmio para a lista de Tite. No caminho houve promoção pelas mãos de Felipão, falta de chances com Roger Machado e o boom sob o comando de Renato Gaúcho.

O UOL Esporte conta a história de Arthur, 21 anos, em capítulos.

À espera (quase) sem fim

Volante Arthur assina renovação de contrato com o Grêmio - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Arthur vive em Porto Alegre desde 2010 e ao longo dos anos foi ganhando notoriedade na base. Aos 15, mudou de posição (atuava mais avançado) e viu a carreira ganhar fôlego. A técnica saltava aos olhos, mas faltava algo. Em 2015, com Luiz Felipe Scolari, o volante fez o primeiro jogo como profissional. Mas depois de atuar contra o Aimoré-RS, pelo Gauchão, esperou muito por uma nova chance.

Durante quase dois anos, Arthur pulou do time principal para o grupo de transição dezenas de vezes. Também apareceu em equipes inferiores da base, mas não deslanchou. A falta de espaço fez a família do volante cogitar uma saída do Grêmio. O São Paulo quase foi o destino.

“No começo do ano, eu estava até meio desanimado. Perguntando para quem estava perto de mim, perguntando se deveria sair do Grêmio. Mas se eu tivesse que escrever um ano perfeito não chegaria nem perto disso. Está sendo um ano perfeito”, comenta.

Tutor na base

Antes de qualquer treinador do time principal, Arthur teve outro tutor. André Jardine, atualmente no São Paulo, foi quem mais ajudou o volante a evoluir. O trabalho do técnico lapidou o estilo de passe curto, superioridade numérica e ocupação de espaço.

“Sempre fui segundo volante, mas não tinha essa característica marcante de hoje. Foi na base, inclusive, que dei esse upgrade. Foi com o André Jardine. Eu era segundo volante e me colocou como primeiro. Ele falou: "Com a bola no pé você é muito bom e vai qualificar a saída de bola. Vai chegar mais redondinha assim". Ele me cobrava e assim comecei. A gente treinou muito”, conta Arthur.

Foi Jardine que quase levou Arthur para o São Paulo. Em mais de uma oportunidade. O Grêmio acabou convencendo o volante a continuar em Porto Alegre.

Primeira Liga vale

Arthur, do Grêmio (Photo by Alexandre Loureiro/Getty Images) -  -

O Grêmio não usou titulares na Primeira Liga, mas já pode dizer que tem uma herança do torneio. Foi em dois jogos da fase de grupos da competição deste ano que Arthur ganhou a comissão técnica e passou a ser visto como uma opção real. Ele atuou contra Flamengo e América-MG e nessa segunda partida encheu os olhos de Renato Gaúcho.

À época, Arthur chegou a ser cogitado como meia pela técnica. Acabou jogando poucas vezes na função e se consolidou como volante, de fato, reinventando o setor do time ainda no primeiro semestre. Ao lado de Michel, supriu a mudança em relação a 2016.

Mentor no time principal

O crescimento de Arthur é fruto de talento, mas também da lapidação. Maicon, capitão e referência do jovem, ajudou no processo ao levantar dados e levar o camisa 29 até o departamento de análise de desempenho.

“Maicon trouxe Arthur ao CDD (Centro Digital de Dados), apresentou os dados e deu sugestões. Um jogo depois já se via o impacto dessa influência. Desde então o Arthur só cresce nos aspectos apontados pelo Maicon”, disse Eduardo Cecconi, analista de desempenho do Grêmio. “O Maicon é um pai para mim aqui no Grêmio. Já admirava ele e depois que conheci, passei a admirar mais ainda”, conta Arthur.

Telefonema em julho

Arthur, volante do Grêmio, em treinamento com bola - Lucas Uebel/Divulgação - Lucas Uebel/Divulgação
Imagem: Lucas Uebel/Divulgação

A convocação de Arthur não aconteceu do dia para noite. Além de observar in loco sete partidas do volante, a comissão técnica da seleção brasileira conversou com quem tem o dia a dia junto ao jogador.

No final de julho, Tite pegou o telefone e falou com Renato Gaúcho. Às vésperas das quartas de final da Copa do Brasil, contra o Atlético-PR, o treinador do Tricolor relatou a evolução do jogador ao longo da temporada. O papo serviu para sedimentar o nome de Arthur no radar.

Renato e a foto

O espaço obtido com Renato Gaúcho mudou a vida de Arthur. Mudou o time titular do Grêmio. E alterou a conversa entre eles. Antes de um treino, meses atrás, o treinador brincou com a boa fase vivida pelo jogador.

“Tem uma foto minha na sua carteira? Tem que ter, eu sou seu pai”, disse Renato a Arthur em tom de brincadeira e em referência às chances concedidas. “O que mais me deu oportunidade foi o Renato. Ele apostou em mim, deu confiança. E isso me ajudou muito”, valoriza Arthur.

O melhor da história

Arthur tem menos de 40 jogos como profissional, mas muita gente no Grêmio se derrete pelo futebol do volante. Para Romildo Bolzan Jr., presidente do Tricolor, o jovem é o melhor atleta revelado pelas categorias de base do time.

“O Arthur é um dos melhores, se não o melhor, jogador já formado pelo Grêmio. Ele tem muita qualidade. É um jogador imprescindível ao time”, disse o dirigente.

O status, aliás, já fez o Grêmio iniciar negociação para aumentar o salário do jogador. O contrato atual, com validade até dezembro de 2019, está em vias de ser renovado. Arthur deverá receber quatro vezes mais do que o atual rendimento mensal.