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Ele fez golaço em estreia como titular. Mas viu Palmeiras levar de 7 a 2

Corrêa defendeu o Palmeiras por cinco anos em duas passagens pelo clube alviverde - Leonardo Soares/UOL
Corrêa defendeu o Palmeiras por cinco anos em duas passagens pelo clube alviverde Imagem: Leonardo Soares/UOL

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos (SP)

20/11/2017 04h00

23 de abril de 2003. A data ficou marcada na vida profissional de Corrêa. Por um lado, positivamente: foi o dia em que estreou como titular com a camisa do Palmeiras, principal clube de sua carreira. Em contrapartida, o volante que tinha sido contratado após se destacar no São Bento fez parte de um dos momentos mais trágicos da história alviverde: a derrota por 7 a 2 para o Vitória, pelas oitavas de final da Copa do Brasil de 2003, no Parque Antárctica.

Corrêa, ao menos, pôde comemorar o fato de ter feito um golaço de falta, quando o placar já apontava 6 a 1 para o time baiano - adversário que, coincidentemente, havia cravado o rebaixamento do Palmeiras para a Série B na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2002.

Copa do Brasil, 2003 - Palmeiras 2 x 7 Vitória: Torcedores do Palmeiras em frente ao placar eletrônico (24/04/2003) - José Patrício/Folhapress - José Patrício/Folhapress
Imagem: José Patrício/Folhapress
"Foi um ano de reconstrução. O começo foi difícil, mas a gente chegou na semifinal do Paulista de 2003 - fomos eliminados pelo Corinthians. Depois, na Copa do Brasil, perdemos por 7 a 2 para o Vitória. Foi a minha estreia como titular. Eu tinha virado titular neste jogo, fiz um golaço de falta, lembro como se fosse hoje. Pena que o jogo foi ao contrário do que a gente imaginava. De tanto correr eu saí até com câimbra do jogo, foi difícil. Imagina: o time tinha acabado de ser rebaixado, e ser eliminado dessa forma...", recorda o meio-campista em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Coube ao goleiro Marcos, que um ano antes havia sido um dos destaques da seleção brasileira na conquista da Copa do Mundo de 2002, tornar-se o principal protagonista da desastrosa partida palmeirense: depois de cometer um pênalti na etapa inicial, o camisa 12 do Palmeiras proporcionou uma cena bisonha ao furar a bola e praticamente dar o gol de presente - o sétimo do Vitória - para Nadson, que estava em noite inspirada e balançou a rede quatro vezes.

Corrêa corre na Academia de Futebol em sua primeira passagem pelo Palmeiras - Fernando Santos/Folhapress - Fernando Santos/Folhapress
Imagem: Fernando Santos/Folhapress
"A gente se coloca no lugar do Marcão, voltando de uma realidade totalmente diferente, pentacampeão do mundo e sendo um dos grandes jogadores daquela Copa, e ter que encarar tudo isso... Para um goleiro já é ruim tomar gol, imagina tomar uma goleada de expressão num clube gigante? Então é de se entender algumas atitudes dele. O 7 a 2 foi um divisor de águas, não tem como não ser. Em qualquer equipe, um resultado adverso da forma que foi, dentro de casa, uma coisa totalmente anormal", recorda o volante, que defendeu o Palmeiras por aproximadamente cinco anos - entre 2002 e 2006 e em 2012.

Aos 36 anos, Corrêa já está fechado com o Ituano para disputar a Série A-1 do Campeonato Paulista de 2018. E ainda não pensa em encerrar carreira. "Eu sigo o jogo. Me preparei para chegar nessa idade. Lógico que eu sei que está mais perto do fim do que do começo, eu tenho essa consciência, mas enquanto corpo e cabeça estiverem caminhando juntos e eu tiver também colaborando, vou continuar", diz o meio-campista.

