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"Pernas de tronco" de ex-jogador da seleção motivou culto de CR7 ao corpo

Reuters / Stefano Rellandini
Imagem: Reuters / Stefano Rellandini

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, em Lisboa (Portugal)

10/11/2017 04h00

Recém-eleito cinco vezes melhor do mundo, Cristiano Ronaldo tem no trabalho físico uma das receitas de seu sucesso.

E ela o acompanha desde cedo. Quando ainda jogava nas categorias de base do Sporting, o craque costumava fugir à noite para fazer musculação na academia e chegou a ser multado. Em seu grupo, tinha a companhia dos colegas José Semedo, Miguel Paixão e Fabio Ferreira. No fim das contas, acabou sendo o único do quarteto a chegar ao estrelato. Semedo defende hoje o modesto Vitória de Setúbal, Paixão se aposentou e agora trabalha no museu do próprio Ronaldo enquanto que Ferreira abandonou o futebol após uma lesão e virou garçom.

André Cruz - Antonio SIMOES/AFP - Antonio SIMOES/AFP
Imagem: Antonio SIMOES/AFP

Eles foram todos testemunhas de uma obsessão que abriu caminho para que o atacante do Real Madrid conquistasse os principais títulos e prêmios individuais. Não deixa de ser curioso que esse culto ao corpo, conforme verificou o UOL Esporte, tenha tido um brasileiro como motivação: André Cruz.

O português de 32 anos sonhava em ter mais força nas pernas que o ex-zagueiro de Napoli, Milan e Flamengo, entre outros, e carregava pesos nos tornozelos.

“Ele queria ser o melhor sempre. Uma vez, viu o Thierry Henry em uma partida do Arsenal e disse que iria ser mais rápido que ele. Em outra ocasião, num treino, chamou a atenção para as pernas do André Cruz, que as comparou com troncos de árvore, e garantiu que as dele ficariam assim”, conta o ex-colega Hugo Pina, que atua hoje nas divisões menores de Portugal pelo 1º de Dezembro.

Não dá para dizer que Cristiano Ronaldo não tenha cumprido com a profecia feita ainda no início de sua carreira.

Ao passo em que CR7 subia para o time principal, André Cruz fazia a sua última temporada pelo Sporting em 2001/02. Os dois conviveram pouco tempo juntos e tiveram, inclusive, a chance de se enfrentarem em jogo-treino.

Tímido, o futuro melhor do mundo nunca contou ao brasileiro de sua admiração.

“Não tinha noção disso. Modéstia à parte, sabia que tinha o corpo bonito, mas não fazia pela beleza e, sim, pela importância de estar sempre bem. Quando ia à praia, as pessoas me olhavam, homens e, principalmente, mulheres. Pensava comigo mesmo: ‘estão me observando’”, sorri Cruz.

“Provavelmente, os homens viam que era um jogador e tentando descobrir quem era. As mulheres, não, era pela beleza do corpo, mesmo. Mas nunca fiquei nessa de ficar reparando se tinha coxa mais grossa que companheiro”, prossegue.

Cristiano Ronaldo - Denis Doyle/Getty Images - Denis Doyle/Getty Images
Imagem: Denis Doyle/Getty Images

Vice-campeão da Copa do Mundo em 1998, o atual empresário guarda a imagem de Ronaldo como um garoto reservado em seu início, “muito quieto” e que “falava pouco, somente o necessário”.

“Tive algum contato, mas a gente nunca chegou a trocar muita ideia. Sempre fiz o que achei extremamente importante para o meu corpo, para manter uma boa forma, não por causa de beleza. Não me preocupava com desfile de moda, ao contrário do que se vê hoje, em que o físico, o corte de cabelo e como se veste são importantes. Queria apenas ter mais força, agilidade, uma estrutura legal para o cabeceio e bater na bola. Mas fico feliz de ter servido como espelho para um cara como ele”, afirma André Cruz (à esq. na foto).

Se ainda jogasse, o ex-defensor tem consciência de que teria de se submeter a situações como a que CR7 se expõe porque atualmente, segundo ele, “tudo passa pelo marketing”.

O destino do jogador português poderia, inclusive, ter sido diferente após uma indicação do brasileiro.

“Cheguei a indicar Cristiano (Ronaldo), (Ricardo) Quaresma e Hugo Viana para amigos que trabalhavam em clubes italianos (Ariedo Braida, do Milan, e Filippo Fusco, do Napoli). Na época, até um fiz um comentário sobre essa parte física do Ronaldo, que era magro e, olhando rapidamente, lembrava o Ronaldinho Fenômeno quando tinha 17 anos. Disse: ‘não esquece, o nome dele é Ronaldo, guarde esse nome’”, recorda Cruz.

“Um ano depois, pouco mais, o Filippo, que está hoje no Verona, me liga: ‘estou vendo um fenômeno’. Perguntei que jogo estava assistindo. Ele me respondeu: ‘Sporting e Manchester United’. Então, completei que não precisava nem dizer quem era. O resto é história”, finaliza.