Topo

Fã dos Perrellas, opositor no Cruzeiro se espelha em Fla, Real e Barça

Sérgio Santos Rodrigues é o candidato de oposição à presidência do Cruzeiro - Arquivo pessoal
Sérgio Santos Rodrigues é o candidato de oposição à presidência do Cruzeiro Imagem: Arquivo pessoal

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

21/09/2017 04h00

O advogado Sérgio Santos Rodrigues, de 36 anos, é o candidato de oposição à presidência do Cruzeiro. Fanático torcedor do clube, é apoiado pelos irmãos Alvimar e Zezé Perrella, que ele aponta como os melhores mandatários do clube, e se espelha na gestão de Eduardo Bandeira de Mello no Flamengo para alcançar sucesso à frente da Raposa.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte em seu escritório de advocacia, o concorrente ao pleito de 2 de outubro falou sobre a admiração por seus apoiadores e o que pretende fazer à frente do clube mineiro.

Questionado sobre o melhor presidente que viu à frente do Cruzeiro, Sérgio respondeu em tom bem-humorado e com ambiguidade: "Perrella", disse aos risos. "Acho muito difícil [escolher apenas um], porque a simbiose é grande. O Zezé ficou mais tempo e trouxe 12 títulos, inclusive uma Copa Libertadores, que é o sonho de qualquer presidente. O Alvimar ganhou uma Tríplice Coroa, que é o único presidente de clube do Brasil que conseguiu. Eu sempre brinco com isso, porque precisamos juntar as características boas dos dois", acrescentou.

Sérgio Santos Rodrigues, candidato à presidência do Cruzeiro - Thiago Fernandes/UOL Esporte - Thiago Fernandes/UOL Esporte
Imagem: Thiago Fernandes/UOL Esporte

A gestão empresarial adotada no Flamengo se tornou um modelo para Sérgio Santos Rodrigues. O candidato de oposição a compara ainda às administrações de Real Madrid, Barcelona e Manchester United.

"O modelo dele, na verdade, não diferencia muito do modelo de Real Madrid ou Barcelona. É um modelo empresarial. É o modelo para ter planejamento, bons dirigentes dentro da diretoria. É se amarrar a um planejamento, segui-lo e acreditar que pode dar certo. O Flamengo pode ter demorado dois anos, mas ganhou uma Copa do Brasil e um Estadual invicto assim. O Ferguson fez isso no Manchester United, passou três anos sem ganhar título, mas ficou por 15 sendo pelo menos terceiro lugar no Campeonato Inglês", afirmou.

Embora seja oposição à gestão de Gilvan de Pinho Tavares, ele esteve na superintendência de futebol entre 2015 e 2016 - abandonou o cargo por questões políticas. Na conversa com a reportagem, ele abordou este fato, comentou as polêmicas questões envolvendo Minas Arena e Federação Mineira de Futebol e falou sobre o fato de contar com o apoio dos ex-presidentes Cesar Masci, Zezé Perrella e Alvimar Perrella.

Confira a entrevista de Sérgio Santos Rodrigues:

Por que deixou a atual gestão

Dentro do sistema que você vê tudo de errado que existe. À medida que visitamos outros clubes, estudando futebol, fiz cursos fora, inclusive, dava para ver que tinha muita coisa para mudar. Eu entendo que, sendo superintendente igual eu era, você não tem a caneta na mão. Então, não é porque o presidente não concorda que tenho de sair. A minha saída se deu muito mais por um processo político do que um processo de discordância. Quando voltei de Madri, apresentei projetos de gestão, para haver consultoria externa no Cruzeiro... A saída se deu muito mais por um aspecto político que por discordância.