VEJA OUTROS TRECHOS DA ENTREVISTA:

COMO CORRÊA CHAMOU A ATENÇÃO DO PALMEIRAS

Correa treina batida de faltas durante treino do Palmeiras - Rubens Cavallari/Folhapress - Rubens Cavallari/Folhapress
Imagem: Rubens Cavallari/Folhapress
Em 2001 eu fui para o São Bento, onde disputamos a A-3. Nós fomos campeões, eu fui artilheiro do time como segundo volante, bola parada, bastante gol de falta, qualidade no chute... Faltas são uma marca na minha carreira, se não me engano foram dez ou 12 gols de bola parada, fui revelação do campeonato. Aí o Palmeiras comprou 50% do meu passe e automaticamente eu assinei o contrato, mas na época foi todo mundo para o XV de Piracicaba disputar a Série B do Brasileiro. Era a primeira vez que eu estava tendo a oportunidade de disputar um Brasileiro, isso em 2001. Em 2002, eu voltei para o time B do Palmeiras e cheguei a subir para o time profissional, fiquei alguns jogos no banco, mas não joguei. Eu acabei indo para o XV de Piracicaba de novo, disputar a Série B, e eu queria jogar. No Palmeiras foi um ano muito difícil, do primeiro rebaixamento. Eu não teria oportunidade e nem era a hora também: moleque, subindo. Aí em 2003 o Palmeiras reformulou, chegou o Jair Picerni, eu voltei e comecei a jogar.

A SAÍDA DO PALMEIRAS: SONHO DE JOGAR NA EUROPA

Na verdade, todo atleta quando começa a carreira tem um sonho: ir para um time grande, ir para a Europa e chegar à seleção brasileira, esse é o objetivo de todos. Na época eu tinha 192 jogos pelo Palmeiras e tive a proposta do Dínamo de Kiev, que é um time tradicional, conhecido, e com oportunidade de disputar competições internacionais... Tirando a Copa do Mundo, a Champions League, que eu tive a oportunidade de disputar, é a segunda maior competição, e também tive a oportunidade de ver outra cultura, de abrir outro mercado, então foi isso que me motivou. E também a proposta era muito interessante para todo mundo e acabou dando certo.

AFASTAMENTO NO FLA FOI ORDEM DE LUXEMBURGO

Eu fui para o Flamengo em 2010. Foi um ano muito difícil para o Flamengo, talvez o mais difícil. Foi o ano que deu todo aquele rolo do goleiro Bruno e outras coisas que aconteceram na época, e o Flamengo fez um Brasileiro muito ruim. O próprio Vanderlei Luxemburgo voltou ao Flamengo e a gente terminou o ano próximo à zona do rebaixamento, 14º colocado, e quando a gente voltou de férias, em 2011, no primeiro dia de treino eu recebi a ligação do Isaias Tinoco, gerente de futebol, dizendo que eu estava afastado e que ia ficar treinando separado - eu e mais alguns atletas. E eu acabei não viajando, acabei sendo afastado e fiquei um período inativo no clube, treinando todos os dias, cumprindo o que era determinado, e acabei não jogando.

Volante Correa em ação durante treinamento do Flamengo - Alexandre Vidal/Fla Imagem - Alexandre Vidal/Fla Imagem
Imagem: Alexandre Vidal/Fla Imagem
Disseram que foi ordem do Vanderlei Luxemburgo. Agora, o motivo é difícil entender, não tem uma lógica, até porque foi conduzido de uma forma errada. O Flamengo esperou para me avisar no início de janeiro, quando a gente se reapresentou, ou seja, a maioria dos times já tinha formado seus elencos, então eu acabei sendo prejudicado. Surgiram algumas oportunidades, mas o Dínamo também estava resistente para emprestar, queria valor, aí o tempo foi passando e quando chegou mais perto do fim de contrato eu tomei a minha decisão: 'Agora eu não vou para lugar nenhum, eu vou voltar para Kiev, vou cumprir o meu contrato. Depois eu pego o meu passe e fico livre para decidir o que eu quiser, para não ficar dependendo dos outros.

NÃO GUARDA MÁGOA DO FLAMENGO: "PRIVILÉGIO"

Mágoa não, o Flamengo foi muito correto comigo, me pagou, recebi tudo certinho. Tudo o que eu precisei, a nível de estrutura, o Flamengo foi muito solícito. Não tenho mágoa nenhuma, só agradecimento, o privilégio de ter jogado no maior time do país e do mundo também. Eu só penso assim, que foi conduzido de uma forma errada, prejudicando o atleta, e se ver o meu perfil, eu nunca fui um cara que causasse tumulto, indisciplinado... Foi uma coisa totalmente estranha que aconteceu e acabou me prejudicando, eu perdi cinco, seis meses, fiquei sem atuar, e a consequência não é só imediata. Imagina: aqui no Brasil, sem atuar, e você volta para o Dínamo... Até você reconquistar espaço e tudo mais, foi um período difícil, mas foi superado.

