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Irmão de Carlos Alberto, Fernando superou AVCs e virou auxiliar técnico

Fernando em ação durante treino do Bonsucesso - Sérgio Júnior/La Marca Comunicação
Fernando em ação durante treino do Bonsucesso Imagem: Sérgio Júnior/La Marca Comunicação

Lucas Pastore

Do UOL, em São Paulo

10/01/2018 04h00

Após sofrer sete AVCs e deixar a carreira de jogador profissional, Fernando está de volta ao futebol. Com curso de coaching concluído e fazendo faculdade de educação física, o ex-volante trabalha como auxiliar técnico do Bonsucesso, que nesta quarta-feira (10) recebe a Cabofriense pela fase preliminar do Campeonato Carioca.

A carreira de Fernando como volante foi de 2005 a 2016. Revelado pelo Fluminense, o ex-meio-campista passou ainda por clubes como São Paulo, Flamengo e Goiás. Em 2015, defendeu as cores do Bonsucesso. Até que, há dois anos, problemas de saúde começaram a mudar sua vida.

Depois de uma série de sete AVCs que por sorte não deixaram sequelas, Fernando foi obrigado a deixar os campos. A princípio, pensou em trocar de meio e fazer faculdade de administração. Mas a paixão pelo futebol falou mais alto, e o ex-meio-campista deu um jeito de voltar para o meio.

“Na verdade, é um estilo de vida o futebol. Sempre busco nisso um estímulo. É uma alegria pura trabalhar e viver o futebol. O dia a dia é muito bacana. É uma terapia para mim. Às vezes, mesmo cansado encontro motivação para ir para a faculdade e estudar”, disse Fernando, ao UOL Esporte.

Fernando voltou ao futebol como auxiliar de Marcelo Salles, técnico contratado pelo Bonsucesso em outubro. Sob o comando da dupla, foram duas vitórias e uma derrota e a vice-liderança da fase preliminar do Carioca, que tem seis times – os dois primeiros se classificam para a elite do estadual, enquanto os outros quatro disputarão o quadrangular do descenso.

“Estou gostando bastante. É um aprendizado enorme. Do outro lado, fica um pouco mais complicado. A bola está de um lado, você tem que olhar para o outro, para ver se a defesa está arrumada, se está todo mundo posicionado”, comparou.

Em sua primeira campanha como auxiliar, Fernando se planeja para investir na nova carreira. O ex-volante faz faculdade de educação física e já pensa em se inscrever nos cursos para treinadores da Confederação Brasileira de Futebol. Além disso, o ex-jogador fez curso de coaching, experiência que o ajudou a se encontrar na profissão.

Aliada na volta aos campos

Fernando ao lado da coach Nell Salgado - Luiz Mello/Divulgação - Luiz Mello/Divulgação
Imagem: Luiz Mello/Divulgação

Coach de atletas desde 2010, quando trabalhou com o volante Williams, Nell Salgado foi parte importante do retorno de Fernando ao futebol. O dois se conheceram há três anos, e o que começou como relação profissional acabou se transformando em amizade.

"Fui chamada para trabalhar em 2015 no Bonsucesso. Conheci o Fernando lá. A gente ficou amigo. Quando ele sofreu o primeiro AVC, me ligou. Foi um processo difícil. Como eu sabia que ele ia parar, perguntei se ele não queria trabalhar comigo. E ele fez meu curso", disse Nell, ao UOL Esporte.

Foi Nell, que trabalha também com Rafaela Silva, quem aconselhou Fernando a ficar no futebol.

"Graças a Deus ele não ficou com sequela, mas no início teve reações desagradáveis. Nessa hora, você vê quem está do seu lado. A vida no futebol é oba oba, mas você só vê quem é quem nessa hora. Foi um momento difícil, ele ficou mal. É um processo de se reinventar. Ele estando próximo do futebol foi alvo que levantou o astral", afirmou.

O curso de Nell foi o ponto de partida para Fernando na carreira de auxiliar técnico. Marcelo Salles, treinador do Bonsucesso, também fez parte de seus alunos.

"Você pode aplicar no grupo. Sempre aprendo com as ferramentas dela. Cada ser humano tem um jeito. Te ajuda a buscar o melhor de cada um. Tem quem lida bem com a pressão, e quem precisa ser estimulado de outro jeito. Tem quem não lida bem com cobrança. Tem que saber buscar o melhor de cada um", explicou o ex-volante.

Pilares da nova carreira

Fernando em ação durante treino do Bonsucesso - Divulgação/Bonsucesso - Divulgação/Bonsucesso
Imagem: Divulgação/Bonsucesso

Ainda com poucos meses de trabalho como auxiliar, Fernando já começa a traçar seu perfil como treinador por meio de dois pilares: a parceria e a recuperação de jogadores.

"Sempre fui muito brincalhão. Quando joguei aqui, tinha uma postura profissional, mas com liberdade. Hoje, brinco com um pouco mais de responsabilidade. Coisas que os jogadores não têm liberdade para falar com o treinador eles falam comigo", confidenciou.

Quando questionado sobre os técnicos que considera referências, Fernando falou sobre Fábio Carille, atual campeão brasileiro com o Corinthians. Para o ex-volante, o modo com que o treinador investe em seus jogadores é sua principal virtude.

"Gosto de ver muito o Carille, que tem o mesmo estilo do Tite. Não gosta de perder jogador. Muito bacana. Foi campeão, passou de interino para técnico principal. Logo no primeiro ano, conseguiu dos títulos. O Zé Ricardo, também, nos dois primeiros trabalhos conseguiu vaga para a Libertadores. É uma motivação extra para dar sequência na carreira", declarou.