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Problema no SP, relação de Cícero com o técnico vira trunfo no Grêmio

Meia assinará contrato de três meses junto ao Grêmio - Marcello Zambrana/AGIF/Estadão Conteúdo
Meia assinará contrato de três meses junto ao Grêmio Imagem: Marcello Zambrana/AGIF/Estadão Conteúdo

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

03/10/2017 04h00

Contratado de forma emergencial, Cícero chega ao Grêmio da mesma forma que chegou ao São Paulo: pelas mãos do treinador. Em Porto Alegre, no entanto, o meia encontrará um ambiente bem diferente. Envolvido com a semifinal da Copa Libertadores, o Tricolor abraçou o experiente jogador e quer explorar justamente essa bagagem, além da qualidade técnica. Se no Morumbi a relação com Rogério Ceni se voltou contra o jogador, no Sul a tendência é que ocorra o oposto. 

“Na última terça-feira eu estava no Rio, liguei para ele e tive uma conversa. Queria sentir dele, ficou feliz. Se prontificou a vir o mais rápido possível a Porto Alegre. Vai ficar no hotel, vai fazer as refeições, enfim, se identificar com o grupo. Falei com ele por questão ética, mas eu já conhecia o jogador. Sabia que ia ficar feliz como ficou. Agora, é procurar recuperar em todos os sentidos para ele nos ajudar”, contou Renato, que trabalhou com Cícero no Fluminense.  

O roteiro é bem parecido com o vivido no começo do ano. Como acontece agora, foi a força de um ídolo do clube, então treinador, que o levou de volta para o Morumbi. Rogério pediu a contratação de Cícero e o bancou como titular, mas a relação acabou se voltando contra o jogador. 

Primeiro pelo próprio Ceni, com quem ele viveu dois episódios polêmicos. O primeiro foi no meio de um clássico contra o Corinthians, no primeiro semestre, quando o ex-goleiro sem querer acertou Cícero com uma prancheta, no vestiário, durante um momento de destempero que acabou causando mal-estar. Mais adiante, os dois voltaram a se estranhar porque o treinador vetava a presença de familiares no CT e cobrou o jogador por levar seu filho a uma atividade. 

O principal problema, no entanto, veio depois. O mau desempenho em campo e uma visão da diretoria, que entendia Cícero como má influência no elenco, iniciaram o processo de "fritura" do jogador. O argumento dos detratores era de que o meia era uma "herança" de Ceni, que também passou a ter o trabalho duramente questionado pela cúpula tricolor após a demissão. 

Na Arena, ao contrário, a crença é que o relacionamento não será problema. Renato Gaúcho tem na gestão do grupo um de seus pontos mais positivos e, ao longo da temporada, já blindou o elenco em mais de uma oportunidade. E o estilo de comando do treinador cativou os jogadores. Conversas francas sobre a formação do time e até reforços estão no topo da lista de atitudes que impressionaram os atletas.

Os líderes do vestiário também favorecem um bom ambiente. Considerados pró-ativos e agregadores, Edilson, Geromel, Maicon, Marcelo Oliveira, Ramiro, Douglas e Barrios se esforçam para manter o grupo unido e sem atritos. Nem mesmo Miller Bolaños, emprestado após problemas disciplinares, foi motivo de desavença interna.

Aos olhos do Grêmio, Cícero ficou envolvido em um cenário instável no São Paulo. O contexto totalmente oposto em Porto Alegre é apontado como um tônico para a retomada da carreira. A aposta é que o meia possa aportar profundidade ao elenco – se tornando importante suplente para o setor que tem encarado constantes mutações nos últimos meses.

Aos 33 anos, Cícero também engorda a lista de apostas pessoais de Renato. Os exemplos do ano jogam a favor do treinador, que investiu em Léo Moura, Bruno Cortez, Paulo Victor, Fernandinho e abriu os braços para receber Lucas Barrios – nome apontado pelos dirigentes.

Cícero e Grêmio assinarão contrato até dezembro, com opção de renovação. O Tricolor buscou o jogador, afastado do elenco do São Paulo, baseado em três razões: a qualidade técnica, disponibilidade e custo. Em Porto Alegre, ele vai receber menos da metade do ordenado que ganhava no estádio do Morumbi.

No Grêmio, Cícero é indicado e próximo de Renato Gaúcho. O estilo e experiência do treinador neste tipo de relação formam a pedra angular no plano de ganhar um reforço para a reta final da Copa Libertadores. O primeiro jogo da semifinal, diante do Barcelona de Guaiaquil, está marcado para 25 de outubro. Além da figura do chefe, velho conhecido, o meia será preparado com jogos-treino no CT Presidente Luiz Carvalho.