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J. Hawilla depõe com balão de oxigênio e diz ter pago propina a Teixeira

Hawilla, jornalista e dono da Traffic, em registro de 2010 - Letícia Moreira/Folhapress
Hawilla, jornalista e dono da Traffic, em registro de 2010 Imagem: Letícia Moreira/Folhapress

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Nova York (EUA)

04/12/2017 14h26

O ex-jornalista esportivo e presidente da Traffic Assessoria e Comunicações, J. Hawilla, foi chamado pelo governo dos Estados Unidos a depor no caso Fifa nesta segunda-feira, na Suprema Corte do Brooklyn. Acompanhando de duas intérpretes, porque não fala inglês, e usando um balão de oxigênio, Hawilla descreveu as atividades de sua empresa, que começaram com anúncio em pontos de ônibus, depois em estádios de futebol e, por fim, a negociação dos direitos de transmissão e anúncios em campeonatos como a Copa América e a Libertadores da América. 

Hawilla disse que pagava propina para Nicolas Leoz, ex-presidente da Conmebol, Julio Grondona, ex-presidente da Federação Argentina, morto em 2014, e Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, e ainda que foi sócio da empresa argentina TyC (Torneos y Competencias), responsável pelo pagamento de propina. Segundo ele, fora dos termos do contrato, a Torneos y Competências ficava responsável pelo pagamento das propinas, que apareciam nos balanços como "despesas". A primeira vez que ele pagou propina foi para o Leoz, em 1991, quando negociava os contratos das Copas América de 1993, 95 e 97. 

"Não lembro o valor total, mas foi entre US$ 400 mil e US$ 600 mil. Foi um erro. Eu não devia ter pago e me arrependo, mas se não pagasse eu poderia perder os direitos. Foi um erro porque abriu precedente para que toda vez que fôssemos assinar um contrato ele pedia dinheiro. Nos tornamos reféns. Se não pagasse, eles poderia dificultar a montagem das tabelas e os horários dos jogos. Quando se assina um contrato, não basta pagar. Tem que ter colaboração para agradar às TVs e aos patrocinadores", contou o brasileiro.

Cofrinho

Antes do início do depoimento de Hawilla, houve um debate inusitado entre a defesa de José Maria Marin, ex-presidente da CBF, os promotores e a juíza Pamela Chen. A defesa de Marin queria que uma gravação citada pelo procurador do Rio de Janeiro José Gomes Ribeiro Schettino, que depôs na última sexta dizendo ter armazenada uma conversa entre Kleber Leite, empresário e ex-presidente do Flamengo, e outro conspirador (provavelmente Hawilla) negociando propina.

Para evitar que entrasse nos autos, o advogado de Marin, Júlio Barbosa, disse que a gravação poderia não se referir aos documentos encontrados no cofre de Leite pois ele, nesta gravação, dizia ter os documentos guardados em um "cofrinho" e que, pela descrição do procurador, só poderia ser um "cofrão".

Após uma breve discussão sobre diminutivos e como os brasileiros os usam para ironizar ou esconder objetos que, na verdade, são grandes, a juíza resolveu aceitar a gravação como prova.

Outras acepções da palavra "cofrinho" não foram discutidas.