Topo

Campeão por Santos e Roma, novo técnico quer decolar no Paraná "à europeia"

Julio Sérgio nos tempos de Santos: do gol para a casamata dos técnicos no Paraná - José Patrício/folha Imagem
Julio Sérgio nos tempos de Santos: do gol para a casamata dos técnicos no Paraná Imagem: José Patrício/folha Imagem

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

19/01/2018 04h00

Bicampeão brasileiro em 2002 e 04 pelo Santos e da Copa Itália entre 2006 e 08 pela Roma, Julio Sérgio, 39 anos, agora tenta decolar na carreira como técnico no Paraná. O ex-goleiro assumiu o Prudentópolis, da cidade homônima – onde começou Alex Muralha, do Flamengo – e vai ter pela frente, logo na estreia, o Coritiba, atual campeão do Paranaense, seu segundo estadual de elite na carreira e o mais forte até aqui.

Depois de deixar a Roma no final de 2013, Julio Sérgio encerrou a carreira no Comercial de Ribeirão Preto, sua cidade natal. Enquanto atleta, fez cursos de técnico da UEFA e já projetava a carreira. Trabalhou no interior de São Paulo, na Francana, Sertãozinho e Olímpia, e passou também pelo CRAC de Catalão, pelo qual jogou o Goiano da 1ª divisão.

Ainda circulando em clubes pequenos, Julio Sérgio crê encurtar a distância entre o comportamento de atletas profissionais na Europa e no Brasil, citou Tite e Renato Gaúcho como modelos e pediu por mais troca de conhecimentos entre quem forma atletas no Brasil: “Vai facilitar muito, por que tem atleta que chega ao profissional e tem deficiências técnicas que não deveriam existir”.

Ele conversou com o UOL Esporte.

De Roma à Prudentópolis

Julio Roma - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Julio Sérgio pela Roma
Imagem: Arquivo pessoal

Após anos na capital italiana, Julio Sérgio voltou ao Brasil para começar a carreira de técnico. Da badalada Roma à pequena Prudentópolis, a principal diferença está no comportamento dos atletas. “A questão cultural, sócio econômica, envolve tudo. Mas o jogador brasileiro, de quando eu comecei a jogar até hoje, evoluiu muito. Não tem mais o boleirão antigo, os jogadores estão mais profissionais, interessados. Para você dar um treino, você tem que explicar por que está dando esse treino”, conta, para apontar: “Mas ainda existem coisas, como um rodízio quando você disputa a Libertadores e o Paulista, que ainda choca. São coisas que deveriam ser assimiladas, entendidas. Não é questão de preferência ou não, mas sim de poupar um jogador, ter uma outra opção para um jogo específico.”

Essa gestão do elenco é uma das barreiras que conflitam com a mentalidade de anos na Europa. “São coisas simples, que vão acontecer naturalmente. Muitos já tem feito com sucesso, como o Renato Gaúcho que fez isso e foi campeão da Libertadores”, prevê, tratando de outro tema: “Em relação à intensidade de treino isso ainda tem muito. Eu não posso falar de Série A e B, por que não trabalhei, mas nos times que eu trabalho ainda existe essa dificuldade em relação a intensidade. A gente tem que colocar na cabeça do jogador que, se ele treina 80%, ele pode até jogar 100%, mas lá na frente o corpo dele vai reclamar. Você tem que treinar 100%. Hoje os treinos são programados, com cargas específicas, e você tem que ir 100% para poder ir assim ao longo do ano, até por que, com a carga de jogos que você tem, você tem que treinar para isso.”

Julio Prude - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Durante treinamento com o Prudentópolis
Imagem: Arquivo pessoal

Projeto prevê formação e vaga na C brasileira

Julio Sérgio foi contratado com dois objetivos: manter o time na elite estadual e tentar uma vaga na C brasileira. O Prudentópolis irá disputar a Série D em 2018, após ser o segundo melhor time do interior paranaense sem ter vaga nacional (Londrina e Operário estão nas Séries B e C, respectivamente. “É uma estrutura enxuta, nós temos um presidente que cumpre os compromissos rigorosamente em dia, temos poucos funcionários. Mas as coisas funcionam, são organizados. Estrutura pequena, mas muito funcional. Tem o necessário para trabalhar com tranquilidade. É uma cidade pequena, acolhedora, em torno de 40 mil habitantes”

Outro plano é o de revelar atletas. “Um projeto ambicioso, mas feito com calma, por que o custo é alto. A gente tem que melhorar muito a formação do atleta, lá embaixo, questão tática, conceitos, para que volte a dominar o futebol mundial. Acho que o Tite tem feito um trabalho que serve de exemplo para todos nós. Ainda falta muita troca de informação entre os treinadores no Brasil. A gente tem que trocar informação, conhecimento, tem que ter um princípio do que tem que ser feito, e depois cada um põe as suas particularidades nisso. A partir do momento em que isso for introduzido na base, vai facilitar muito, por que tem atleta que chega ao profissional e tem deficiências técnicas que não deveriam existir.”

Início é contra o campeão Coritiba

O primeiro desafio de Julio Sérgio é neste domingo, 17h, no Couto Pereira, contra o atual campeão, Coritiba. “É sempre bom jogar contra time bom. O Coritiba teve alguns percalços, acabou rebaixado, mas é mito favorito para essa estreia. A gente vai tentar surpreender de alguma maneira. É uma oportunidade muito grande para todos nós aqui no Prudentópolis, o jogo da televisão. Uma estreia difícil, mas vamos tentar fazer bem, por que pode nos dar muita confiança para a sequência.”

Além do Coxa, o Prude de Julio Sérgio irá medir forças contra duas equipes da Série A – Atlético-PR e Paraná Clube e uma da B, o Londrina (o Operário está na segunda divisão local). “Um campeonato muito difícil, você joga contra grandes equipes. São torneios, você joga 10, 11 jogos, e tem que diminuir a margem de erro ao máximo para obter resultados. A gente trouxe alguns jogadores experientes, que vieram do interior de São Paulo, para atingir um nível competitivo, se manter na primeira e depois partir bem para a Série D.”