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Idade, suporte e temperamento: Por que D'Alessandro deu certo mais recuado

D"Alessandro comemora gol pelo Internacional e mudou de função no time - Ricardo Duarte/Internacional
D'Alessandro comemora gol pelo Internacional e mudou de função no time Imagem: Ricardo Duarte/Internacional

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

14/10/2017 04h00

D'Alessandro sempre foi um meia-atacante. Último criador ou aberto pela ponta, o argentino se destacou como homem da assistência e até dos gols. Mas no Inter de 2017 ele mudou. Atualmente é central no esquema 4-1-4-1 montado por Guto Ferreira. E o rendimento é totalmente satisfatório. A explicação para conseguir jogar numa posição diferente nesta altura da carreira se explica pela experiência, o suporte dos companheiros e até o comportamento do gringo.

Com 36 anos, D'Alessandro sabe que não é mais garoto. E no começo do ano foi escalado como extrema pelo técnico Antonio Carlos Zago. Demorou pouco para ficar evidente que não daria certo. Tendo que atacar e defender com a mesma intensidade, retornar durante todo jogo para marcar o lateral adversário, D'Ale caiu de rendimento.

Em seguida chegou a ser testado como armador, na posição que naturalmente jogava, mas a falência coletiva do time prejudicou e o melhor não veio.

Mas Guto Ferreira, ao assumir a equipe na terceira rodada da Série B, encontrou um novo lugar para ele. Recuou D'Ale para ser quase um volante. Deu certo. Hoje ele soma 16 assistências no ano, sendo 10 na Série B.

A explicação pela experiência é simples: D'Alessandro percebeu que precisaria mudar. O jogador mostrou-se ciente de que poderia jogar melhor um pouco mais atrás, vendo o campo rival de frente, até por não ter a mesma força e explosão de outros tempos.

"Me sinto muito bem. Fico feliz de ajudar em uma posição diferente. Sabia que uma hora teria que recuar. Que não estou mais com aquela força de chegar na área, voltar, marcar o volante, hoje eu jogo mais por trás, fazendo cobertura com lateral e volante. Sabia que em algum momento teria que recuar. Até ali eu chego, mais para trás, zagueiro, goleiro, não dá. Lateral menos", sorriu D'Ale.

A boa vontade em jogos e treinamentos de nada adiantaria, porém, não fosse a companhia ideal. Atuar quase como volante só se justifica pela parceria de Edenílson e Rodrigo Dourado pelo centro. Agora, com a lesão de um e a suspensão de outro, os encarregados serão Charles e Valdemir.

"Se eu não tiver dois caras... Primeiro a opção do treinador, me coloca ali porque acha que eu posso dar alguma coisa que eu não poderia dar mais na frente. Hoje o time não joga com meia clássico, são dois extremos e um cara de área, dois volantes chegando por trás, sendo destes dois, um sou eu. Quem menos marca. Meu forte não é isso. Mas não poderia jogar se não fosse Dourado, Edenílson, Charles, os caras que fazem o trabalho sujo, correm, marcam, fazem cobertura. Não poderia jogar. Isso faz com que a sustentação do time seja melhor. Com as passagens dos laterais, bem abertos, subindo, temos que cobrir. Se não tivesse dois caras que correm e marcam muito, eu nem o time se sentiria cofortável, e sentiríamos muito no meio. Mas não sofremos porque cada um faz sua função, cumpre o que tem que fazer, e estamos conscientes para ajudar todo mundo para que o sistema funcione", afirmou o capitão do Inter.

O único problema são os cartões. Com 11, ele é líder do Inter na Série B. Magoado pelos comentários sobre isso, ele acredita que isso se justifique exatamente no fato de estar aprendendo a atuar em um local de mais contato físico.

"É uma coisa nova que eu tomo amarelo? Tenho uns 100 amarelos, sete vermelhos... Este ano estou jogando em outra posição. Tenho sete por protesto (na verdade seis) e cinco por lances. Uma coisa que mudou, uma coisa que não é falar bem ou mal, mas às vezes não é tudo que se fala. Este ano, por que tomo amarelo? Porque mudou um pouco, tem que dar carrinho... Isso faz parte. Às vezes é bom destacar as coisas boas do cara, quando está velho... quando passou de 35", explicou.

A mudança de função foi ajudada também pelo comportamento. Um jogador que tradicionalmente não se acomoda na derrota, não se omite do jogo, D'Alessandro se entrega até demais para as partidas. Não é raro ver o experiente jogador correndo para marcar no fim dos jogos. Pelas estatísticas da comissão técnica do Inter, é um dos jogadores que mais corre a cada partida. E isso impulsionou o crescimento mais distante do gol.

Na terça-feira o Colorado encara o Boa Esporte pela Série B. Com 57 pontos, o time gaúcho lidera a competição.