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Saudável e sem dívidas, ex-jogador andou 30 km e morreu sem explicação

Adair Bicca foi encontrado morto em matagal na cidade de Sertão, no norte gaúcho - Divulgação/Gaúcho de Passo Fundo
Adair Bicca foi encontrado morto em matagal na cidade de Sertão, no norte gaúcho Imagem: Divulgação/Gaúcho de Passo Fundo

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

06/10/2017 15h52

Desaparecido desde janeiro, o ex-jogador do Grêmio, Adair Bicca, teve morte confirmada no fim da tarde de quinta-feira (05). Um corpo achado há aproximadamente 15 dias na cidade de Sertão, no norte do Rio Grande do Sul, passou por uma longa bateria de exames e foi confirmado como o do ex-atleta de 71 anos. Só que as circunstâncias do ocorrido são misteriosas e beiram o inexplicável.

Adair estava desaparecido desde janeiro, quando participou de um churrasco com amigos, ex-jogadores do Gaúcho e do 14 de Julho na cidade de Mato Castelhano, a 25 km de Passo Fundo. Adair voltou para Passo Fundo de carona e foi visto deixando um veículo no centro da cidade, cruzando uma rua. Câmeras de segurança da cidade registraram as últimas imagens do jogador.

E o mistério começa aí. Adair pediu para descer do carro praticamente do outro lado da cidade em relação à sua casa. Não bastasse isso, foi em direção contrária e não percorreu o caminho natural para a sua residência.

Após o registro de imagem feito pelas câmeras de vigilância da cidade, não houve qualquer outra informação. Entre o local em que ele deixou o veículo e onde foi encontrado são 30 km de caminhada.

Segundo informações do advogado da família de Bicca, Ivens Ribas, a polícia localizou o corpo a partir de duas informações. Primeiro, uma pessoa avistou o ex-jogador perambulando próximo à estrada que liga Passo Fundo aos municípios de Sertão e Cochilha (RS-135) - nas redondezas há uma praça de pedágio. Dias mais tarde um pescador encontrou o corpo, em avançado estado de decomposição, à beira de um riacho. De acordo com informações da polícia de Sertão, o corpo permaneceu ali por aproximadamente sete meses. A região é de pouco movimento e longe do centro urbano, só com propriedades rurais próximas.

Vida tranquila, sem vícios, doenças, dívidas...

Adair era uma pessoa respeitada na sociedade de Passo Fundo. Foi homenageado pela câmara de vereadores da cidade há três anos e era conhecido por ter sido campeão gaúcho pelo Grêmio em 1966. Jogou e foi técnico do Gaúcho, clube profissional da cidade, rodou por outros clubes no interior gaúcho e atuou até no Newell's Old Boys, da Argentina.

Era proprietário da residência em que vivia, não tinha registros de doença, qualquer vício, dívidas ou informações que indicassem alguma ameaça. Segundo pessoas próximas a ele, não passava por qualquer problema de maior gravidade.

Segundo o advogado, Adair era separado da esposa, mas mantinha contato com a família, que reside em Passo Fundo. Morava sozinho e apenas a aparência chamou atenção de vizinhos recentemente. Relatos dão conta de que ele andava abatido e havia emagrecido bastante.

A sociedade de Passo Fundo mostra-se intrigada com o que ocorreu. Não há razão aparente para Adair ter descido do carro e caminhado sem contato com qualquer pessoa por 30 km. Não há explicação plausível para a morte, que além de tudo só foi confirmada nove meses depois do desaparecimento. 

"Não tem muito como explicar. Se deduz que foi perda de memória, perda de consciência, mas não tem nenhum histórico disso. É muito complicado dizer qualquer coisa. Não aparentava qualquer situação fora do normal", contou o advogado ao UOL Esporte.

A investigação sobre a morte é de responsabilidade da Delegacia Especializada em Homicídios e Desaparecidos da Polícia Civil, coordenados pela Delegada Daniela de Oliveira Minetto e pelo chefe de investigações Inspetor Volmar Menegon. A polícia, contudo, se baseia apenas em fatos concretos e para seguir a investigação aguarda o laudo da perícia realizada no corpo, que será apresentado apenas entre 18 e 20 de outubro.