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Narradora de América-MG x ABC topou desafio para obter estágio e quer mais

Reprodução/Twitter
Imagem: Reprodução/Twitter

Karla Torralba

Do UOL, em São Paulo

08/11/2017 08h44

Isabelly Morais estava na faculdade de jornalismo quando percebeu dezenas de mensagens nas redes sociais com seu nome. Eram pessoas empolgadas com a notícia de que narraria América-MG x ABC, pela Série B do Campeonato Brasileiro, nesta terça (07). Aos 20 anos, foi a primeira vez da estagiária da Rádio Inconfidência de Minas Gerais narrando uma partida. A sensação depois do 2 a 0 do time da casa é de dever cumprido, felicidade pelo carinho e vontade de responder a todos.

Após o jogo, já em sua casa, Isabelly conversou com o UOL por telefone. Não estava cansada, a adrenalina ainda a mil. “Meu Twitter eu estou até com medo de abrir, porque tem muita mensagem. Eu vou responder todo mundo! E o América-MG é um dos assuntos mais falados do Brasil”, disse empolgada.

No estádio Independência, local da partida desta terça, Isabelly virou celebridade. “Pessoas chegaram pra tirar foto. Amigos da imprensa me vieram desejar sorte. Minha vida nunca foi tão movimentada. Eu soube de amigos meus, de um pessoal mais ‘delicado’, de coisas mais chatinhas, gente falando: ‘Espero que não narre jogo do meu time’, um palmeirense. Mas isso são formiguinhas. Eu não me importo”, comentou. A maioria das pessoas mencionou a narradora para elogiar mesmo.

Apesar de não ter preparado nada de bordões para falar, Isabelly conquistou o público ao vibrar com os gols do América-MG e citar o rival Internacional na tabela. “Empata, empata, Internacional. Que o América está chegando! Está chegando para ganhar a Série B e subir para a Série A!”, disse no primeiro gol do time mineiro.

“Eu não treinei. Com todo respeito ao Internacional e ao clube. Eu narrei pela Inconfidência, rádio mineira, tradição no estádio. Eu encarei como contexto. É uma briga saudável. Os times estão empatados (com 63 pontos, mas o time gaúcho leva vantagem no número de vitórias). A gente vai comemorar mesmo. A gente quer que o América vença a Série B. a gente está na torcida. A gente defende o futebol”, explicou.

Antes da partida, a repercussão de que uma narradora faria o jogo deixou Isabelly ainda mais nervosa. A atitude foi “se trancar” e estudar. “Eu vim pra casa pra me desligar e estudar o jogo. Teve um período da tarde eu me desliguei pra estudar o ABC mesmo. Eu passei o dia super nervosa pela preocupação. América x ABC  era o assunto mais falado em BH”.

A euforia da estreia na nova função ainda persiste, mas agora é só alegria. “Na jornada eu fiquei muito tranquila”, contou Isabelly, que também está preparada para as críticas e para o machismo comum do meio.

“Quando a mulher mexe com jornalismo esportivo, é criticada só por ser mulher. A gente enfrenta todo dia. A mulher tem que ser cascuda e deixar muita coisa em segundo plano. Eu já estou meio cascuda. Não é pela carreira, pela vida mesmo”, ressaltou.

A também repórter relembrou situações mais delicadas que viveu por ser mulher. “Eu tive situações desconfortáveis de ex-jogador, dirigente...de querer trocar favor por entrevista. Teve um que me disse que eu era muito bonita. Mas eu me vejo como profissional antes de tudo”, explicou.

No quinto período de jornalismo, Isabelly começou a trabalhar na rádio há 4 meses, depois de pedir uma chance como estagiária ao chefe da Rádio Inconfidência, José Augusto Toscano.

“Eu pedi estágio pro meu chefe, o Toscano, porque eu estava em uma assessoria, infeliz. Eu ia trabalhar descontente. Eu chamei o Toscano no Facebook e pedi estágio. Ele mandou de primeira: ‘Você toparia ser narradora?’. Eu disse que adoraria me aventurar nas coisas que nunca tinha feito. E aí ficou assim caminhando esse assunto na narração e ele falando que ia me lançar. Há duas semanas ele disse que eu ia narrar América x ABC”, relembrou. 

Isabelly se mudou para Belo Horizonte para fazer a faculdade, com 17 anos. Natural de Itamarandiba (MG), ela tem três metas: “Sempre tive como objetivos fazer reportagem de campo, cobrir uma Olimpíada e participar de uma mesa de debate. Aquela mesa onde faço parte do debate realmente. Eu quero estar dentro do debate tanto quanto os homens”.

Apesar da escala de trabalho da rádio ainda não estar feita para o final de semana, Isabelly continuará com as narrações e há possibilidade de a jovem ter um novo desafio já no final de semana. “Me cutucou. Eu gostei e quero continuar”, destacou.