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Afiado, Luxa faz elogios a Keno e explica por que Cícero funciona no Grêmio

Vanderlei Lima/UOL Esporte
Imagem: Vanderlei Lima/UOL Esporte

Vanderlei Lima e Vanderson Pimentel

Do UOL, em São Paulo

25/11/2017 04h00


Vanderlei Luxemburgo pode estar desempregado após ser demitido do Sport, porém mostra-se convicto nos seus conceitos. Em palestra sobre a importância de analistas de desempenho no futebol, feita na última quinta-feira (23) em São Paulo na Think Ball & Sports Consulting, Luxa afirmou em tom de lamentação que técnicos não são mais tão importantes em um clube como antes, e disse repetidamente que o Brasil está perdendo sua essência em relação ao futebol jogado nos últimos tempos.

Além de ter uma opinião contrária a dos outros palestrantes, o treinador também afirmou que o futebol brasileiro não revelou ninguém em 2017, que Keno, atacante do Palmeiras, foi um dos poucos atletas que "fizeram a diferença" com jogadas individuais, e reclamou dos vestiários atuais, em que os atletas se falam pouco e mexem muito no celular.

Veja as declarações de Vanderlei Luxemburgo na íntegra:

TÉCNICO É 3ª OU 4ª PESSOA MAIS IMPORTANTE

O diretor executivo fortalece a parte técnica, eu treinador não contrato, mas eu discuto contratação do jogador. Ele me abastece, mas ele não contrata, a informação dele (analista de desempenho) vem para mim para eu decidir com o departamento administrativo com o orçamento daquela contratação e era assim na época Palmeiras/Parmalat. Eu observava a parte técnica e informava o (José Carlos) Brunoro, e ele com a Parmalat tinha o poder de decisão. Então acho fundamental esse momento que estamos vivendo, preocupante para os técnicos, porque o técnico que era junto com o supervisor uma figura importante, hoje ele é a terceira ou quarta pessoa mais importante dentro do processo do futebol hoje. Isso está equivocado, tem que voltar a sua normalidade. A função do técnico tem que ser uma coisa importante dentro do processo de futebol profissional.

BRASIL NÃO REVELOU NINGUÉM EM 2017

Vendo as coisas como estão acontecendo, na seleção brasileira uma geração fantástica. Para baixo uma geração preocupante. Qual foi a grande revelação que surgiu neste Campeonato Brasileiro deste ano? Vamos pegar lá atrás, quantos jogadores você tinha dentro do Campeonato Brasileiro que chegaram lá na frente? Então hoje me preocupa. Hoje não tem mais ex-jogador que tenha a sensibilidade de olhar para o jogador e fala: 'Segue e lá na frente você vai ver o que vai acontecer'. Tem coisas que não pertencem ao analista de desempenho. O analista tem a função de análise, informação de abastecimento, que é uma conversa separada. Uma coisa é o abastecimento ao profissional e outras coisas são os poderes de decisão, então é fundamental que vocês estejam acompanhando tudo, mas até onde vai o limite de cada um para as coisas darem bastante sucesso.

JÔ TEM CHEIRO DE GRAMA

Me perguntaram quem eu optaria pelo Drogba ou pelo Jô. Eu disse que queria o Jô, sabe por quê? Isso é cheiro de grama, cheiro de vestiário, vivência, olho no olho.

ARREPENDIMENTO COM ADRIANO

Eu fiz uma grande bobagem na minha vida. Não contratei o Adriano para o Flamengo e eu deveria ter contratado. A única coisa que ele precisa era de um cara que apostasse nele e saísse de porrada com ele o tempo todinho que subisse a favela. Chegava lá no dono do tráfico e falava: 'Ó, a hora que ele aparecer aí mete a porrada nele e manda ele lá pra baixo para ficar comigo'. Eu recuperaria o Adriano, e o Jô só precisava de alguém que desse a oportunidade. Ele estava querendo buscar o caminho bom, era questão só de oportunidade.”

KENO FAZ A DIFERENÇA NO FUTEBOL BRASILEIRO

O Brasil hoje precisa voltar a deixar o jogador usar a sua parte empírica, aquilo que fazia a diferença, porque nós tivemos grandes jogadores europeus, mas não tantos quanto jogadores brasileiros que fizeram a diferença. A diferença é que na hora que eu tenho o esquema tático cerrado eu vou ter um brasileiro que vai dar um drible e vai me escangalhar a parte tática. Hoje, qual o jogador brasileiro (faz isso)? Eu vou botar o Neymar, que faz a diferença realmente em alto nível. Tem um jogador aqui no Brasil que eu vi acabar com uma marcação cerrada atrás, e foi o Keno do Palmeiras. Jogador que estava com dois, três na frente. Ele limpa o primeiro, limpa o segundo e quebrou a linha de marcação. (No jogo em questão, o Palmeiras venceu o Atlético GO por 3 a 1) Eu não vejo mais isso, então essa essência é que eu estou falando que ela está deixando de existir.

CHAMOU NEYMAR DE 'FILÉ DE BORBOLETA'

Eu cheguei para ele e falei assim: 'Você é um filé de Borboleta'. Ele ficou bravo comigo, só que ele gostava de driblar e aí atacante não vive de gols? Se você só driblar não vai a lugar nenhum, se driblar pega uma diagonal em direção ao gol e aí você vai ser fenomenal. São detalhes importantes da essência do futebol.

PATOTA DO LUXA ERA CONCEITO PROFISSIONAL

Lembra quando falava a patota do Luxemburgo, quem se lembra disso? Eu levava 10, 12 pessoas para cada clube que eu ia, sabe porquê? Porque eles não tinham nada, chegava lá era terra arrasada, não tinha absolutamente nada, qual era a ideia minha naquela época? Criar um conceito de profissionais em cada setor. O brasileiro é empírico, isso é o que faz a nossa diferença.

CÍCERO É JOGADOR DE LIBERTADORES

Nós tivemos agora no Grêmio uma contratação pontual, ele foi rejeitado no São Paulo, jogador acostumado a ganhar com a característica de uma Sul-Americana, Libertadores, que é o Cícero. É o jogador talhado para jogar uma Copa Libertadores e quem fez o gol do Grêmio? (contra o Lanús) Quem participou? Então são coisas pontuais. 'Mas ele não jogou no ano com o São Paulo?' Eu quero ele para esse término de competição aqui. Esse investimento serve para aquilo que eu quero, vai me ajudar a decidir aquilo que eu quero. É essencial este trabalho de análise de desempenho, mas nós não podemos perder a nossa essência. Tudo o que nós temos no futebol até hoje não mudou, nós fomos perdendo aquilo no que nós éramos excelência do mercado do futebol. O jogador brasileiro sempre foi diferente, não vamos fazer o jogador brasileiro robô, a decisão sempre é técnica.”

CELULAR É 'RUIM' PARA O FUTEBOL BRASILEIRO

Hoje não se conversa mais, não tem mais uma participação, eles não discutem. Hoje é totalmente um vestiário vazio, eles não conversam mais. Esse negócio que bota na orelha aqui (fone de ouvido) e telefone celular é uma loucura, e eu vejo isso como uma coisa muito ruim para nós. Nós não estamos localizados na Europa, nós estamos aqui na América do Sul, então é uma coisa diferente e nós estamos mudando isso aí, infelizmente.