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Apoio de Prass e Zé Roberto, neve e CR7: Vitor Hugo conta vida na Itália

Carlos Rodrigues/Getty Images
Imagem: Carlos Rodrigues/Getty Images

Caio Carrieri

Colaboração para o UOL, em Manchester (ING)

05/12/2017 04h00

Janeiro de 2015. Oswaldo de Oliveira reúne o elenco do Palmeiras no vestiário da Academia de Futebol e fala nome por nome do plantel para a temporada. Ao terminar de conferir a relação, o técnico pergunta:

“Esqueci de alguém?”.

Um zagueiro recém-contratado do América-MG levanta a mão. “Eu, professor. Sou o Vitor Hugo”.

Em dois anos no Allianz Parque, o paranaense de Guaraci, a 364 km de Curitiba, passou de desconhecido e esquecido pelo treinador a campeão da Copa do Brasil-2015, do Brasileirão-2016 e posteriormente vendido por 8 milhões de euros. Na Fiorentina-ITA desde junho deste ano, o jogador de 26 anos tenta repetir a trajetória de sucesso.

Os meses iniciais de vida na Itália são recheados de descobertas, como a emoção ao ver neve pela primeira vez. Dentro de campo, Vitor Hugo já ficou frente a frente com Cristiano Ronaldo, no Troféu Santiago Bernabéu, em amistoso na casa do Real Madrid, em agosto. No entanto, ainda não teve tantas oportunidades como gostaria. Das 15 rodadas do Campeonato Italiano, que tem a liderança da Inter de Milão e a Fiorentina como sétima colocada, o ex-palmeirense atuou em apenas cinco, sendo só uma delas como titular, a partida da estreia – justamente contra a a equipe Nerazurri, que saiu do San Siro vitoriosa por 3 a 0.

Nesta entrevista ao UOL Esporte, Vitor Hugo conta, em detalhes e com o bom humor de sempre, como tem sido a experiência no futebol europeu. Confira!

O começo de vida na Itália

Estou na fase de adaptação ainda, não é fácil viver em uma cultura diferente, com outro idioma. O futebol também é muito diferente. Aqui eles só cobrem o espaço, buscam o desenho tático perfeito para a bola não chegar para o adversário, não tem marcação individual. Acredito que a parte pessoal está um pouco mais fácil. A cidade é belíssima, não tenho o que reclamar de Florença. A comida é muito boa, o pessoal é muito atencioso. O engraçado é que tem hora que o italiano fala com você e parece que está brigando, mas é só o jeito deles mesmo (risos). Eu já tinha feito aula de italiano em São Paulo e continuei quando cheguei aqui, então já consigo me virar.

A emoção ao ver neve

Esses dias, eu fui com a minha família a Abetone, uma cidadezinha perto de Florença, e vimos neve. Nunca tinha visto neve na minha vida. Não sabia nem como que era a textura. Foi uma experiência impressionante. Subimos lá no morro onde o pessoal começa a descer de esqui e não sabíamos o que fazer. Ríamos, olhávamos a paisagem, agradecíamos a Deus. Minha primeira reação foi fazer uma bolinha de neve e chutar para cima (risos). Tentei fazer um boneco de neve, daqueles de filme, mas não deu muito certo. Os da TV são grandões, o nosso não deu nem 30 cm de altura, fiquei constrangido (risos).  

Vitor Hugo na neve - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Vitor Hugo comemorou o fato de ver neve pela primeira vez na vida
Imagem: Arquivo pessoal

Saudades do Brasil

Sinto falta de tudo, dos meus familiares, dos amigos, da nossa terra, do nosso povo, da nossa língua, daquele arroz com feijão. Estou com saudades até da pizza de frango com catupiry (risos). Tem uma pizzaria que costumamos ir aqui perto de casa que os garçons já chamam a minha família pelo nome. A pizza de quatro queijos deles é muito boa, mas não se compara com a de frango com catupiry do Brasil.

Por que a Fiorentina?

A Fiorentina quis me contratar no meio do Brasileiro de 2016. Mandou uma proposta que seria muito boa para mim, para o Palmeiras, para eles, para todo mundo. Aí o Palmeiras não aceitou. Conversei com o presidente (Paulo Nobre na época), o Alexandre (Mattos), e eles pediram para eu ficar, para ajudar o Palmeiras a ser campeão e que depois as coisas iriam acontecer. Fiquei, conseguimos ser campeões e foi tudo lindo. E neste ano, bem antes da janela abrir, eles foram atrás de mim de novo e fechamos com a Fiorentina.

