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Vilão vascaíno em 14, auxiliar viveu piadas e ameaças e viu a carreira ruir

Bruno Braz

Do UOL, no Rio de Janeiro

19/09/2017 04h00

16 de fevereiro de 2014, mais de três anos antes do polêmico gol de braço de Jô pelo Corinthians, no último domingo. Flamengo e Vasco jogam no Maracanã. São 11 minutos do primeiro tempo. Douglas cobra falta com extrema categoria, a bola bate no travessão e quica nada menos que 33 centímetros após a linha. Até para muitos que viam da arquibancada, o gol cruzmaltino é legítimo, mas para Rodrigo Castanheira, árbitro adicional colado na trave esquerda do goleiro Felipe, o jogo segue. O clássico, então, tem seus desdobramentos. O Rubro-Negro vence por 2 a 1 e, dali em diante, a carreira do auxiliar cai em declínio.

A repercussão foi imediata. Jogadores e dirigentes vascaínos revoltados já se aglomeravam à sua volta ainda no intervalo. O pior, porém, viria depois. Chuva de críticas nos programas esportivos, intimidade exposta, endereço residencial divulgado na internet e ameaças de morte. As ações geram queixas na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) e, por medidas de segurança, Castanheira decide deixar sua casa por um tempo.

Em pleno mês de Carnaval, ele não passa em branco. Sua figura vira tema de fantasias e máscaras com um adereço nada simpático: um óculos, que ironizava uma irreal “cegueira” do árbitro adicional.

Da Federação de Futebol do Rio de Janeiro ele ganha apoio. Em vez de suspensão, é submetido a testes oftalmológicos, neurológicos e obtém o acompanhamento de um psicólogo. Os exames não apresentam nenhuma restrição. Castanheira, então, volta após dois meses, mas na função de árbitro.

Castanheira (amarelo) no polêmico lance em 2014: bola entrou 33 centímetros - Reprodução Sportv - Reprodução Sportv
Castanheira (amarelo) no polêmico lance em 2014: bola entrou 33 centímetros
Imagem: Reprodução Sportv

Dali em diante, no entanto, o glamour de um clássico e de um Maracanã lotado passam longe. Séries B e C do Campeonato Carioca, com seus públicos para lá de tímidos, são sua realidade.

Até que chega a pré-temporada de 2017. Árbitros e auxiliares são submetidos a testes físicos e é necessária a aprovação neles para garantir seu aproveitamento no ano. Castanheira, que em 2014 foi tão julgado e criticado, agora perde para ele mesmo. De acordo com a Ferj, o profissional foi reprovado e não faz mais parte do quadro da entidade.

De longe, acompanha a repercussão do caso Jô, com algumas diferenças para sua situação. Agora, o foco é no atacante, que levantou um debate ético entre os amantes do futebol. O árbitro adicional, função que exercia naquele clássico de 2014, por ora, está absolvido, já que, segundo o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Coronel Marinho, Eduardo Valadão não será punido pela falha.

E se naquela época os adicionais chegaram a ser removidos no ano seguinte - com o argumento do alto custo com a escala de mais auxiliares – a medida reativa do momento é a implementação do árbitro de vídeo por determinação do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero. 

Com Castanheiras fora de cena e Valadão respaldado, fica a expectativa: quais serão as cenas dos próximos capítulos e que personagens estão por vir? Só o tempo irá dizer....