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"Não" na virada e multa: bastidores da troca de Seedorf-Diniz no Atlético

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

03/01/2018 11h36

Surpresa geral: para quem esperava por Seedorf, Fernando Diniz no comando do Atlético Paranaense. De quebra, revolta em Campinas com a saída do treinador do Guarani após um mês de trabalho e indicação de vários jogadores. Tudo em meio aos festejos de final de ano. No Atlético, guinada de 180 graus e, sem Seedorf ou manager, até mesmo a chegada de um CEO foi descartada.

O UOL Esporte foi procurar saber o que houve para o Atlético desistir de Seedorf às vésperas da reapresentação do elenco após ter vendido ao mercado toda uma concepção de futebol. E encontrou várias versões. A primeira delas: Seedorf recusou o convite pouco antes da virada do ano.

A despeito de Mario Celso Petraglia ter concedido entrevistas já em 2018 dizendo que ainda esperava por Seedorf, pessoas ligadas ao holandês e também ao técnico Fernando Diniz dizem que a retomada com o agora ex-bugrino se deu há quase uma semana. Há mais de um mês, Diniz esteve em Curitiba visitando o CT do Caju e ficou como opção para o comando técnico quando surgiu a chance com Seedorf.

O ex-jogador de Real Madrid e Milan queria aproveitar a chance de voltar ao Brasil, onde a esposa nasceu e ele jogou pelo Botafogo, para fazer deslanchar a carreira de técnico. Na análise do contrato enviado a Seedorf, o holandês viu muita distância entre o que imaginou ideal e o que o clube pretendia. “Dinheiro não era problema” foi uma das frases ouvidas. Seedorf seria um manager do futebol atleticano, sem cuidar apenas dos profissionais, mas ajudando na formação de toda a base do clube. “Um Alex Ferguson”, nas palavras de Petraglia.

Sem acerto com as minúcias, Petraglia foi se irritando e cogitou voltar a ideia de seguir com Fernando Diniz, que àquela altura já treinava o Guarani. Seedorf então teria avisado o Atlético de que não iria voltar a trabalhar no Brasil. Petraglia seguira firme no propósito de convencê-lo, mas nos bastidores a negativa vazou e ganhou as redes sociais. O presidente do Conselho Deliberativo não assumiu o fim da negociação, mas revelou já ter plano B.

Impacto em Campinas

Então Fernando Diniz avisou ao Guarani que deixaria o clube para “assumir um clube da Série A”. Palmeron Mendes Filho, presidente bugrino, só recebeu a informação nesta terça, dia 2. “Foi ontem às 16h”, contou em contato com a reportagem. O auxiliar-técnico Umberto Louzer é quem deve tocar o clube na A2 do Paulistão.

O Bugre receberá uma multa a ser paga por Diniz pela rescisão contratual, não revelada por conta de “contrato com confidencialidade”, nas palavras de Palmeron. Em Campinas, especula-se que a multa seja em torno de 30 mil reais, algo como o que seria o salário de Diniz. O presidente bugrino não quis comentar a procura atleticana: “Prefiro falar do Guarani”, encerrou.

Mudança de rota antes da largada

Sem Seedorf, o Atlético também não levará Marcelo Sant’Ana, ex-presidente do Bahia, para ser o CEO do clube. Petraglia irá ser “mais ativo” nas decisões no futebol e na gestão do Atlético, adiando a ideia “à europeia”. Mas não muito: o estilo de jogo “barcelonesco” de Diniz no Audax, com a versão brasileira do “tiki-taka”, foi uma das razões da procura pelo técnico. Para fechar o contrato, Diniz e Petraglia ficaram por horas debatendo o estilo de jogo dos catalães e até mesmo a formação de elencos enxutos com aproveitamento da base quando o calendário sobrecarrega, o que deve ser uma tendência do Atlético na temporada, a começar pela equipe de “aspirantes” (jogadores da base reforçados por um ou outro profissional) no Campeonato Paranaense.

O time seria comandado por Tiago Nunes, mas com as mudanças na estratégia planejada inicialmente, já não se sabe mais o quanto Diniz irá gerenciar também essa equipe. Os profissionais só deverão entrar em campo pela Copa do Brasil. Até lá, o Atlético buscará alternativa para manter os jogadores em atividade, um problema já reclamado pelos atletas em anos anteriores.

Seedorf ainda falará oficialmente

Seedorf, por sua vez, deverá emitir uma posição oficial agradecendo o convite e detalhando sua recusa nas próximas horas. O agora treinador seguirá na Europa, mas seu staff avaliou como “positiva” a repercussão de um convite de um clube da Série A brasileira. Os agentes de Seedorf foram procurados, mas só irão se pronunciar futuramente. Entretanto, garantiram que não ficou nenhuma rusga com o clube, com quem ainda mantém laços comerciais, uma vez que fazem a gestão da carreira do lateral-esquerdo Sidcley, entre outros casos.