O motivo por jogar menos do que gostaria

Eles dizem que é adaptação e estou acreditando neles por enquanto. Está indo para seis meses que estou aqui e daqui a pouco vou ter de jogar. Aqui o elenco é muito bom, o jogador com quem disputo posição é o nosso capitão (Davide Astori).

O peso de ter sido contratado pelo técnico anterior

Isso eu não sei, já ouvi falar alguma coisa sobre isso, mas prefiro nem entrar nesse assunto para não causar um conflito desnecessário. Falei na época com o treinador anterior, Paulo Souza, um português que me incentivou bastante a vir porque eu ajudaria muito o time. Infelizmente ele saiu e entrou o Mr. (Stefano) Pioli. É um cara bom, converso direto com ele, que me dá muitas dicas, por isso que não tenho nada para reclamar dele.

Os conselhos de Fernando Prass e Zé Roberto

Vitor Hugo e Fernando Prass - Friedemann Vogel/Getty Images - Friedemann Vogel/Getty Images
Imagem: Friedemann Vogel/Getty Images

Como é a minha primeira experiência no futebol europeu, conversei com várias pessoas e jogadores experientes que passaram por situações parecidas fora do Brasil. Todos dizem que é normal o começo ser assim. Não é fácil. De um dia para o outro você passa de titular (no Palmeiras) a não jogar (na Fiorentina). É natural ficar meio para baixo. Recentemente falei com o Fernando Prass e com o Zé (Roberto). Eles disseram que os primeiros seis meses são os piores, e estou sentindo isso na pele.

Estreia no San Siro e duelo com Cristiano Ronaldo

Foi incrível, está louco (risos). Estádio animal, daqueles que eu jogava só no PlayStation 1 quando era moleque. Depois disso ainda teve o jogo contra o Real Madrid no Santiago Bernabéu (derrota por 2 a 1). Misericórdia! Que emoção, cara, coisa de louco. Joguei todo o segundo tempo, porque no intervalo trocou o time todo. Marquei o Cristiano Ronaldo, foi da hora. Falei com ele dentro de campo, dei umas chegadinhas nele também (risos). Não deu para conversar muito porque o jogo estava pegando. E o homem é bom, hein? Muito difícil de acompanhar porque ele muda de direção muito rápido. Deus olhou para ele e falou “Toma tudo isso aí!”. O cara já é rico e ainda joga demais. O resto deve ser produto de beleza (risos). E o que mais me impressionou nele foi a humildade, isso sendo o melhor do mundo. E não é só ele, viu? Conversei com o Marcelo e Casemiro. Fui parabenizá-los pela humildade que têm e ainda trocamos camisa. Foi da hora!

Por que não comemorará 1º gol com mortal

Fiz um sorteio no Facebook e no Instagram de uma camisa, e a ideia é que a torcida me desse dicas de comemorações inusitadas. O cara que ganhou falou para eu imitar uma viola. Não sei ainda se vou pegar a bandeirinha de escanteio ou se vou só fazer mimica mesmo. E essa sugestão é legal, porque lembra as minhas origens caipiras, o meu avô toca muita viola na minha cidade, e também tem relação com o apelido do clube, pela cor.

2017 frustrante do Palmeiras

Não sei explicar o que aconteceu, porque os jogadores têm muita qualidade. Acompanho o time sempre que dá, tenho amigos no clube, não só ex-companheiros. No começo estava mais difícil de assistir aos jogos, porque o fuso-horário era de cinco horas, então o jogo acabava muito tarde na madrugada. Nas últimas rodadas foi um pouco mais fácil, porque a diferença caiu para três horas. Fui muito feliz no Palmeiras e espero voltar um dia para dar ainda mais alegrias aos torcedores

Insinuação de Felipe Melo sobre Cuca destruir ambiente no clube

Não sei se é isso mesmo que o Felipe falou. Eu não estava mais lá, isso foi depois que eu saí. Não sei o que aconteceu no vestiário. Guardo o professor Cuca com muito carinho, porque me ajudou muito, com vários conselhos. Formou um time muito bom que conquistou aquilo que ele tinha prometido antes do campeonato começar, o que é impressionante.