A VOLTA AO PALMEIRAS E O REBAIXAMENTO EM 2012

Correa comemora gol do Palmeiras - AFP PHOTO/Yasuyoshi CHIBA - AFP PHOTO/Yasuyoshi CHIBA
Imagem: AFP PHOTO/Yasuyoshi CHIBA
Não dá para dizer que foi um erro [voltar ao Palmeiras]. Eu lembro que eu estava assinando um pré-contrato com o Náutico para disputar o mesmo Campeonato Brasileiro, mas aí, quando surgiu a oportunidade de voltar ao Palmeiras, onde é a minha casa, onde eu passei uma parte maravilhosa da minha vida, clube que me projetou para o cenário nacional e mundial... Voltar para casa é sempre muito bom. O Palmeiras tinha acabado de ser campeão da Copa do Brasil, tive a oportunidade de trabalhar com o Felipão e outros atletas de grande nível, além dos amigos que tinham permanecido da minha época: médicos, fisioterapeutas, o pessoal do clube.

O time acabou não encaixando depois da conquista da Copa do Brasil e, de repente, achou-se que seria muito simples chegar aos pontos necessários para não cair. Só que em time grande, quando as coisas vão passando e não vão acontecendo, vai ficando mais difícil. Tem a pressão de cada um, a pressão externa, e acabou não dando certo. Foi turbulento. A gente até chegou a ganhar alguns jogos dos concorrentes diretos, mas infelizmente aconteceu essa tragédia aí.

PASSAGEM PELA PORTUGUESA E O CASO HÉVERTON

12.jun.2013 - Corrêa corre atrás da bola na partida entre Portuguesa e Fluminense - Reinaldo Canato/UOL - Reinaldo Canato/UOL
Imagem: Reinaldo Canato/UOL
É difícil a gente ver um time tão tradicional, tão querido pela maioria dos torcedores, o segundo time da maioria dos torcedores, viver tudo o que viveu. E em 2013, nós jogadores fizemos a nossa parte, nós não caímos dentro do campo. Nosso time fez um campeonato muito bom, principalmente na fase final com a chegada do Guto Ferreira. O time encaixou e a gente fez bons jogos, e nos livramos do rebaixamento com dois jogos de antecedência. Mas depois aconteceu tudo o que aconteceu e a Portuguesa acabou sendo rebaixada externamente.

O futebol parte de organização em primeiro lugar. Este tipo de informação parte de cima, por isso que existem os advogados, as pessoas que são responsáveis por essas áreas, e o Héverton não pode ser o responsável por ter entrado num jogo, todos que faziam parte daquele momento não tinham nem ideia, noção, de ele não poder estar ali, tanto que ele entrou e a gente já tinha conquistado em campo o objetivo de não cair. Então essa desorganização, essa troca de informação errada, acabou prejudicando todo um histórico do clube. O time saiu da Série A para hoje não estar nem na Série D, então, para gente que viveu o dia a dia e conheceu o dia a dia interno do clube, é até certo ponto revoltante, porque nós jogadores demos a vida ali. Sem contar que nos últimos três meses a gente jogou sem receber, segurou até o final.

FORTALEZA: 'FOI UM PERÍODO MUITO BOM'

No Fortaleza eu fiquei três anos: 2014, 15 e 16, foram mais de 100 jogos com a camisa do Fortaleza. Fui bicampeão estadual lá, foi um momento muito bom. Eu só saí de lá porque infelizmente a gente acabou batendo na trave três vezes no acesso, senão eu estaria lá até hoje. A minha família adora lá, os meus filhos falam que querem morar em Fortaleza, minha esposa também... Foi um período muito bom.

O GOL MAIS BONITO DA CARREIRA: OLÍMPICO

O gol olímpico no Paulista de 2004 contra o Paulista de Jundiaí. Nós ganhamos de 5 a 2. Foi o mais bonito da carreira, pela dificuldade que é fazer um gol olímpico.