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Quem são e como é a rotina dos amigos que G. Jesus levou à Inglaterra

Gabriel Jesus comemora gol do Manchester City - Rui Vieira/AP - Rui Vieira/AP
Imagem: Rui Vieira/AP

Caio Carrieri

Colaboração para o UOL Esporte, em Manchester

22/09/2017 04h00

O Jardim Peri, na zona norte de São Paulo, está a mais de 9.500 km de distância do Estádio Etihad, no noroeste da Inglaterra. Para atenuar a saudade das origens, Gabriel Jesus adotou um conhecido ditado. Se Gabriel não vai até o Peri, o Peri vai até Gabriel. Por isso, os dois melhores amigos de infância do atacante do Manchester City não só embarcaram no sonho europeu do jogador desde o início, como residem no mesmo apartamento da estrela da seleção brasileira, em Manchester.

“Eles são a sombra do Gabriel, vivem grudados”, brinca Felipe, 27, o irmão mais velho e chefe da casa. “Quando estava em fase de negociação, o Gabriel disse que viria, mas teria de trazer a família e eles dois”. Fabio Lucio, 20, e Higor Braga, 19, deixaram a periferia da capital paulista em nome da amizade e de um futuro mais próspero – realidade diferente de muitos dos meninos contra quem jogavam pelada nas ruas do Peri.

“Foi difícil sair do Brasil, porque sou muito apegado à família, mas ele me deu essa oportunidade e eu não podia deixar escapar. Tenho a chance de conhecer coisas novas, aprender um novo idioma”, explica Fabinho, driblando a timidez extrema. “Se continuássemos onde estávamos”, acrescenta Higor, “Talvez o nosso caminho seria outro, algo ruim, porque costuma ser assim onde nós morávamos. Ele nos ajudou a sermos alguém melhor na vida”.

Irmão e amigos de Gabriel Jesus - Caio Carrieri/UOL - Caio Carrieri/UOL
Imagem: Caio Carrieri/UOL


O trio recebeu a reportagem do UOL Esporte no apartamento em que moram com Gabriel Jesus e Vera Lúcia, a mãe do astro, na região central de Manchester. Aconchegante e com o pé direito alto, o local é mais espaçoso do que a primeira residência da família na Inglaterra. Antes, não muito distante dali, tinham um vizinho ilustre: Pep Guardiola. No entanto, não era fácil encontrar o técnico pelo edifício.

“Só vi ele uma vez. Era o primeiro a sair e o último a chegar no prédio, mas consegui tirar uma foto”, relata Higor, o mais brincalhão do lar. “Jantei com ele quando chegamos”, conta Felipe. “Foi muito simpático e atencioso. Disse que adora jogador brasileiro, então brinquei dizendo que eu estava aposentado, senão ia querer jogar também (risos)”.

No início, quando desembarcaram em Manchester, em janeiro, eles bateram cabeça durante a adaptação. Ninguém falava inglês. “Nem os números”, revela Fabinho. Hoje, frequentam uma escola de idiomas de segunda a sexta, três horas por dia. O objetivo vai além de alcançar a fluência para se comunicar sem barreiras. O planejamento inclui cursos, como de fotografia e filmagem, que possam dar retorno para a carreira do protagonista da família em ações de marketing

“Disse para os moleques que não era porque o Gabriel era meu irmão que ficaríamos à toa. Vim com o mesmo objetivo deles, porque tem muita gente que quer ter essa oportunidade. Só que para isso acontecer temos de dominar o idioma”.

Enquanto essa etapa não chega, os três recebem uma mesada definida pelo camisa 9 de Tite. Na rotina da casa, eles se revezam nos afazeres a fim de deixar Gabriel Jesus com a cabeça totalmente voltada para as instruções de Guardiola. “Sou até zoado por eles por sempre lembrar tudo o que está faltando no quarto, no banheiro”, admite o irmão. “Cada um faz uma coisa e um faz a do outro quando precisa. Ontem, por exemplo, o Higor fez o mercado com a Nena”.



Nena, a cozinheira, que trabalhava na casa do volante Fernando, negociado com o Galatasaray (TUR), trouxe o sabor brasileiro para a mesa da família Jesus, há dois meses. Anteriormente, os amigos tinham de se virar na cozinha, já que Gabriel se alimenta no City, e Vera Lúcia teve de retornar ao Brasil por questão de saúde e só os reencontrou no último dia 18, finalizado o tratamento. “Até compramos feijoada enlatada uma vez. Na saudade que estávamos, parecia até comida de mãe (risos)”, recorda Felipe.

A amizade longeva permite que o estafe perceba rapidamente os momentos em que o atleta de 20 anos precisa de mais privacidade. “Quando ele não tem um bom jogo, o que acontece, ele chega, fica trancado no quarto, e nós respeitamos essa decisão, até tomar a atitude de querer conversar de novo”, ilustra Felipe. “Mas se ele coloca o pagode dele para tocar e começa a tocar os instrumentos, podemos ficar tranquilos que está tudo bem”, conclui Fabinho.