Topo

Promotor vê formação de quadrilha entre funcionários do Flu e organizadas

Investigação aponta esquema fraudulento na venda de ingressos do Fluminense - Ricardo Borges/Folhapress
Investigação aponta esquema fraudulento na venda de ingressos do Fluminense Imagem: Ricardo Borges/Folhapress

Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

12/12/2017 04h00

A denúncia que resultou na prisão preventiva de dois funcionários do Fluminense aponta que Arthur Mahmoud Machado, assessor de imprensa do presidente Pedro Abad, e Filipe Ferreira Dias, gerente de operações de arenas do clube, agiam como uma associação criminosa.

Na visão do promotor Marcos Kac, a dupla se associou aos torcedores organizados Manoel de Oliveira Meneses, Luiz Carlos Torres Junior [Fial], Ricardo Alexandre Alves Gomes e Carlos Roberto de Almeida [Carlinhos] de "forma estável e permanente para o fim específico de cometer crimes", segundo trecho do documento obtido pelo UOL Esporte.

No relato enviado ao Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos, Kac afirma que "cada um dos integrantes atuava em tarefas específicas, perfeitamente identificadas e delineadas pelas diligências investigatórias". O promotor pede que todos sejam punidos com base no artigo 288 do Código Penal, que trata do crime de associação criminosa, e no artigo 41-G do Estatuto do Torcedor, cuja redação fala sobre fornecer, desviar ou facilitar a distribuição de ingressos para venda por preço superior ao estampado no bilhete. 

As investigações indicaram que o Fluminense passou a bancar 200 ingressos por jogo para as torcidas Young Flu, Fiel Tricolor e Força Flu. Atolado em dívidas que giram na casa de R$ 440 milhões, o Flu arcava com o valor desses tíquetes, que eram lançados nos relatórios financeiros dos jogos, cabendo ao Tricolor o pagamento dos mesmos e o recolhimento dos impostos devidos. Estas entradas eram revendidas por preços acima do valor real e resultavam em lucro ilícito.

Os bilhetes eram de meia-entrada e o Tricolor não exigia a comprovação legal exigida para que este benefício fosse concedido. Além da doação irregular de ingressos, o Fluminense pagou R$ 10 mil para o aluguel de dois ônibus que levaram integrantes das facções para a partida diante do Cruzeiro, em Belo Horizonte. As empresas de transporte foram indicadas pelas próprias torcidas, que receberam o sinal verde da diretoria tricolor. A linha era direta e o interlocutor dos torcedores era Carlinhos, posteriormente substituído por Fila no posto.

A detenção dos colaboradores parece ser apenas o primeiro passo de uma ação que pode chegar no gabinete da presidência. Em entrevista coletiva realizada na Cidade da Polícia, as autoridades responsáveis indicaram que pessoas da cúpula dos clubes poderão ser chamadas a depor e, eventualmente, também serem detidas por conivência com o crime de cambismo. A delegada Daniela Terra, titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), indicou que o presidente Pedro Abad foi conivente:

"Abad deixou claro que daria ingressos até o fim do Brasileiro. O Carlinhos (dirigente de organizada preso na operação) ganhou 200 ingressos que seriam distribuídos para as outras torcidas. A reunião que selou isso aconteceu com Abad e Arthur. São vários crimes e outros surgirão com as provas. Constatamos que há desvio de ingressos para organizadas que caem nas mãos dos cambistas. Os dirigentes continuam sendo investigados. Todos que têm relação direta com o crime de cambismo serão punidos", disse ela.

Em nota oficial, o Fluminense Football Club afirma que confia na correção dos seus funcionários Filipe Dias e Artur Mahmoud. Eles já prestaram todos os esclarecimentos quando chamados a depor como testemunhas. O clube considera as prisões desnecessárias e arbitrárias, e reafirma que vai seguir auxiliando nas investigações da Polícia Civil e do Ministério Público".