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Rei das escapadas jogou bêbado e com apoio do técnico. E ainda fez gol

Houseman disputou quase 300 jogos pelo Huracán - Fabio Teixeira/Folhapress
Houseman disputou quase 300 jogos pelo Huracán Imagem: Fabio Teixeira/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

07/01/2018 04h00

Não faltam histórias de jogadores de futebol festeiros, que trocam horas de descanso por bebida e curtição, mas talvez poucos tenham abusado tanto quanto René Houseman, apelidado não à toa de “Loco”. O atacante argentino que defendeu times como River Plate, Independiente e Huracán conseguia até liberação do técnico para deixar a concentração na véspera de partidas importantes.

Em junho de 1975, Loco Houseman se superou. Trocou uma noite inteira de sono por uísque e vinho, chegou bêbado ao hotel, bateu o carro e ainda sob o efeito do álcool disputou um jogo importante pelo Huracán contra o River. E por mais incrível que pareça, ainda fez um golaço e deixou o campo ovacionado.

A aventura mais louca de Houseman foi no dia 22 de junho. Na véspera do duelo diante do River, ele disse ao técnico brasileiro Delém que precisava sair da concentração para festejar o aniversário de um ano de seu filho. O treinador concordou e avisou: o atacante tinha que voltar até as 22h.

Naquela época, as saídas de Houseman eram tão frequentes que um funcionário do Huracán tinha como uma de suas funções buscar o jogador em festas no horário combinado. Desta vez, no entanto, dois companheiros de time ficaram com a missão de levar o atacante de volta à concentração.

No horário combinado, a dupla encontrou Houseman, mas este pediu para seguir na festa do filho até 1h e foi atendido. O problema é que ele deu um “jeitinho” também no novo horário marcado.

“À 1h em ponto eles vieram me buscar novamente e fui com eles, mas no caminho avisei que tinha deixado as chaves do meu carro em casa. Falei para eles ficarem tranquilos que eu iria sozinho para a concentração. E voltei sozinho, mas às 11h da manhã, totalmente bêbado”, contou Houseman.

O atacante estava tão alterado que bateu o carro assim que chegou no estacionamento do hotel, sem gravidade. Começou, então, um esquema especial para deixá-lo em condições mínimas de entrar em campo.

Após inúmeras duchas frias e xícaras de café a poucas horas do jogo, o técnico Delém perguntou a Houseman se ele estava bem para entrar em campo. “Claro que sim. Eu jogo até se for com uma perna só”, respondeu o atacante, animado em enfrentar o River Plate, que liderava o campeonato àquela altura.

Os relatos da época descrevem que Houseman pouco fez durante boa parte do jogo. Ele era sinônimo de pouca movimentação e falta de concentração. Mas no fim do segundo tempo, o atacante fez algo que nem seus companheiros imaginavam mais: recebeu uma bola, driblou o famoso goleiro Fillol e fez 1 a 0 para o Huracán.

Na comemoração, ficou deitado no gramado dando risada. Logo depois de levantar, ele ainda sinalizou que havia se machucado e foi substituído, sendo ovacionado ao deixar o campo. O roteiro só não foi melhor porque o River ainda conseguiu o empate a dois minutos do apito final.

Mas Houseman deixou sua marca, mesmo depois da epopeia da noite anterior. “A gente costumava liberá-lo para sair. Ele costumava ir com outros jogadores e um cuidava do outro, o elenco era maduro. Além disso, Houseman sempre deu conta do recado nos jogos”, justificou Delém ao descrever o atacante. E por mais que ninguém acreditasse, ele fez sua parte também naquele jogo de 1975.