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Como vivem os sobreviventes bolivianos do voo da Chape: fama e reclusão

Ximena se aventurou como modelo após acidente; Erwin segue no mundo da aviação - Reprodução
Ximena se aventurou como modelo após acidente; Erwin segue no mundo da aviação Imagem: Reprodução

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

29/11/2017 04h00

Os quatro brasileiros sobreviventes da tragédia da Chapecoense na Colômbia tiveram um ano de superexposição, com a mídia se esforçando para registrar cada pequena novidade em suas novas rotinas. Na Bolívia, da mesma maneira, os dois ex-funcionários da LaMia que também escaparam com vida da tragédia de 2016 em Medellín viraram personalidades nacionais.  

Procurado pelo UOL, o técnico de voo Erwin Tumiri preferiu não se manifestar sobre as lembranças do acidente de 2016, nem a respeito de como anda sua vida atualmente. Por sua vez, a comissária de bordo Ximena Suarez Otterburg mencionou apenas sua lista de compromissos públicos recentes. Assim, a reportagem ouviu pessoas próximas aos dois sobreviventes para descrever como foi o ano dos ex-funcionários da LaMia.

Erwin Tumiri: reclusão após exposição inicial em razão do acidente da Chapecoense - Reprodução - Reprodução
Erwin Tumiri: reclusão após exposição inicial em razão do acidente da LaMia
Imagem: Reprodução

Se por um lado Ximena esteve em evidência, com aparições públicas recorrentes, Erwin Tumiri procurou fugir dos holofotes ao longo de 2017. O ex-funcionário da LaMia concedeu algumas entrevistas somente dias depois do acidente na Colômbia, incluindo uma em que encontrou o bombeiro que o resgatou. Depois, preferiu se recolher à discrição de sua vida na cidade de Cochabamba, onde segue dedicado ao mundo da aviação.

Depois da recuperação clínica, Tumiri continuou a trabalhar como prestador de serviços para várias empresas, na função de técnico de voo, além de seguir estudando sobre a área. O sobrevivente da LaMia tem intenção de crescer no segmento, mas não tem usado a notoriedade do acidente em Medellín. De resto, Erwin se mantém devotado a duas outras paixões pessoais: motocicletas e futebol. 

"Creio que Ximena é mais midiática e Tumiri prefere manter um perfil mais discreto. Por isso evita as entrevistas. Mas se fala muito dele (na Bolívia)", relatou Jorge Fernandez, repórter do jornal "Opinión", da cidade de Cochabamba.

Contas altas em consultórios e nova vida como modelo

Da sua parte, Ximena Suarez acabou adotando outra postura para conseguir dar a volta por cima. Com dois filhos pequenos para sustentar (Thiago, de 7 anos, e Gabriel, de 3), a comissária de bordo passou a se dedicar à carreira de modelo depois do acidente, na cidade onde vive, Santa Cruz de la Sierra. A sobrevivente também chegou a atuar esporadicamente como palestrante, inclusive com apresentação no Brasil, em Curitiba. 

Tatuagem de Ximena, sobrevivente da tragédia com avião da delegação da Chapecoense - Reprodução - Reprodução
Ximena Suarez fez tatuagem recente com avião da LaMia chegando aos céus
Imagem: Reprodução

Mesmo assim, durante o ano Ximena precisou pedir doações em redes sociais para custear os tratamentos que teve se submeter após o acidente. Com o fim das atividades da LaMia, a comissária de bordo lidou com dificuldades para bancar o fim da recuperação clínica, além de outras consequências do desastre, como uma cirurgia estética no nariz, tratamento dentário e acompanhamento psicológico.

No entanto, a exposição pública somada ao valor pedido nas redes sociais (US$ 100 mil) acabaram rendendo críticas virtuais de alguns compatriotas. Por esta razão, a sobrevivente mais de uma vez desabafou publicamente, falando de suas dificuldades pontuais. Ximena alega que o seguro recebido de US$ 25 mil não foi suficiente para cobrir os gastos médicos. A comissária de bordo alega também que segue precisando de remédios para dormir.

Ximena esteve presente no noticiário em outros momentos de 2017. Em março, a boliviana encontrou a delegação sub-20 da Chapecoense em Santa Cruz de la Sierra e se emocionou ao receber uma camisa do clube. Em outubro, a sobrevivente divulgou uma tatuagem que fez em homenagem às vítimas da tragédia. O desenho na pele apresenta o avião da LaMia chegando ao céu.

"É algo simbólico que queria fazer há muito tempo. Sabemos que essas feridas da alma deixaram profundas cicatrizes, que necessitam ser canalizadas de alguma maneira", afirmou Ximena na oportunidade.

Livro e indicação a prêmio de personalidades na Colômbia

Nas últimas semanas, Ximena Suarez tem atuado intensamente em duas frentes. A primeira delas é o lançamento de um livro que conta sua experiência pessoal na tragédia com o avião da LaMia em 2016. A obra foi lançada na última terça-feira (28.11), na Bolívia.

A comissária de bordo também tem se dedicado na divulgação de um prêmio que concorre na Colômbia. A boliviana é uma das indicadas ao troféu "Valientes", do canal RCN, em disputa que reúne "personagens inspiradores" do ano. Ximena vem pedindo a conhecidos de redes sociais e a contatos do WhatsApp que ajudem na votação. A premiação será divulgada em 5 de dezembro. 

Olá a todos, sou Ximena Suarez Otterburg, a 'Valente'. Me considero assim, já que sobrevivi ao terrível e lamentável acidente da LaMia, em que iam grande parte da equipe de futebol Chapecoense, dirigentes e jornalistas. Por favor, peço seu voto para este concurso que se realiza na Colômbia. Deus lhe pague. Espero seu voto"
Ximena Suarez, em mensagem na campanha ao prêmio "Valientes"

Ainda em manifestações recentes, Ximena mencionou a ideia de se mudar com os filhos para a Colômbia, em razão do afeto que disse ter desenvolvido sobre o povo local. A ex-funcionária da LaMia também afirmou que sonha em voltar a trabalhar como comissária de bordo. 

Ximena Suarez divulga lançamento de livro sobre tragédia com contatos do WhatsApp - Reprodução - Reprodução
Ximena Suarez divulga lançamento de livro sobre tragédia na Colômbia
Imagem: Reprodução

Além dos bolivianos Ximena e Erwin, três jogadores da Chapecoense (o lateral Alan Ruschel, o goleiro Jackson Follmann e o zagueiro Neto) sobrevieram à queda da aeronave da LaMia em Medellín, assim como o jornalista brasileiro Rafael Henzel.

O avião modelo Avro RJ 85 da companhia LaMia caiu na madrugada do dia 28 de novembro de 2016, quando se aproximava do aeroporto José María Córdova, em Medellín, procedente de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Ao todo a tragédia deixou 71 mortos, entre passageiros e tripulantes. Na oportunidade, a delegação da Chapecoense se dirigia à Colômbia para disputar a partida de ida da final da Copa Sul-Americana, contra o Atlético Nacional.

Confira abaixo matéria da agência AFP com Ximena Suarez: