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Kardec se encanta com a China, mas não fecha portas para clubes brasileiros

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Imagem: Divulgação

Ana Carolina Silva

Do UOL, em São Paulo

16/12/2017 04h00

A escassez de opções para o ataque inflaciona o mercado e força muitos clubes a brigarem pelos mesmos nomes. Enquanto isso, com a mesma voz tranquila de sempre e curtindo o sossego de boas pescarias, Alan Kardec admite que ainda sonha com uma volta ao futebol brasileiro. Mas não se iluda: ele está muito feliz na China.

Já se passou um ano e meio desde que o atacante trocou o São Paulo pelo Chongqing Lifan. Foram 27 partidas no campeonato local em 2017, todas iniciadas como titular, e 10 gols. É bem verdade que o primeiro semestre não foi digno de sonhos para ele, mas a conclusão da temporada o deixou satisfeito.

Kardec - reprodução/Instagram - reprodução/Instagram
Imagem: reprodução/Instagram

Kardec é natural de Barra Mansa, no Rio de Janeiro, e faz jus ao nome da terra natal: você dificilmente vai pensar em um jogador com hábitos mais sossegados – ao lado da esposa, Celeste, e da pequena Maria, ele não ousa se arriscar sequer com aventuras gastronômicas na China.

Em entrevista ao UOL Esporte em setembro de 2016, ele confessou que chegou a comprar linguiça doce por engano. "Nunca me perdi, porque nunca sei onde estou", disse o jogador na ocasião. Mas, prestes a completar 29 anos em janeiro, ele sabe que o jeitão e a personalidade tranquila são suas garantias de portas abertas em qualquer equipe brasileira.

Isso inclui São Paulo e Palmeiras, que tanto brigaram para tê-lo no elenco em 2014. Em nova conversa com o UOL Esporte antes de embarcar para Nova York com a família, Alan Kardec preferiu não dizer onde mais gostaria de atuar, mas deixou o recado: seu contrato na China vai até o fim de 2018.

Leia as respostas separadas por assunto:

Temporada 2017

Foi uma temporada média. O primeiro semestre não foi como eu queria, mas depois comecei a me sentir da melhor forma e as coisas aconteceram naturalmente. Aí pude terminar a temporada fazendo gols e ajudando a equipe.

A vida na China

A princípio, sim, quero permanecer. Se tiver oportunidade de renovar, quero renovar. Eu costumo dizer que tenho que dar um passo de cada vez. Se tiver oportunidade de renovar, vou renovar. Se não, vou considerar as possibilidades para que possa continuar atuando em alto nível. Tenho portas abertas em vários clubes do Brasil, porque sempre respeitei todas as equipes.

Kardec na China - reprodução/Instagram - reprodução/Instagram
Imagem: reprodução/Instagram

Apesar de a China ser tão distante do Brasil, a cidade é maravilhosa [Chongqing tem mais de 30 milhões de habitantes, com população urbana de mais de 18 milhões] e me atende de todas as maneiras, é muito bom viver com segurança no dia a dia. Isso acaba te cativando.

Graças a Deus, nos supermercados nós conseguimos encontrar o básico da comida que estamos acostumados no Brasil. Para poder provar algo que seja diferente, tem que ser um momento oportuno, sem treino ou viagem. Porque se tiver que fazer mal, dá tempo do organismo se recuperar, né?

A comida é muito apimentada, então eu ainda prefiro não me arriscar muito. Eu costumo curtir com a família, viajar. Como estamos na Ásia, aproveitamos para conhecer um pouco da cultura de outros países. Gosto muito de ir a Singapura, Xangai, Hong Kong.

Futebol chinês

O que me conquistou [na China] foi o projeto de alto nível e a ambição. São muitos jogadores jovens com uma margem de evolução muito grande, e é muito bacana e gratificante ajudar no desenvolvimento desses meninos.

Eu acho que o futebol chinês está em um nível avançado. Muitos treinadores e jogadores de ponta estão nesse projeto. O nível de desenvolvimento está bem alto. O povo gosta muito, pelo menos na minha cidade.

O público no estádio está sempre em bom número, as pessoas pedem foto no dia a dia. Num país em que você tem uma população de mais ou menos 1 bilhão e meio, eles têm condição de desenvolver bem essa cultura futuramente.

Mandarim

Tá zero, tá zero. Não dá para entender o que eles falam. A partir do momento em que você se dedicar e correr atrás, vai acabar aprendendo. Mas eu não me esforcei ainda, até porque nós temos um intérprete muito bom e competente.

Descanso

Na verdade, está sendo mais cansativo que o dia a dia de trabalho. Nas férias, você acaba dormindo tarde para tentar aproveitar mais e fica mais cansado. Eu fico tentando resolver tudo ao mesmo tempo para aproveitar o tempo, é cansativo. Fico toda hora entre Barra Mansa, Rio, São Paulo... Não paro.

Kardec - Alexandre Schneider/Getty Images - Alexandre Schneider/Getty Images
Imagem: Alexandre Schneider/Getty Images

Torcida pelo São Paulo

Também. Tenho muitos amigos no São Paulo, fiz uma visita há algumas semanas. Torço principalmente para que o ano que vem seja melhor que esse ano que acabou agora.

Um time com a grandeza do São Paulo tem condição de brigar sempre por títulos e conquistas. Não pode ficar nessa situação e se contentar apenas com o que conseguiu evitar. Mas é complicado falar.

A lembrança deixada no Tricolor

É difícil dizer. Todo mundo esperava que pudessem vir títulos e atuações memoráveis, mas infelizmente tive uma lesão bem significativa no meio do percurso, então isso acabou me afastando da equipe quase que durante o ano inteiro. Foi um choque um pouquinho grande. Acredito que as pessoas até esperassem mais, mas procurei me dedicar ao máximo e sempre fiz o meu melhor.

O que faltou no Brasileiro de 2014

Não acho que nós tivéssemos que fazer algo diferente... A equipe batalhou e lutou muito. Mas o Cruzeiro teve uma boa margem de vantagem, como a que o Corinthians conseguiu esse ano. São coisas do futebol, fizemos o que foi possível.

Crise em volta de Carlos Miguel Aidar

É difícil dizer [o quanto atrapalhou o time], até porque ele não entrava em campo. Quem entra em campo são os jogadores. Não tenho como falar que diretamente tenha interferido, até porque os problemas pessoais acabam ficando para trás quando o time entra em campo.

Com os problemas políticos, não é diferente. Pelo menos, esse é o ideal. Essa interpretação sobre a crise vai muito da relação que as pessoas tentam fazer quando veem as coisas na imprensa, aí surge um tumulto generalizado.

Kardec Palmeiras - MARCOS BEZERRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - MARCOS BEZERRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: MARCOS BEZERRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Relação com o Palmeiras após o “chapéu”

Como atleta, sempre respeitei os clubes por onde passei. A provocação ficou por parte das outras pessoas que estavam envolvidas nisso. Sempre respeitei o Palmeiras, o São Paulo e todas as equipes por onde passei. Isso existe no futebol e é normal, não foi a primeira provocação feita entre os dois clubes e também não foi a última, mas procuro não me meter nisso.

Volta ao Brasil

Eu planejo, sim. Mesmo no momento em que eu fui para a China, já começava a pensar num futuro para que eu pudesse atuar em alto nível. No futebol nós não sabemos o que vai acontecer no dia de amanhã, ainda mais na China.

Acredito que eles gostem de mim pelo que pude fazer até agora, e eu também como pessoa acredito fazer parte desse projeto. Porém, no futuro quero deixar boas marcas nas próximas equipes, seja uma equipe na qual eu já atuei ou não.

Time dos sonhos

Na verdade, eu não gosto de citar nomes, até porque no Brasil existe uma rivalidade muito grande. Acho que a partir do momento em que você começa a falar o nome do time A ou B, acaba fechando algumas portas. No Brasil nós temos grandes equipes, capazes de desenvolver um grande projeto.