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Ganso conquista torcida e imprensa em "briga" com técnico argentino

Facebook/Sevilla
Imagem: Facebook/Sevilla

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, em Lisboa (Portugal)

03/11/2017 04h00

Na última semana, ao lado do dinamarquês Kjaer, Paulo Henrique Ganso esteve presente em evento em um centro comercial em Sevilla para distribuir autógrafos e posar para fotos com torcedores.

A escolha por sua ida não foi por acaso. Poucos dias antes, na volta aos gramados após mais de um mês sem ser utilizado, o meio-campista de 28 anos deu duas assistências, uma de calcanhar e a outra de letra, na vitória de 3 a 0 sobre o Cartagena, pela Copa do Rei. Ele não poderia se sentir mais à vontade e, ao contrário de sua primeira temporada, tem um reforço considerável ao seu lado na ‘briga’ interna com o técnico Eduardo Berizzo por mais chances: a torcida.

Esse é um fator primordial na decisão tomada pelo camisa 19 e confirmada ao UOL Esporte por interlocutores próximos de não ouvir propostas na reabertura de janela de transferências em janeiro.

Não passa por sua cabeça voltar ao Brasil. Ele não recorda nem de longe o mesmo jogador que escolheu se fechar, dispensou o assessor que trouxe em sua vinda e preferiu o silêncio diante das críticas de Jorge Sampaoli, ex-treinador do Sevilla e hoje na seleção argentina.

Se com Sampaoli não havia como bater de frente, o mesmo não se pode dizer de Berizzo. Ninguém consegue explicar por que Ganso foi preterido por tanto tempo após arrancar como titular nas cinco primeiras rodadas do Campeonato Espanhol. A sua última partida havia sido contra o Las Palmas, em 20 de setembro. Depois disso, retornou ao 11 inicial somente frente o Cartagena, em 24 de outubro.

A queda de rendimento foi clara: com o ex-são-paulino em campo, o Sevilla ainda não perdeu na temporada 2017/18, com cinco vitórias e um empate. Sem ele, foi atropelado por Valencia e Spartak Moscou (em Moscou) e viu Berizzo balançar. Na última quarta, porém, novamente no banco, o ex-jogador de Santos e São Paulo viu o clube espanhol bater os russos por 2 a 1, em casa, pela Liga dos Campeões.

“Como no Brasil, Ganso não deixa ninguém indiferente a seu futebol na Espanha. Ele centraliza um eterno debate, como o dos bilardistas e menottistas (na Argentina, referindo-se aos técnicos Carlos Billardo e César Luis Menotti). Para muitos, não passa de um jogador sem nível para a elite enquanto que, para outros, é um artista”, analisa o editor do jornal andaluz "Estadio Deportivo", Carlos Pérez, ao UOL Esporte.

“Quando mais minutos tem nas partidas, mais torcedores atrai para o seu lado”, prossegue.

“É algo que ninguém entende (ele ter ficado um mês sem atuar), porque Ganso estava tendo um rendimento bom e sendo peça-chave no ataque. De qualquer forma, pode ter a ver com o detalhe de Berizzo, um aluno de Bielsa, ter em mente um estilo de jogo em que os meias precisam ir e voltar, perseguindo os adversários. Na Copa do Rei, voltou a se lembrar de Ganso e foi o melhor da partida”, diz Pérez.

Além do apoio da arquibancada, o brasileiro tem o respaldo também de seus companheiros.

O francês Ben Yedder definiu o seu futebol em entrevista recente. “Eu o acompanho bastante nos treinos. A forma como joga é impressionante. É igual nos treinos e nos jogos. Vai melhorar porque tecnicamente é muito bom. Quando todo mundo pensa que está cansado, ele sobe ao ataque e marca no final”.

Foi assim contra o Getafe, ainda em setembro, quando Ganso balançou as redes aos 38 minutos do segundo tempo e ainda afastou de vez qualquer crítica de que não se movimenta. Naquele dia, foi o terceiro que mais correu (10,7 km), atrás apenas de Nolito e Pizarro (ambos 10,9 km).

“Se ele não joga mais, é apenas por uma decisão do treinador. Nunca o havíamos visto tão em forma. Nem mesmo no Brasil. Agora, Berizzo mudou o esquema para o 4-2-3-1, com dois extremos e um meia mais central, que tem as costas protegidas e pode estar mais liberado do trabalho defensivo. Dá para dizer que é o lugar ideal para Ganso. Se Berizzo lhe der uma chance por ali, talvez o Sevilla, enfim, poderá disfrutar de sua melhor versão”, finaliza Carlos Pérez.

Uma questão de tempo? É cada vez maior a pressão que o armador exerce com o seu futebol na ‘queda de braço’ com o técnico argentino.