Sérgio Rodrigues, superintendente de futebol do Cruzeiro, e Bruno Vicintin, vice-presidente do Cruzeiro - Divulgação/Cruzeiro - Divulgação/Cruzeiro
Imagem: Divulgação/Cruzeiro

Como tornar o Cruzeiro superavitário

É muito importante que o clube tenha lucro e trabalhe em cima desse orçamento. Se na minha casa eu não gasto mais do que ganho, não posso fazer isso em um clube com 9 milhões de torcedores. A gente tem de ter responsabilidade para fazer essa gestão. Definição de orçamento para fazer futebol, respeitar orçamento. Contrata sem responsabilidade, vai no quantitativo e não no qualitativo. Se for possível, fazer uma grande contratação por meio de troca e uma oportunidade de negócio. Se a gente pega um time para disputar a Libertadores do ano que vem, a gente pensa em poucas coisas, até pelo elenco.

Cruzeiro x Minas Arena (gestora do Mineirão)

Já procurei o pessoal do Mineirão, tenho ótima relação com o André, que é CEO, e com o Samuel, que é diretor-comercial. O Mineirão é uma parceria extremamente viável. A gente tem de buscar trabalhar em conjunto. Cruzeiro e Mineirão andam em separado, em linhas paralelas e não buscando o mesmo objetivo. A minha ideia é encerrar isso e pensar em algo para frente, pensar em um objetivo em comum. O Cruzeiro alega que as despesas são altas e a Minas Arena aceita que as despesas sejam conjuntas. Com diálogo, tudo pode se resolver. O caminho que temos é de entendimento. Vamos encontrar algo em comum e seguir jogando na Toca III.

Cruzeiro x FMF

Tenho excelente relação com todos da Federação [Mineira de Futebol]. Sou a favor do diálogo. Quando vamos assumir um cargo de grande relevância, um cargo que só perde para o governador do estado, se você ficar amarrado em coisas de passado, não vai evoluir. Esse cargo não comporta sentimentos pessoais. O importante é estar ao lado da CBF, da Conmebol, da FMF. Quando houve embate do Castellar com o Cruzeiro, defendi o clube. Mas é melhor dialogar e buscar um caminho comum. Para a Federação, é importante o Cruzeiro estar bem. Todos querem ganhar junto, porque ela fatura em cima dos jogos do Cruzeiro. O Castellar tem boa relação na CBF. Quando paramos de enxergar como inimigo e buscamos um trabalho comum, todos ganham. Quando respondo essa pergunta, eu falo isso. Se eu concedesse uma entrevista falando mal do UOL, você não iria querer conversar comigo. Assim como seria se fosse o contrário.

Apoio de três ex-presidentes do Cruzeiro

O Rafael Brandi, que é filho do Felicio, também nos apoia. Gestões vitoriosas como essa foram boas. Como toda gestão tiveram erros, mas quando você tem essas pessoas dando respaldo, o Conselho sente muita confiança. O Sérgio é jovem, mas remete ao Felicio que chegou aos 36, ao Zezé, que chegou aos 36. Alvimar foi vice aos 35. Pessoas como essas dando respaldo mostra que tenho pessoas boas ao meu lado. Sou jovem, mas tenho pessoas boas ao meu lado. Eu chego aos 36 anos, mas é uma idade semelhante à do Alvimar, à do Felicio. Quando eles depositam confiança em nós, há uma esperança para mudar o rumo do clube e levá-lo para o caminho certo.

Cesar Masci abandonou a candidatura. O Alvimar disse que quer dar palpite, mas não quer cargo. O Zezé é candidato à presidência do Conselho e certamente será eleito. Temos objetivo de ouvir todos, inclusive o presidente Gilvan e o presidente do Conselho Lemos. Tem coisas boas que todos fizeram. Queremos escutar coisas boas, que todos fizeram. Queremos a participação de todos.

