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Fla completa 122 anos com turbulência na diretoria e promessa de debandada

O presidente Eduardo Bandeira de Mello vive panorama delicado no comando do Fla - Júlio César Guimarães/ UOL
O presidente Eduardo Bandeira de Mello vive panorama delicado no comando do Fla Imagem: Júlio César Guimarães/ UOL

Vinicius Castro

Do UOL, no Rio de Janeiro

15/11/2017 04h00

O Flamengo celebra 122 anos de uma história gloriosa nesta quarta-feira (15). A torcida, no entanto, não tem tido muitos motivos para comemorar. Um time irregular patina na temporada e se vê em xeque para a reta final de 2017. Nos bastidores, o cenário político é cada vez mais turbulento, com o grupo do presidente Eduardo Bandeira de Mello - SóFLA (Sócios pelo Flamengo) - perdendo espaço e diante da promessa de uma debandada de vice-presidentes.

Alguns motivos são responsáveis diretos pelo “naufrágio” político da administração. Os principais estão na condução do atual mandatário, que centralizou o poder e fixou âncora no futebol, além do desempenho absolutamente aquém do investimento no carro-chefe da Gávea. Tradicionalmente, as gestões vistas como imunes sofrem quando a bola deixa de entrar e os títulos não são celebrados.

E a diretoria do Flamengo sofreu perdas importantes nos últimos tempos. O diretor financeiro Paulo Dutra deixou o clube. Na semana passada, os desligamentos do vice-presidente de secretaria, Edmilson Varejão, e do vice de administração, Rafael Strauch, se tornaram públicos. Aspectos profissionais e pessoais foram tratados como os motivadores das respectivas mudanças.

A saída de Rafael Strauch, porém, foi vista com estranheza até pelas correntes de oposição. Ele funcionou como o principal articulador da campanha que garantiu a reeleição ao presidente Eduardo Bandeira de Mello. É também considerado a principal liderança do SóFLA e sempre teve voz ativa na administração.

Strauch é muito próximo ao presidente, mas considerado um personagem controverso na política do clube, principalmente pelas opiniões intensas e os confrontos no dia a dia. Com temperamento forte, ele já teve discussões acaloradas com o vice-presidente Maurício Gomes de Mattos e figuras influentes do clube, como alguns Grandes Beneméritos. Até Mário Esteves, presidente do Conselho Fiscal e integrante do SóFLA, foi alvo da fúria do agora ex-dirigente.

A relação com a imprensa também nunca foi das melhores. A aposta nos corredores da Gávea é a de que Rafael Strauch saiu de cena em um momento absolutamente turbulento, mas que retornará no processo para a eleição presidencial de dezembro de 2018.

Situação exige mudanças. E isso pode acarretar em debandada

Ricardo Lomba  - Gilvan de Souza/ Flamengo - Gilvan de Souza/ Flamengo
Ricardo Lomba é o representante das mudanças desejadas pelo SóFLA no futebol
Imagem: Gilvan de Souza/ Flamengo
Se até o braço direito de Bandeira de Mello abandonou o barco, uma debandada de vice-presidentes não será surpresa. Já é esperado que um nome forte da administração e com bastante relevância deixe o clube por motivos pessoais. Outra saída, no entanto, pode ser resultado da divergência de opiniões. Apesar de todos os envolvidos negarem publicamente, as cartas estão na mesa.

Há pouco mais de um mês na vice-presidência de futebol, Ricardo Lomba corre o risco de nem sequer emplacar 2018. A explicação está nos anseios do SóFLA de ter voz ativa no departamento. Como Bandeira não permite e está fechado no processo com os diretores executivos Fred Luz e Rodrigo Caetano, uma espécie de ultimato funciona de forma velada.

O grupo político quer fazer valer a sua vontade na formatação do elenco para 2018. Entre os desejos estão as negociações de jogadores como Alex Muralha, Gabriel, Márcio Araújo, Rafael Vaz e Romulo, por exemplo. Eles também desejam as demissões do coordenador de psicologia Fernando Gonçalves e do preparador de goleiros Victor Hugo. Sobre Fred Luz, o SóFLA quer que o executivo deixe de ter interferência no futebol e volte para a sede social.

Lomba foi colocado na vice-presidência por ser integrante do grupo e uma pessoa de confiança do mandatário. Mas ele já deixou claro nos bastidores que não aceitará ser uma figura decorativa, muito menos deixar de reunir autonomia para mudar o que está errado no departamento de futebol.

Se Bandeira mantiver a postura e as mudanças exigidas também pela maioria da torcida não acontecerem, o Flamengo deve sofrer perdas em cadeia no Conselho Diretor. Todas, obviamente, já com o intuito político para a eleição do próximo ano.

Vice-presidente ganha força por candidatura nos bastidores

Maurício Gomes de Mattos - Divulgação - Divulgação
Maurício Gomes de Mattos (3º em pé a partir da esquerda) com situação e oposição
Imagem: Divulgação
Se Eduardo Bandeira de Mello perde força, o vice-presidente Maurício Gomes de Mattos tem um cenário absolutamente oposto. Conhecido personagem da política do clube e com anos de serviços prestados, ele agrega diferentes correntes e atua com firmeza no projeto das embaixadas e consulados espalhados pelo mundo.

Gomes de Mattos tem perfil conciliador, o que é procurado por integrantes influentes do clube para o processo eleitoral. Possível candidato, ele reuniu no casamento da filha membros da situação e do grupo dissidente na mesma foto.

Os atuais VPs Alexandre Wrobel, Cláudio Pracownik, Pedro Almeida, Daniel Orlean e Ricardo Lomba posaram com figuras importantes do grupo original, eleito em 2012: Wallim Vasconcellos, Rodolfo Landim, Rodrigo Tostes, Gustavo Oliveira e outros. A reportagem do UOL Esporte teve acesso ao registro em primeira mão e questionou o vice-presidente.

“Essa foto é sensacional. O Flamengo unido é imbatível”, limitou-se a dizer.

As articulações estão em curso e o cenário político se desenha diante de um SóFLA abalado, algo que era impensável na reeleição de Bandeira de Mello. Uma coalização surge forte nos corredores da Gávea com o desejo de colocar o Rubro-negro no caminho das vitórias. Nenhuma posição é assumida publicamente, mas o jogo já começou.

É assim que o Flamengo celebra os 122 anos. Sem praticamente nada a comemorar no futebol e já respirando a próxima eleição. Muita coisa ainda acontecerá até o próximo aniversário do clube mais popular do país, quando então faltará menos de um mês para que o novo presidente rubro-negro seja conhecido.