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Gabriel Jesus perde espaço e vê "patinho feio" virar talismã de Guardiola

Lee Smith/Reuters
Imagem: Lee Smith/Reuters

Caio Carrieri

Colaboração para o UOL, em Manchester (ING)

02/12/2017 04h00

“Ele é o líder do campeonato 
Ele é o líder do campeonato 
Raheem Sterling, o líder do campeonato”

Esta é, disparada, a música mais ouvida nesta temporada nos jogos do Manchester City, classificado para as oitavas de final da Liga dos Campeões como primeiro do grupo com uma rodada de antecedência, líder absoluto do Campeonato Inglês, com oito pontos de vantagem para o segundo colocado, Manchester United, e detentor da melhor campanha da história da Premier League após 13 vitórias, apenas um empate, 44 gols marcados e só nove sofridos.

Protagonista da equipe com golaços, passes milimétricos e qualidade técnica encantadora, Kevin De Bruyne começa a dividir os holofotes com o “patinho feio” entre os jogadores de frente. No segundo ano sob o comando de Josep Guardiola, Raheem Sterling demonstra evolução considerável em termos de tomada de decisão e capacidade de definir uma partida a favor do City, o que tem tornado o atacante inglês de 22 anos o talismã intocável de Pep.

Enquanto isso, em outra posição do ataque, Gabriel Jesus começou a perder espaço desde que Sérgio Agüero, maior artilheiro da história dos citizens (180 gols), recuperou-se totalmente de fratura na costela, consequência de um acidente de carro, durante a folga, em Amsterdã (HOL), dias antes da vitória sobre o Chelsea por 1 a 0, em Stamford Bridge. O argentino virou baixa de última hora para o clássico em Londres, em 30 de setembro, quando o brasileiro participou da jogada do gol da vitória, de Kevin De Bruyne.

Àquela altura, Guardiola já havia tomado a decisão de utilizar Gabriel ou Agüero como centroavante, não mais a dupla na frente. A justificativa passa por questões táticas. De acordo com o treinador, o desfalque permanente pelo menos até abril do lateral-esquerdo Benjamin Mendy (ruptura do ligamento cruzado do joelho direito) impossibilita a escalação das duas referências de ataque, já que o substituto de Mendy, o volante improvisado Fabian Delph, não tem características de jogo com amplitude para abrir espaços pela esquerda. Assim, o alemão Leroy Sané, 21, ocupa uma ponta do ataque, Sterling a outra, e resta a posição de referência, que tem sido de Agüero.

Gabriel Jesus tem ficado no banco do Manchester City - Phil Noble/Reuters - Phil Noble/Reuters
Imagem: Phil Noble/Reuters

Na última partida, no triunfo suado sobre o Southampton (2 a 1), em Manchester, Gabriel Jesus só foi titular porque Sané passou a última quarta, dia do jogo, com febre.

Dos nove compromissos mais recentes do City, desde quando Guardiola voltou a utilizar Agüero pós-acidente, o ídolo máximo da história moderna do clube começou sete confrontos. Gabriel Jesus, por sua vez, iniciou apenas quatro e saiu do banco de reservas nas outras cinco.

A quantidade de minutos jogados também comprova que o ex-palmeirense, embora bastante elogiado pelo comandante, é bem menos utilizado do que os companheiros. Apesar de ser o que mais acumula jogos ao lado de De Bruyne (20), Jesus é o 11º no ranking de tempo jogado: 1.208 minutos. Agüero tem cinco atuações a menos (15), mas leva vantagem na duração em campo, com 1.212 minutos. Sterling supera ambos, com 1.373 minutos.

A superioridade do inglês também se dá em número de gols. É o artilheiro do time na temporada, com 13 bolas na rede, o melhor retrospecto individual na carreira, ainda com mais da metade da campanha pela frente. Agüero (11) e Jesus (10) vêm em seguida.

Raheem Sterling parece finalmente superar a pressão de ter trocado o Liverpool pelo Manchester City em julho de 2015, por 49 milhões de libras (R$ 215 milhões no câmbio atual). Nas duas campanhas anteriores, ele sofreu com oscilações, normal pela pouca idade, além de carregar o peso, mesmo ainda jovem, dos fracassos da seleção inglesa, eliminada pela irrelevante Islândia nas oitavas de final da Euro-2016 e última colocada no seu grupo Copa do Mundo no Brasil, em 2014.

“Quando o Arsenal quis ele (no que seria uma troca pelo Alexis Sánchez), na última janela, nós negamos veementemente porque acreditamos muito no futuro dele, pelo talento e o trabalho que tem mostrado”, explicou Guardiola.

Com o melhor desempenho pessoal, Sterling virou talismã do City ao marcar gols decisivos nos minutos derradeiros em pelo menos cinco partidas na atual jornada. Foi assim nos três últimos jogos, diante de Southampton (2 a 1, em casa), Huddersfield (2 a 1, fora, com participação de Gabriel Jesus) e Feyenoord (1 a 0, em Manchester), além do gol da vitória em agosto sobre o Bournemouth (2 a 1, como visitante), e o tento de empate no duelo anterior, com o Everton (1 a 1, no estádio Etihad).

“Não descobri o Raheem, porque ele já jogava muito bem no Liverpool. O crédito todo é dele, um jogador que passou a ser mais focado no futebol e deixou de perder tempo nas mídias sociais”, finalizou o técnico catalão.

Soberano na ponta da Premier League, o Manchester City recebe o West Ham no estádio Etihad, neste domingo. A equipe londrina vive má fase no torneio, tem apenas 10 pontos em 14 rodadas e ocupa a antepenúltima colocação, a primeira na zona de rebaixamento.