Gestão de Gilvan de Pinho Tavares

Uma gestão que vence um bicampeonato brasileiro ninguém pode falar que é ruim. Mas aquela foi a gestão do primeiro mandato. A gestão do segundo mandato foi ruim por isso. A gente não conseguiu estabelecer um bom time depois, deixou de contratar no qualitativo e pensou no quantitativo. Um assunto que gosto muito é que um presidente entra no cargo pensando no sucessor. Temos um projeto eleitoral acirrado, o que é um defeito grave. Decisões centralizadas são ruins para a instituição. Presidente do clube tem de ter pessoas boas ao seu lado, de forma que a decisão seja mais descentralizada possível. A regra de qualquer grande empresa é essa. A empresa se toca por si só. As grandes coisas que precisam ser modificadas são essas.

Proposta de infraestrutura

A Toca II, assim como a Toca I, que foi inaugurada pelo Felício Brandi, era um centro de referência do futebol mundial. Era a melhor. Hoje não ficamos nem entre as cinco. Fiz uma visita ao Palmeiras, que fez um grande investimento no CT para reformar a área médica. A parte até de hotelaria, sala de imprensa, reforma dos gramados... Eu já tinha pedido algumas pessoas. Temos até um projeto para mexer na estrutura da Toca II. A gente já olha parceiros para isso, via recurso incentivado, via linha de parcelamento do BNDES. A mesma forma na Toca I. Podemos fazer um mini estádio na Toca I, melhorar a hotelaria. Ali é o lugar dos meninos. São meninos mesmo. É importante ter um centro de lazer, um centro de convivência bacana. No Barcelona, há uma grande sala de televisão com uma pequena arquibancada para os meninos assistirem aos jogos.

Programa Sócio do Futebol

Não existe nada que não possa melhorar. Temos um bom programa, mas houve um declínio nos últimos anos. É muito pouco ter 70 mil, 80 mil sócios em 9 milhões de torcedores. Sou muito fã do esporte norte-americano. A ideia é buscar que os sócios tenham outros benefícios e oportunidades além de entrar em campo, trocar ponto por produto. Já conversei com empresas que têm ideias de se juntar ao nosso sócio para que usemos em passagens, farmácia... Sou contra promoção de ingressos que prejudicam o sócio-torcedor. É buscar desatrelar o sócio do time de futebol. Se o time não estiver conforme esperado, que o torcedor não abandone o time. É ter uma ideia para ter o sócio do povo. Permitir que as pessoas tenham sócios mais acessíveis. É importante voltar a ficar entre os três, quatro maiores do clube.

Por que votar em Sérgio Santos Rodrigues?

O primeiro aspecto que falo é que historicamente o Cruzeiro, na maioria das vezes no futebol, trabalhou com futebol. Hoje só eu tenho isso. Fiquei nas três principais sedes, administrativa, na Toca da Raposa I e na Toca da Raposa II. Eu já lembrei que diversos empresários ricos sem experiência de futebol jogaram o time para Série B. Eu faço visitas técnicas. Fui ao Sporting, Red Bull, Atlético-PR, Coritiba, Porto, Benfica... Faço anotações para ver o que podemos colocar dentro do clube. Faço questão de ver, de estudar o que podemos colocar no clube. É o chamado benchmarking. São outras particularidades do futebol. Pelo menos desde 2009, tenho experiência de entender o futebol. Fui diretor de empresa pública em Minas Gerais, que é a Codemig, que fatura 700 milhões de reais por ano. Escritório de advocacia eu já tive mais de 100 pessoas. Hoje mudei por opção própria.

É um sonho de qualquer um dos quase 9 milhões de torcedores cruzeirenses. Meu pai é conselheiro do Cruzeiro, tenho muito forte na minha memória, sobretudo as Supercopas de 1991 e 1992. Entrei em campo com jogadores, em 2009 comecei a trabalhar no clube. Desde então, sempre tive vontade de aprender sobre gestão de clube e a pensar em melhoras. Quando isso é aliado ao elemento paixão, cito Nelson Rodrigues, que fala que "sem paixão, nem picolé, você chupa". Apoiado por pessoas que você acredita, esse conjunto de coisas fez com que pensássemos nisso.