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Inglaterra iguala feito do Brasil na base, mas vive dilema com promessas

Anuwar Hazarika/Reuters
Imagem: Anuwar Hazarika/Reuters

Caio Carrieri

Colaboração para o UOL, em Manchester (ING)

01/11/2017 04h00

A Inglaterra acabou com a seca de títulos expressivos de suas seleções em grande estilo. Sem levantar uma taça importante em nenhuma categoria desde a Copa do Mundo de 1966, disputada em casa, os Três Leões tiveram um 2017 de ouro.

A conquista do mundial sub-17, na imponente virada por 5 a 2 sobre a Espanha, no último sábado, na Índia, confirmou a vitoriosa campanha, que incluiu vitória na semifinal de 3 a 1 sobre o Brasil, que ficou em terceiro lugar. O troféu sobre os espanhóis se juntará à glória na Copa do Mundo sub-20, alcançada em junho na Coreia do Sul diante da Venezuela (1 a 0) – o time brasileiro fracassou e sequer obteve vaga no torneio.

O feito duplo no mesmo ano em torneios mundiais só tinha um precedente na história: o Brasil de 2003, vencedor em ambas as competições sob o comando de Marcos Paquetá. A equipe sub-17 triunfou (1 a 0) sobre a Espanha de Cesc Fàbregas, na Finlândia, com nomes como Jonathan e Arouca, e o time sub-20, do ataque formado por Kleber Gladiador e Nilmar, superou A Fúria de Iniesta na decisão em Abu Dhabi, com gol de Fernandinho, saindo do banco de reservas.

Diante da geração campeã e promissora – o sub-19 venceu a Euro na Geórgia, em junho –, um dos debates atuais na Inglaterra gira em torno da probabilidade desses jovens terem reais chances na bilionária Premier League, cujos clubes despejam fortunas no mercado de contratações a cada janela de transferências.

No último período de transações, clubes da elite inglesa lideraram os gastos entre as principais ligas da Europa. Esparramaram R$ 5,95 bilhões em 164 reforços, sendo 65 deles (quase 40%) na faixa etária entre 16 e 21 anos.

“Todos envolvidos no futebol inglês têm de trabalhar para os nossos garotos terem uma oportunidade”, pede Paul Simpson, técnico do sub-20.

Dos 21 atletas convocados por Simpson para o elenco que conquistou o título em junho, houve apenas 11 titularidades até a nona rodada da Premier League. Na maioria das vezes – seis – o espaço foi dado a Dominic Calvert-Lewin, atacante do Everton. Todas elas por Ronald Koeman, ex-zagueiro holandês do Dream Team do Barcelona na década de 90, já demitido pelo clube de Liverpool pela má fase na atual temporada.

O Chelsea, soberano nos torneios de base do futebol inglês, lidera a relação de quem mais cedeu jogadores para os títulos mundiais sub-17 e sub-20 e o da Euro sub-19. Os Blues tiveram 14 convocados no geral, seguido pelo Everton, com seis. Por outro lado, conseguir uma vaga no time principal de Stamford Bridge é uma tarefa quase impossível para a garotada.

Na última edição da Premier League, da qual os londrinos se consagraram campeões sob o comando de Antonio Conte, as revelações da base não tiveram um segundo sequer em campo. O Everton foi quem mais apostou nos jovens: 2.166 minutos no total, sob o comando de Koeman.

Com diversos garotos emprestados ao Vitesse-HOL nos últimos anos, o Chelsea começa a sentir o efeito dessa falta de transição para os profissionais. Eleito o melhor jogador do Mundial sub-20, o atacante Dominic Solanke se transferiu na última janela para o Liverpool.  Com forte tradição na formação de atletas, os Reds ainda contam com Jürgen Klopp, acostumado a apostar na juventude.

Até Josep Guardiola já sofre com o descontentamento das promessas. Em agosto, ele se irritou ao não conseguir manter Jadon Sancho, atacante de 17 anos, no Manchester City. Considerado uma das maiores joias da Inglaterra, ele pediu para ser vendido para o Borussia Dortmund, que desembolsou R$ 35 milhões.

“Nós fizemos de tudo para segurá-lo, chegamos a um acordo e até tivemos um aperto de mão por isso, mas depois ele quis ir para o Dortmund para ter mais minutos de jogo, e eu entendo essa decisão”, declarou o treinador catalão.