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Ele vendeu doce por estudos. Em 2017, buscou Thiago Neves e ergueu Cruzeiro

Klauss Câmara foi o diretor responsável pela contratação de Thiago Neves - Cristiane Mattos/Light Press/Cruzeiro
Klauss Câmara foi o diretor responsável pela contratação de Thiago Neves Imagem: Cristiane Mattos/Light Press/Cruzeiro

Enrico Bruno e Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

05/12/2017 04h00

A história do jovem de origem humilde que precisou trabalhar duro para alcançar o sucesso no futebol é contada repetidas vezes para ilustrar a carreira de jogadores. Mas este roteiro foi adequado a uma peça dos bastidores do Cruzeiro de 2017.

Diretor de futebol durante a atual temporada por convite de Bruno Vicintin, Klauss Câmara teve de suar a camisa para alcançar o posto atual. Formado em Educação Física com foco em Gestão Esportiva e pós-graduado em Gestão e Marketing Esportivo, ele precisou vender brigadeiros para ajudar a pagar os estudos em Florianópolis. Anos mais tarde, montou o time que alcançou o pentacampeonato da Copa do Brasil.

“Eu estive perto de virar jogador de futebol, bati na trave. Joguei na base do Cruzeiro, joguei futsal, atuei no Atlético Pax de Minas, do Atlético. Fui profissional por um ano e tenho um gol na carreira”, contou ao UOL Esporte.

“Quando decidi estudar, procurei a área da gestão esportiva. Fui para Florianópolis, mas era uma faculdade particular. Meus pais ajudavam com o que podiam, mas não era suficiente. Meu tio me dava R$ 120 para me alimentar. Comprava 60 miojos para o mês, um para o almoço e outro para a janta. Não era suficiente para pagar a faculdade, aí eu comecei a vender brigadeiros. Minha avó teve restaurante durante 23 anos no interior de Minas Gerais e me ensinou a receita do brigadeiro. Eu já estava dando aula de futsal para ter desconto. Então tive a ideia de vender brigadeiros para as crianças e ajudar a pagar as contas. Saía todo dia com 72 brigadeiros e tinha que vender todos no ônibus, na faculdade, na cantina, nas escolas que eu dava aula. Todo mundo virou meu cliente”, acrescentou.

A dedicação nos estudos e no trabalho o transformou em diretor das divisões de base do Figueirense.  No clube, venceu a Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2008. No ano seguinte, foi responsável por montar o Atlético-PR que chegou à final do mesmo torneio. O sucesso no sul do Brasil levou Klauss para o Sudeste, onde trabalhou em Fluminense e Cruzeiro.

Diretores do Cruzeiro: Bruno Vicintin, Klauss Câmara e Tinga - Cristiane Mattos/Light Press/Cruzeiro - Cristiane Mattos/Light Press/Cruzeiro
Klauss (centro) foi promovido por Bruno Vicintin (à esq.)
Imagem: Cristiane Mattos/Light Press/Cruzeiro

Nas categorias inferiores da Raposa, Klauss recebeu um convite para assumir o elenco profissional em dezembro de 2016. Para alcançar este posto, ele tinha um desafio: contratar Thiago Neves.

“Foi uma negociação bem difícil, e fico feliz por ter sido eu a pessoa responsável por trazer a situação do Thiago, desenvolver as tratativas e concluir a negociação. Era um relacionamento que eu tinha lá atrás, já conhecia o representante dele. Já o Thiago, eu conheci quando ele era atleta no Fluminense em 2012. Trouxe essa situação, o Bruno (Vicintin) me deu aval e apoio para realizar a negociação e o Gilvan me deu essa missão. Foi difícil porque foi um diretor da base, até então, negociar o Thiago Neves lá nos Emirados Árabes. Eu praticamente passei o Reveillón dentro do avião. Se dá errado, eu carimbo o atestado de incompetente por não ter conseguido”, contou.

"Eu já fui com essa granada. Foi muito desafiador, envolvia minha carreira. Mas foi determinante ir lá, olhar olho no olho, apresentar o projeto, conversar com o Thiago, com a esposa, representante, e conseguir cravar a contratação do ídolo do Cruzeiro, que bateu o pênalti e colocou o Cruzeiro na Libertadores", declarou.

Mas não foi só a contratação de Thiago Neves que transformou Klauss Câmara em figura crucial para o ótimo ano do Cruzeiro. O dirigente ajudou também a conter a pressão sobre Mano Menezes no primeiro semestre.

A derrota para o arquirrival Atlético-MG na final do Mineiro e a eliminação precoce para o Nacional, do Paraguai, na fase inicial da Copa Sul-Americana, aumentaram as cobranças sobre diretoria e comissão técnica.

Klauss Câmara, diretor de futebol do Cruzeiro - Divulgação/Cruzeiro - Divulgação/Cruzeiro
Imagem: Divulgação/Cruzeiro

"Tivemos uma conversa que mudou os nossos rumos porque foi muito franca, de verdade, e de confiança e credibilidade dada a eles, independentemente das derrotas. A gente sabia que o momento iria chegar e que caberia a mim e ao Tinga segurar a onda nos momentos adversos para não deixá-los expostos. E nesses momentos fomos nós que demos entrevistas, que aparecemos, que recebemos a torcida para absorver, filtrar, conversar e falar", relatou.

"Esse momento foi o divisor de águas. Não que até aquele momento os jogadores não confiassem na diretoria, mas ali foi uma demonstração prática de tudo aquilo que estávamos construindo. Criou-se ali uma sinergia entre todos nós para unir forças e alcançar os objetivos", completou.

Mesmo com o extenso histórico de contribuição ao Cruzeiro em 2018, Klauss Câmara não seguirá em Belo Horizonte na próxima temporada. Por decisão de Itair Machado, futuro vice de futebol, e Wagner Pires de Sá, novo presidente, ele será substituído por Marcelo Djian.

A troca foi informada no fim de outubro, mas ele segue à frente do cargo até 31 de dezembro, quando se encerra a gestão de Gilvan de Pinho Tavares. Embora tivesse a intenção de permanecer na Toca da Raposa II, Klauss diz não ter ficado decepcionado com a mudança.

"Decepção é uma palavra muito forte, fica um gostinho de quero mais. A continuidade seria muito importante, assim como foi para a comissão técnica e jogadores. É fundamental para concluir o que você planeja no clube. Só tenho gratidão e satisfação de ter representado um clube como o Cruzeiro e ter conquistado muito aqui, algo perto de uns 30 títulos desde a base. É uma satisfação muito grande, é um sentimento mais de gratidão, decepcionado nunca", concluiu