Topo

Mesmo com colaboração, delator da Fifa ainda pode pegar 60 anos de cadeia

JOHN TAGGART / Reuters
Imagem: JOHN TAGGART / Reuters

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Nova York

15/11/2017 21h46

Ao contrário do que acontece no Brasil, o esquema de delação premiada nos Estados Unidos não dá muitas vantagens ao acusado - e não adianta chorar, algo que Alejandro Burzaco, principal delator do caso Fifa, fez duas vezes durante as quase oito horas de depoimento nesta quarta-feira, na Suprema Corte do Brooklyn, em Nova York.

Mesmo tendo se entregado voluntariamente ao FBI e colaborado com a investigação, ele ainda pode pegar uma pena mínima de 60 anos. O depoimento do empresário argentino trouxe ao julgamento em Nova York novos detalhes sobre o esquema de pagamentos ilegais feitos a dirigentes ligados à Fifa, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin. 

Ele também acusou a Rede Globo de Televisão de pagar US$ 15 milhões de propina a Julio Grondona, ex-presidente da Associação do Futebol Argentino (AFA) e então membro do comitê financeiro da Fifa, na compra dos direitos de transmissão das Copas do Mundo de 2026 e 2030, além de ter detalhado o montante de dinheiro pago aos acusados.

Além de Marin, a lista inclui o ex-presidente da Conmebol, Juan Angel Napout, e o advogado Manuel Burga. Foram US$ 4,5 milhões pagos e US$ 9,1 milhões prometidos a Napout; US$ 2,7 milhões pagos e US$ 5,9 milhões prometidos a Marin; e US$ 3,6 milhões pagos e US$ 3 milhões prometidos a Burga.

Logo pela manhã, Burzaco já havia chorado antes mesmo da entrada do júri e teve de sair para se acalmar antes de começar seu depoimento. Especula-se que o motivo da emoção tenha sido a notícia de que o advogado Jorge Delhon, a quem ele pagou alguns milhões de dólares em propina, cometeu suicídio nesta terça após ter sido citado em sua delação.

Ao fim da tarde, ele chorou novamente ao falar com o promotor sobre o dia em que todos os envolvidos no caso foram presos em Zurique. Ciente de que seria o próximo da lista, fugiu para Milão, mas acabou decidindo se entregar após seu irmão dizer que a polícia federal da Argentina já estava à sua procura. "Ele me disse que se eu voltasse eu poderia ser preso ou até mesmo morto."

Embora tenha feito questão de frisar que havia decidido parar com o esquema, o promotor fez com que ele recordasse os detalhes de sua delação. Além de pagar US$ 27,1 milhões para o governo americano, teve que vender todos as suas empresas em um prazo de 14 meses (o que lhe rendeu mais US$ 23,8 milhões, que também foram pagos ao governo americano).

Seu pedido de visto 'S' (que lhe garante o direito de permanecer em território americano como informante) também não é garantido, o que seria um problema para Burzaco, que teme voltar à Argentina, seu país, e acabar morto em uma queima de arquivo.

Se a acareação, que ocorrerá nesta quinta-feira, provar que o delator mentiu em algum momento, o acordo será invalidado. Quando questionado pelo promotor sobre qual sentença esperava receber, Burzacos respondeu, com os olhos vermelhos e em tom resignado: "Espero não ir para a prisão."