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História por trás da foto: conheça a menina corintiana que comoveu Itaquera

Lorena na imagem que viralizou: emoção à flor da pele para se levantar e comemorar - Bruno Teixeira/Corinthians
Lorena na imagem que viralizou: emoção à flor da pele para se levantar e comemorar Imagem: Bruno Teixeira/Corinthians

Diego Salgado

Do UOL, em São Paulo

28/11/2017 04h00

A cena foi rápida: contagiada pelos gritos da torcida, Lorena, corintiana de 11 anos, agarrou a barra de ferro à sua frente. Num impulso raro, tomado após a entrada dos jogadores alvinegros no gramado da Arena Corinthians, a menina se levantou para fazer parte de um coro uníssono em Itaquera.

Esse relato pode parecer normal, afinal, o estádio do Corinthians recebeu mais de 15 mil pessoas no último sábado. Para Lorena, no entanto, o gesto não é tão simples. Portadora de uma doença rara, que limita os movimentos das pernas, a corintiana precisou se superar. Ela, em seguida, viu a sua imagem viralizar nas redes sociais após um clique certeiro de Bruno Teixeira, fotógrafo do Corinthians.

A foto do momento exato da comemoração ajudou a trazer à tona uma história de superação e luta diária. Lorena tem uma malformação congênita da coluna vertebral e conta com o apoio irrestrito da mãe, Daniela, da avó, Wilma, e da irmã, Alexia, de 14 anos.

De acordo com Daniela, Lorena nasceu com a medula exposta, entre duas vértebras da lombar. Em 11 anos de vida, a menina já passou por sete cirurgias, a fim de corrigir os efeitos do problema. Na última, precisou colocar duas hastes e 20 parafusos na coluna. Tudo para minimizar o crescimento desgovernado dos membros inferiores.

"O pé entorta, o joelho roda. É preciso fazer cirurgia para corrigir e não crescer errado. Assim ela vai poder andar mais para frente. Hoje ela consegue ficar em pé com a nossa ajuda", contou Daniela em entrevista ao UOL Esporte.

Lorena fará outra intervenção em abril próximo, justamente para mais uma correção dos joelhos, pés e pernas. "Serão três em uma", disse a mãe da menina, que vê uma evolução constante no quadro clínico de Lorena.

Lorena - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Lorena, 11, enfrenta uma batalha por dia
Imagem: Acervo pessoal

Segundo Daniela, a primeira batalha ocorreu logo nos primeiros dias de vida. Lorena passou a se tratar na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) aos seis meses. Por ter tido hidrocefalia no nascimento, ela precisou fazer avaliações semestrais para saber se teria sequelas mais graves.

O tratamento ajudou Lorena a evoluir bastante. Hoje, a menina fala normalmente e frequenta a quinta série do ensino fundamental em uma escola comum da zona leste. Bastante comunicativa, a corintiana superou os problemas de fonoaudiologia nos primeiros anos de vida.

Outros desafios ainda fazem parte da rotina, pois o tratamento precisa ser constante. Para isso, Lorena faz fisioterapia na AACD. "Só ficar a cadeira de rodas não ajuda, são necessários aparelhos para evoluir mais", afirmou Daniela. 

Dias especiais em Itaquera

Fã do turco Kazim, Lorena compareceu à Arena Corinthians pela primeira vez em setembro passado. Antes do duelo entre Corinthians e Vasco no estádio, a menina entrou em campo ao lado do zagueiro Balbuena. Naquela ocasião, o clube paulista fazia uma ação com a AACD, com a presença de outras crianças no campo.

Quase três meses depois, a torcedora voltou ao local. Depois de assistir ao treino do Corinthians no sábado de manhã, a jovem torcedora presenciou a festa do hepta corintiano em um dos camarotes da Arena de Itaquera.

A ida ao treino aconteceu depois de Lorena descobrir que o ingresso poderia ser trocado por um quilo de alimento. Com as contas apertadas, seria impossível pagar pela entrada no estádio corintiano. Dois sacos de feijão, então, possibilitaram o dia diferente.

Só que outro fator se tornou um empecilho: o deslocamento, apontado por Daniela como um dos maiores desafios do dia a dia. Para ir à escola e comparecer duas vezes por semana à AACD, a família contra com transporte gratuito ligado à prefeitura de São Paulo.

Para vencer o trajeto no sábado e domingo, a família, que mora em Artur Alvim, bairro vizinho a Itaquera, contou com a carona providencial de um amigo. "O ponto de ônibus é muito longe do estádio e ainda é subida. É difícil empurrar a cadeira. Não daria para ir sem isso", frisou Daniela.

Corinthians - Divulgação/Corinthians - Divulgação/Corinthians
Lorena conheceu Bruno no domingo, antes da partida entre Corinthians e Atlético-MG
Imagem: Divulgação/Corinthians

No treino, Lorena ficou ao lado da avó, já que sua mãe teve de trabalhar. As duas ficaram no setor norte da Arena. De lá, foram fitadas pelo fotógrafo, que tentou manter a espontaneidade do momento. "Eu fiquei só observando. Foi exatamente na hora que o elenco entrou em campo. Ela [Lorena] entregou o celular para avó, levantou e começou a gritar", relembrou Bruno.

Mesmo sem estar presente, Daniela sabe que aquele momento especial foi responsável pela atitude inesperada. "O impulso ali foi por causa da emoção. Ela conseguiu levantar. Ela faz isso às vezes, levantou pela emoção. Foi muito bonito", disse.

Um comentário oportuno

Ao ver que a foto tinha repercutido nas redes sociais, o Corinthians decidiu convidar a família Gomes para fazer o tour da Arena no domingo, dia da partida Corinthians e Atlético-MG. Bruno, porém, contou com um comentário de Alexia para achá-la. Com telefones trocados, o convite foi feito.

Bruno ainda preparou uma surpresa ao enquadrar a foto. Lorena, dessa forma, foi recebida com o presente antes de conhecer as dependências do estádio. Em seguida, a família pôde assistir à partida em um dos camarotes do estádio.

De acordo com Lorena, fazer o tour no dia de uma partida importante foi inesquecível. "Fiquei muito feliz. Tivemos ainda a surpresa de ver o jogo. Gostei muito de conhecer o estádio inteiro", afirmou a torcedora, que já sonha com outros dias em Itaquera. "Ganhamos essa surpresa. Agora ela fala que quer ir em todos os jogos", disse Daniela.